No
momento em que os maiores problemas da educação se encontram no modelo de
aprendizagem e na remuneração dos professores, anúncios de reforma de prédios e
aumento de vagas soam como uma forma de desviar a atenção das verdadeiras
causas.
A
rede municipal de ensino tem que ser a primeira a puxar o carro da melhoria
nessa pasta, porque professores, pais e alunos se conhecem, e cada um vê mais
de perto a situação dos outros. Mestres que vêem estudantes desatentos, têm
como analisar problemas de saúde e situação social como prováveis causas do seu
baixo rendimento. Pais que sabem onde moram e como vivem os educadores, por seu
lado, podem entender suas questões pessoais que influem no relacionamento
dentro da sala de aula.
Há
uma tendência natural na juventude de se rebelar e até hostilizar tudo o que
lhe parece limitar os impulsos de ação.
Essa tendência se revela dentro de casa, com os próprios pais, e na
escola diante dos professores. É a autoafirmação que se manifesta, quando o
indivíduo entra na transição para a vida adulta, e anseia por agir por conta
própria. Tudo o que lhe pareça limitar, ou disciplinar suas atitudes soam-lhe
como hostilidades, repressão, que precisam ser enfrentadas, revidadas. E se manifestam em forma de rebeldia contra
os pais e contra os professores.
É
a fase mais delicada na formação das pessoas, no momento em que precisam saber
que existem limites. Mas os princípios
do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – interpreta qualquer correção
como constrangimento ao jovem. Coloca
pais e professores sujeitos a responder a processos, enquanto beneficia os
menores com a impunidade.
A
indisciplina encontra ambiente favorável no interior dos lares e nas salas de
aula. Os que atingem a idade adulta com essa corda toda, mal acostumados, dificilmente
se autodisciplinam por ditames de
consciência. O seu conceito do certo e
do errado já está deturpado, corrompido.
Quanto
mais avançamos no tempo, mais percebemos a dissolução dos lares por causas
diversas, mas com predominância por questões sociais, porque a remuneração do
trabalho é insuficiente para as despesas básicas das família. De início, marido
e mulher têm que trabalhar fora. E os
filhos são criados ao abandono dos pais, porque a sua companhia somente
acontece no fim do dia, quando ambos se acham exaustos pela luta de fora, sem
condições psicológicas e emocionais para dar carinho e conforto aos
filhos. Essa separação por longas horas
deixa as crianças desorientadas para crescerem dentro dos princípios que os
fariam cidadãos responsáveis e de comportamento conveniente.
Esse
quadro requer que o sistema de educação pública mude de padrão. A escola de
meio expediente está superada há muito tempo. Não tem condição de preparar
essas crianças sem pai e sem mãe para a vida de uma sociedade sadia. A
necessidade de creches aconteceu por causa das mães precisarem trabalhar
fora. Mas o tempo que essas instituições
zelam pelas crianças termina quando os meninos e meninas atingem seis anos de
idade, ocasião em que deverão entrar para o ensino fundamental.
Aí
é o ponto crucial do sistema de ensino público. Os prefeitos e governadores
deixam de enfrentar a realidade educacional conforme os tempos exigem. Não há outra saída fora das escolas de tempo
integral. Ao invés de assumirem essa
responsabilidade, criam sofismas, ao alardearem reformas e até construção novos prédios escolares, como se
passassem para o povo que teriam descoberto a galinha dos ovos de ouro. Falam
em condução para estudantes e outras formas de se esquivaram da obrigação do
principal.
O
principal implica no abrigo das crianças e adolescentes em ambiente escolar,
com estrutura completa de alimentação, higiene, aprendizagem, cultura, lazer
sadio, sob teto onde se sintam protegidos e amados. Junto a isto, está ligada a situação dos
professores em todos os sentidos. Eles
também precisam se sentir protegidos para proteger, com segurança econômica
para a própria sobrevivência e a de suas famílias. A segurança no trabalho, sem
as ameaças de perseguições políticas e administrativas. Os agentes da educação têm de ser selecionados
com critérios básicos de conhecimento técnico para suas funções, incluída em
suas capacitações a vocação profissional. Quem trabalha com aquilo de que
goste, realiza com prazer suas tarefas e apresenta rendimento satisfatório de
acordo com as necessidades para a quais é contratado.
Os
administradores públicos que falam em educação e, ao mesmo tempo, relutam em
pagar o piso profissional ao magistério, estão falseando, não podem ser levados
a sério. Esse piso salarial é irrisório por
si mesmo, que mal chega a 60% do salário mínimo constitucional, necessário para
uma vida com o básico: moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social". Esta cláusula também garante reajustes periódicos a
fim de preservar o poder aquisitivo do trabalhador.
Esse mínimo deveria ser de R$
2.743,69.
Na rede
municipal de ensino, é difícil pensar que um professor, ou professora, receba
aquele piso salarial de R$ 1.567,00, 57,11% do mínimo constitucional. Na rede estadual também. Prefeito e Governador
sempre alegam impossibilidade financeira.
Mas não há impossibilidade financeira para os estratosféricos
rendimentos de Governador, Prefeito, deputados, vereadores e os demais
privilegiados da máquina administrativa.
Os impostos são elevadíssimos, os fundos de participação de estados e
municípios vêm de toda fonte.
Falta
sinceridade desses administradores. Para
merecerem a confiança do povo, teriam de dar transparência ao movimento financeiro
do estado e dos municípios: mostrar folha de pagamento; o que gastam; com que
gastam; como gastam. Tudo é feito a sete
chaves. Não raro há rejeição de contas
de um chefe de executivo, por um Tribunal específico, e um poder legislativo –
que deveria fiscalizar o executivo – anula a rejeição e aprova o que está
rejeitado comprovadamente.
Voltando
à situação dos alunos. Com os pais fora de casa o dia inteiro; com o
crescimento dos lares desfeitos; e as crianças “ao deus dará”, um sistema
educacional sério, digno, eficiente somente pode acontecer com as Escolas de
Tempo Integral, com professores valorizados, e em constante aprimoramento. Ensinando e aprendendo sempre,
atualizando-se, evoluindo.
Fora
disto, tudo são falácias daqueles que usam o poder para beneficiarem-se a si
mesmos, aos seus familiares e aos seus amigos, sugando dos órgãos públicos o
suor e o sacrifício dos contribuintes.
(Franklin Netto –
viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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