terça-feira, 2 de abril de 2013

Por que as classes dominantes têm tanto medo da Educação?




         O descaso dos governantes para com a Educação pública de qualidade reflete o desejo e imposição dos seus financiadores de campanha; logo, são as classes dominantes, controladoras do poder econômico, as interessadas no estado geral de ignorância da população.

         Depois das eleições, em todos os níveis de governo, os vencedores divulgam o elenco das suas prioridades e falam em urgência e emergência com isto e com aquilo.  Mas não abordam a questão do ensino público.  Se este estivesse bem, justificaria deixar de lado a sua abordagem. Mas ninguém desconhece o quanto está falho o sistema, desde a observação nas ruas do número de pessoas desprovidas dos conhecimentos básicos, nas conversas informais, ou nas comunicações mais elementares.  Fica evidente a ocorrência do analfabetismo absoluto e o funcional, tanto por pessoas que não frequentam escolas, como pelas que frequentam.  Nota-se a dificuldade, ou mesmo incapacidade,  para escreverem um simples bilhete, lerem um pequeno texto de jornal, ou realizar uma elementar conta de aritmética.

         Se tentarmos abordar assuntos relativos a conhecimentos históricos, ou de cultura geral, o resultado é pior.  Tantas pessoas ainda estão escrevendo o verbo haver no sentido de tempo passado com um simples a, sem o indispensável  h, o que nos leva a concluir que nem sabem o seja  conjugação do verbo haver.  Será que sabem o que é verbo haver  ?   Por falar neste verbo, tantos outros flexionam no plural, no sentido de existir.  “Haviam várias pessoas”, quando ele é impessoal.

         A falta do hábito de leitura está presente em todo lugar, na maioria das pessoas com que conversamos. 

         Não podemos culpar as pessoas, individualmente, por essas questões. A sociedade é condicionada e influenciada pelas normas de conduta de um segmento social, entendido de certa maneira abstrata, como elites.  Quase que inconscientemente, as classes de posições sociais de menor projeção, tentam imitar, ou querer  imitar esses grupos.  E daí incorrem  em desvios de conduta, porque, nem sempre aquele proceder merece ser imitado, não passa valores que qualifiquem positivamente a imagem de uma sociedade evoluída.  Pelo contrário, muitas vezes, por desfrutarem de privilégios de impunidade diante das autoridades, abusam de sua posição e distorcem os exemplos de ética e correção.  Como privilegiados, têm ascendência sobre os detentores dos poderes formais.

         E aí, onde entram as considerações sobre educação pública?

         Começam pelo primado de aprender a ler e escrever, que abre as portas para alcançar conhecimentos maiores, muito além do cordão umbilical, da sua paróquia, sobre civilizações, a natureza, filosofias, crenças, até se despertar para a existência universal, além e aquém da nossa vida limitada a uns poucos anos de existência.  É o caminho para a liberdade individual e o entendimento dos limites e direitos entre uns e outros. E cada um ganhar consciência de si mesmo, das suas potencialidades, dos seus valores, base do amor-próprio.

         Essa evolução da sociedade como um todo, a partir da afirmação de personalidade de cada um, depende da educação de qualidade, oferecida pelas escolas públicas, ao alcance de todos para todos os graus na escalada do currículo escolar.

         Esses governos, formados pelo financiamento do capital privado, tornam-se servis dos donos do dinheiro, interessados em manter a população desnorteada, desconhecedora dos meandros e dos labirintos onde são tramados os programas, os fins e a forma de governar.

         Por essa falta de informação, que começaria nas escolas, o povo não sabe como são decididas as convenções partidárias, a imposição de vontade dos grupos mais poderosos economicamente sobre os demais interessados a participar do jogo de poder formal.   Estes, interessados a levar sua fatia na distribuição dos recursos públicos, aceitam as imposições de quem tem mais trunfos. 

         Se a população soubesse o que seja renda per capita, teria noção do que seja concentração de renda, compreenderia que todos produzem para formar o Produto Interno Bruto, que, dividido pelo número dos habitantes (os produtores)  resulta naquela renda individual.  E que essa não chega a quem produziu por mérito. Pelo contrário, fica na posse dos “donos da roleta”, os donos do capital, financiadores de campanha. 

         Se a população compreendesse que o Produto Interno Bruto corresponde à soma das riquezas geradas pelo povo de um município, um estado e do país, entenderia que cada um é agente desse processo produtivo, mesmo os bebês no consumo do leite e da frauda, e os aposentados e enfermos no consumo da alimentação e medicamentos.  Com esse entendimento, poderia fazer as contas, e ver que, se a cada um for destinada a metade do que produz, sobraria outra metade para manter as máquinas públicas dos municípios, dos estados e da União.

         Com esses conhecimentos fornecidos pela escola pública de qualidade, todos compreenderiam que os 10% mais ricos ficam com 75% de toda a produção. Poderia fazer uma comparação prática para entender que é o mesmo que 10 pães produzidos por 10 pessoas, uma só fica com 7,5(sete e meio) pães;  e que restam apenas 2,5(dois e meio) para dividir por 9 pessoas.

         Com essa compreensão, ninguém venderia voto, porque saberia o quanto sai caro para a própria pessoa.  Um voto vale quatro ou oito anos.  O que lhe dão como paga talvez seja uma cesta básica, ou uma nota de 50 reais.  Seja lá o que for!  Não resolve o problema de ninguém, pelo contrário, prorroga, aduba, rega o problema que eterniza a dependência para, nas eleições seguintes, a pessoa estar precisando outra vez de uma “ajuda”. 

         Se as escolas públicas dessem esse suporte de conhecimento à massa trabalhadora, ela compreenderia porque ganha tão pouco por suas oito horas diárias de labuta, e tanta gente que não faz nada vive nadando em dinheiro.

         Assim, os governantes, servis aos financiadores de campanha, dão nenhum valor aos professores, à qualidade do ensino, à educação e à cultura.    Preferem construir caras penitenciárias com obras superfaturadas, do que construir salas de aula e equipar adequadamente cada estabelecimento de ensino.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)


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