As classes dominantes procuram impor ao povo a ideia de que
não existe mais o conceito político de Esquerda e Direita. Isto é uma forma maldosa de desestimular o
debate em torno das injustiças sociais.
Enquanto houver exploradores e explorados, há os princípios que
acamparam essas denominações, com evolução da semântica, para facilitar uma
compreensão das atividades em torno desses campos de luta em busca da
valorização do trabalho, como forma de proporcionar à maioria da população
acesso aos bens de ascensão social no que se possa entender como o que se
aproxime mais da justiça.
“A
origem dos termos remonta à Revolução Francesa, onde os membros do Terceiro Estado, que almejavam uma mudança na forma de governo
vigente, se sentavam à esquerda da assembléia, enquanto os do clero e da nobreza, que desejavam a conservação da forma de governo,
se sentavam à direita”(pt.wikiedia.org).
Assim, generalizou-se a identificação
de Esquerda com mudanças na direção dos interesses populares; e Direita como
conservadores a deixar tudo como está.
Esse entendimento ficou mais acentuado
no Terceiro Mundo, onde as diferenças de classe são mais acentuadas, dentro do
processo histórico da colonização que fazia os grandes proprietários de terra e
demais bens imóveis exploradores da força do trabalho, muitas vezes escravo, outras vezes mal
remunerado, a gerar riquezas sempre concentradas nas mãos dos latifundiários. Ter muita terra simbolizava, como ainda
simboliza, ter grande poder econômico e, consequentemente, maior poder
político. O poder econômico alastra-se
ao sistema financeiro e faz os possuidores de grande capital terem controle sobre a vida de todas as pessoas.
A Esquerda evoluiu na história em busca
do equilíbrio entre o capital e o trabalho, o que vem gerando conflitos de classes. Os capitalistas se unem em grupos para se
imporem às demais classes, com o poder econômico fortalecido com essa
união. Dispondo do dinheiro, criam
empresas de comunicação como aliadas e porta-vozes de seus interesses. É o que se chama a grande mídia. Esse complexo de comunicação procura dominar
e produzir o que se convenciona chamar de opinião pública. A opinião pública é
produzida de maneira ditatorial, de cima para baixo, forjando versões
distorcidas dos fatos, repetidas no dia a dia, com tamanha persistência até
ganharem imagem de verdade. “As mentiras
repetidas tantas vezes até parecerem verdades” foi uma arma do nazifascismo. Os
grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão são alimentadas com
as propagandas das empresas dos grupos econômicos. Eles garantem sua receita. E controlam as
notícias veiculadas e a opinião. A
liberdade de expressão é um mito. Quem lê um dos jornalões, ou vê o noticiário
de um canal de televisão, não precisa ver dos demais. Às vezes mudam o estilo. Mas dizem as mesmas
coisas.
A imprensa alternativa é que é a
válvula de escape para os fatos escondidos pelos meios convencionais. Durante a Ditadura Militar tivemos no Pasquim
um tipo de veículo alternativo, que dizia nas entrelinhas o que a censura
proibia.
Nesse controle da opinião pública, a
maioria da população sem acesso à educação e ao conhecimento de qualidade,
torna-se massa de manobra fácil dos grupos dominantes. Quando essa maioria
pensa que pensa, está repetindo o que lhe é incutido de maneira sutil, como se
os “formadores de opinião” penetrassem nos cérebros vulneráveis e ali
plantassem idéias preconcebidas. Com a
força que ganham na repetição da mentira até ganhar forma de verdade, criam
heróis na mente do povo e destroem quem realmente esteja defendendo os
interesses desse povo.
Uma diferença fundamental entre
Esquerda e Direita, encontra-se no empenho à Educação, sem a qual ninguém se
liberta. A Esquerda dá prioridade à
Educação em todos os níveis para todos os segmentos sociais. A Direita ignora, descarta, adia,
procrastina. Quando em uma sociedade é
elevado o índice de analfabetismo absoluto e funcional, sabe-se que essa
sociedade é dominada pela Direita.
Quando os governantes se empenham em erradicar o analfabetismo e
garantem a educação gratuita para todos os cidadãos até os níveis superiores, o
domínio é de Esquerda.
A Direita empenha-se pela acumulação do
capital em poucas mãos, com a desvalorização do trabalho, de modo a impedir que
a massa trabalhadora tenha acesso aos bens necessários à sobrevivência e à
aquisição do conhecimento. Nessa
acumulação, confiscam da força do trabalho os valores majoritários de uma
remuneração justa, para, depois, distribuírem partículas, como migalhas para a
massa trabalhadora carente. Essas
migalhas fazem multidões correrem atrás de um pouco e agradecerem pela “dádiva”
alcançada. Nisto caracteriza-se a
dependência, a submissão.
A Direita empenha-se pela produtividade
a favor de alguns. A Esquerda batalha pela produção para todos. Daí vem a confusão que alguns tentam difundir
na cabeça das pessoas inexperientes, como o exemplo do pai que diz para a
filha: “Esquerda é o professor
distribuir as notas de todos os alunos pela média da classe”. O que induz o estudioso a pensar que quem
trabalha e produz tem que distribuir para quem não trabalha. Nada mais
falso. O princípio da esquerda é de que “quem
não trabalha, não come”. Isto como base
da filosofia esquerdista. Mas a prática
é a solidariedade entre gerações, como acontece nas aposentadorias e
pensões. Quem se encontra na ativa
contribui para que os enfermos e idosos tenham a pensão necessária para a
sobrevivência. Todos passam por
problemas de saúde, ou envelhecerão um dia. A filosofia de esquerda é de que
todos têm que trabalhar e produzir. E a
riqueza produzida é considerada fruto do trabalho, que precisa ser justamente
remunerado.
Para a Direita, o mérito está em
acumular riqueza individualmente, ou em grupo, sem preocupações éticas, ou de
solidariedade com os que trabalham e ficam em falta do necessário.
Para a Esquerda, a preocupação é
distribuir a riqueza com quem a produziu, de maneira a satisfazer suas
necessidades básicas de sobrevivência e de evolução do conhecimento.
Para a Direita, a especulação
financeira que rende juros e faz crescer o capital individual sem gerar
qualquer bem faz parte da maneira normal de poupar.
Para a Esquerda, o investimento
financeiro deve gerar bens e fontes de trabalho para a coletividade.
No passado tivemos no Brasil
agremiações políticas de um lado e de outro.
A UDN – União Democrática Nacional – defendia os latifúndios, o grande
capital nacional e internacional, o livre mercado(liberalismo econômico que vem
desde Adam Smith). O PTB – Partido Trabalhista
Brasileiro – que defendia os interesses dos trabalhadores e procurava avançar
nas conquistas sociais e fazer funcionar a Consolidação das Leis do Trabalho,
criada no primeiro governo de Getúlio Vargas.
O PSD – Partido Social Democrático – era um meio termo. Se a UDN era de Direita; e o PTB de Esquerda; o
PSD era um partido de Centro. Nas
eleições universais, do voto direto e secreto, aliava-se ao PTB. Nas votações no Congresso que refletissem
choque entre os extremos, pendia para a Direita.
Essas eram as siglas básicas durante a
vigência da Constituição de 1946. Em
torno delas giravam muitas outras de pequena expressão, ora radicais para um
lado, ora para outro.
Durante a Ditadura Militar, “somente foi possível formalizar mais uma legenda
além da legenda governista, a ARENA (criada em 4 de abril de 1966), que apoiava o regime militar. Foi
criado, então, o MDB que faria oposição ao regime militar e cujos
membros eram chamados de "emedebistas".(pt.wikipedia.org).
Se fôssemos considerar posição ideológica para esses
partidos, diríamos que ARENA era de Direita, e MDB de esquerda. Mas não passava de formalidade, porque aquele
bipartidarismo existiu para mascarar o regime de exceção perante o mundo. Os verdadeiros oposicionistas estavam
cassados, exilados ou presos.
Nos dias de hoje, na prática, não existe partido de Esquerda.
O PT – de Lula e os mensaleiros condenados - , no poder há mais de 10 anos,
pratica o mesmo neoliberalismo do PSDB – de Fernando Henrique e os mensaleiros de
Minas que aguardam julgamento. Um e outro têm responsabilidade pelas privatizações
de empresas estatais; pelo fator previdenciário que reduz o valor de
aposentadorias; pela especulação financeira sobre a dívida pública que tira
dinheiro do tesouro para pagar juros; pela desvalorização do salário mínimo
vigente – afinal, pela injustiça social.
Simplesmente fazem o jogo de levar o povo periodicamente às
urnas, em um ritual que nada muda, porque os candidatos, depois de eleitos
estão comprometidos com os financiadores de campanha, donos do grande
capital. Pela prática e pela estratégia
são siglas de aparência diferente, mas que perseguem o mesmo fim: manter tudo
como está.
As duas siglas têm na esfera federal e nas estaduais as
mesmas alianças que mantém o jogo das aparências, em disputas teatrais que nada
mudam.
Da mesma forma acontece nos Estados Unidos. O Partido
Democrata e o Republicano se revezam no poder, sem alterar a estrutura social
interna, e mantêm a mesma política externa de agressão e exploração da riqueza
alheia. Os Republicanos invadiram o
Iraque. Os Democratas(Barack Obama) ganharam as eleições seguintes com a
promessa de deixarem o país invadido dentro de três anos. Quatro anos depois,
Obama foi reeleito. E faz 10 anos que as tropas estadunidenses estão no Iraque.
Lá também o capital
privado financia as eleições, que, por isto mesmo, nada têm de
democráticas. Simplesmente
plutocráticas, lá como cá.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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