quarta-feira, 27 de março de 2013

Precisamos falar de Esquerda e Direita


                                      


      As classes dominantes procuram impor ao povo a ideia de que não existe mais o conceito político de Esquerda e Direita.  Isto é uma forma maldosa de desestimular o debate em torno das injustiças sociais.  Enquanto houver exploradores e explorados, há os princípios que acamparam essas denominações, com evolução da semântica, para facilitar uma compreensão das atividades em torno desses campos de luta em busca da valorização do trabalho, como forma de proporcionar à maioria da população acesso aos bens de ascensão social no que se possa entender como o que se aproxime mais da justiça. 

         “A origem dos termos remonta à Revolução Francesa, onde os membros do Terceiro Estado, que almejavam uma mudança na forma de governo vigente, se sentavam à esquerda da assembléia, enquanto os do clero e da nobreza, que desejavam a conservação da forma de governo, se sentavam à direita”(pt.wikiedia.org).

         Assim, generalizou-se a identificação de Esquerda com mudanças na direção dos interesses populares; e Direita como conservadores a deixar tudo como está.

         Esse entendimento ficou mais acentuado no Terceiro Mundo, onde as diferenças de classe são mais acentuadas, dentro do processo histórico da colonização que fazia os grandes proprietários de terra e demais bens imóveis exploradores da força do trabalho,  muitas vezes escravo, outras vezes mal remunerado, a gerar riquezas sempre concentradas nas mãos dos latifundiários.  Ter muita terra simbolizava, como ainda simboliza, ter grande poder econômico e, consequentemente, maior poder político.  O poder econômico alastra-se ao sistema financeiro e faz os possuidores de grande capital terem  controle sobre a vida de todas as pessoas.

         A Esquerda evoluiu na história em busca do equilíbrio entre o capital e o trabalho, o que  vem gerando conflitos de classes.  Os capitalistas se unem em grupos para se imporem às demais classes, com o poder econômico fortalecido com essa união.  Dispondo do dinheiro, criam empresas de comunicação como aliadas e porta-vozes de seus interesses.  É o que se chama a grande mídia.  Esse complexo de comunicação procura dominar e produzir o que se convenciona chamar de opinião pública. A opinião pública é produzida de maneira ditatorial, de cima para baixo, forjando versões distorcidas dos fatos, repetidas no dia a dia, com tamanha persistência até ganharem imagem de verdade.  “As mentiras repetidas tantas vezes até parecerem verdades” foi uma arma do nazifascismo. Os grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão são alimentadas com as propagandas das empresas dos grupos econômicos.  Eles garantem sua receita. E controlam as notícias veiculadas e a opinião.  A liberdade de expressão é um mito. Quem lê um dos jornalões, ou vê o noticiário de um canal de televisão, não precisa ver dos demais.  Às vezes mudam o estilo. Mas dizem as mesmas coisas.

         A imprensa alternativa é que é a válvula de escape para os fatos escondidos pelos meios convencionais.  Durante a Ditadura Militar tivemos no Pasquim um tipo de veículo alternativo, que dizia nas entrelinhas o que a censura proibia.

         Nesse controle da opinião pública, a maioria da população sem acesso à educação e ao conhecimento de qualidade, torna-se massa de manobra fácil dos grupos dominantes. Quando essa maioria pensa que pensa, está repetindo o que lhe é incutido de maneira sutil, como se os “formadores de opinião” penetrassem nos cérebros vulneráveis e ali plantassem idéias preconcebidas.  Com a força que ganham na repetição da mentira até ganhar forma de verdade, criam heróis na mente do povo e destroem quem realmente esteja defendendo os interesses desse povo.

         Uma diferença fundamental entre Esquerda e Direita, encontra-se no empenho à Educação, sem a qual ninguém se liberta.   A Esquerda dá prioridade à Educação em todos os níveis para todos os segmentos sociais.  A Direita ignora, descarta, adia, procrastina.  Quando em uma sociedade é elevado o índice de analfabetismo absoluto e funcional, sabe-se que essa sociedade é dominada pela Direita.  Quando os governantes se empenham em erradicar o analfabetismo e garantem a educação gratuita para todos os cidadãos até os níveis superiores, o domínio é de Esquerda.

         A Direita empenha-se pela acumulação do capital em poucas mãos, com a desvalorização do trabalho, de modo a impedir que a massa trabalhadora tenha acesso aos bens necessários à sobrevivência e à aquisição do conhecimento.  Nessa acumulação, confiscam da força do trabalho os valores majoritários de uma remuneração justa, para, depois, distribuírem partículas, como migalhas para a massa trabalhadora carente.  Essas migalhas fazem multidões correrem atrás de um pouco e agradecerem pela “dádiva” alcançada.  Nisto caracteriza-se a dependência, a submissão.

         A Direita empenha-se pela produtividade a favor de alguns. A Esquerda batalha pela produção para todos.  Daí vem a confusão que alguns tentam difundir na cabeça das pessoas inexperientes, como o exemplo do pai que diz para a filha:  “Esquerda é o professor distribuir as notas de todos os alunos pela média da classe”.  O que induz o estudioso a pensar que quem trabalha e produz tem que distribuir para quem não trabalha. Nada mais falso.  O princípio da esquerda é de que “quem não trabalha, não come”.  Isto como base da filosofia esquerdista.  Mas a prática é a solidariedade entre gerações, como acontece nas aposentadorias e pensões.  Quem se encontra na ativa contribui para que os enfermos e idosos tenham a pensão necessária para a sobrevivência.  Todos passam por problemas de saúde, ou envelhecerão um dia. A filosofia de esquerda é de que todos têm que trabalhar e produzir.  E a riqueza produzida é considerada fruto do trabalho, que precisa ser justamente remunerado. 

         Para a Direita, o mérito está em acumular riqueza individualmente, ou em grupo, sem preocupações éticas, ou de solidariedade com os que trabalham e ficam em falta do necessário.

         Para a Esquerda, a preocupação é distribuir a riqueza com quem a produziu, de maneira a satisfazer suas necessidades básicas de sobrevivência e de evolução do conhecimento.   

         Para a Direita, a especulação financeira que rende juros e faz crescer o capital individual sem gerar qualquer bem faz parte da maneira normal de poupar.

         Para a Esquerda, o investimento financeiro deve gerar bens e fontes de trabalho para a coletividade. 

         No passado tivemos no Brasil agremiações políticas de um lado e de outro.  A UDN – União Democrática Nacional – defendia os latifúndios, o grande capital nacional e internacional, o livre mercado(liberalismo econômico que vem desde Adam Smith).  O PTB – Partido Trabalhista Brasileiro – que defendia os interesses dos trabalhadores e procurava avançar nas conquistas sociais e fazer funcionar a Consolidação das Leis do Trabalho, criada no primeiro governo de Getúlio Vargas.   O PSD – Partido Social Democrático – era um meio termo.  Se a UDN era de Direita; e o PTB de Esquerda; o PSD era um partido de Centro.  Nas eleições universais, do voto direto e secreto, aliava-se ao PTB.  Nas votações no Congresso que refletissem choque entre os extremos, pendia para a Direita.

         Essas eram as siglas básicas durante a vigência da Constituição de 1946.  Em torno delas giravam muitas outras de pequena expressão, ora radicais para um lado, ora para outro.

         Durante a Ditadura Militar, “somente foi possível formalizar mais uma legenda além da legenda governista, a ARENA (criada em 4 de abril de 1966), que apoiava o regime militar. Foi criado, então, o MDB que faria oposição ao regime militar e cujos membros eram chamados de "emedebistas".(pt.wikipedia.org).

        Se fôssemos considerar posição ideológica para esses partidos, diríamos que ARENA era de Direita, e MDB de esquerda.  Mas não passava de formalidade, porque aquele bipartidarismo existiu para mascarar o regime de exceção perante o mundo.  Os verdadeiros oposicionistas estavam cassados, exilados ou presos.

        Nos dias de hoje, na prática, não existe partido de Esquerda. O PT – de Lula e os mensaleiros condenados - , no poder há mais de 10 anos, pratica o mesmo neoliberalismo do PSDB – de Fernando Henrique e os mensaleiros de Minas que aguardam julgamento. Um e outro têm responsabilidade pelas privatizações de empresas estatais; pelo fator previdenciário que reduz o valor de aposentadorias; pela especulação financeira sobre a dívida pública que tira dinheiro do tesouro para pagar juros; pela desvalorização do salário mínimo vigente – afinal, pela injustiça social.

        Simplesmente fazem o jogo de levar o povo periodicamente às urnas, em um ritual que nada muda, porque os candidatos, depois de eleitos estão comprometidos com os financiadores de campanha, donos do grande capital.  Pela prática e pela estratégia são siglas de aparência diferente, mas que perseguem o mesmo fim: manter tudo como está.

        As duas siglas têm na esfera federal e nas estaduais as mesmas alianças que mantém o jogo das aparências, em disputas teatrais que nada mudam.

        Da mesma forma acontece nos Estados Unidos. O Partido Democrata e o Republicano se revezam no poder, sem alterar a estrutura social interna, e mantêm a mesma política externa de agressão e exploração da riqueza alheia.  Os Republicanos invadiram o Iraque. Os Democratas(Barack Obama) ganharam as eleições seguintes com a promessa de deixarem o país invadido dentro de três anos. Quatro anos depois, Obama foi reeleito. E faz 10 anos que as tropas estadunidenses estão no Iraque.

        Lá também o capital  privado financia as eleições, que, por isto mesmo, nada têm de democráticas.  Simplesmente plutocráticas, lá como cá.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)


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