quarta-feira, 27 de março de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Brasil desistiu de ser um país desenvolvido ?





Pesquisas no Brasil não focam desenvolvimento


Com informações da BBC - 12/03/2013

Ausência de avanços
A ausência de grandes avanços no Brasil em pesquisas em áreas como química, física, engenharia e geociências pode ser "um fator limitante no desenvolvimento econômico" do Brasil, segundo um relatório do serviço de análise da Thomson Reuters.

O documento, assinado pelos pesquisadores Jonathan Adams, David Pendlebury e Bob Stembridge, analisou diversos indicadores ligados a pesquisa e inovação no Brasil, Rússia, Índia, China e Coreia do Sul.

Sua conclusão é que os países emergentes estariam conseguindo reduzir o abismo que os separa do mundo rico na área de inovação, mas haveria grandes diferenças entre eles.

E, segundo dados do relatório, o Brasil estaria ficando para trás em vários indicadores.

Em número de pesquisadores e total de patentes, por exemplo, o país seria o último colocado.

A parcela dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento feitas pelo setor privado também seria "anomalamente baixa" no Brasil, segundo a Thomson Reuters.

Conhecimento da natureza

O maior destaque é dado ao fato de que o Brasil seria "obviamente diferente dos outros BRICKS" no que diz respeito a seu portfólio de pesquisas.

"Para Rússia, Índia, China e Coreia do Sul as áreas em foco são física, química, engenharia e estudos sobre os materiais", nota o relatório. Já no Brasil haveria mais avanços e esforços no que é definido como "economia do conhecimento da natureza" que inclui áreas como "ciências agrícolas", "estudo de plantas e animais" e "farmacologia e toxicologia".

"Para o Brasil seria possível dizer que a ausência de (pesquisas sobre) tecnologias e ciências físicas na lista de áreas prioritárias pode ser tornar um fator limitante para o desenvolvimento econômico", defende o documento.


Emergente eterno

A conclusão é tomada a partir do levantamento, em cada um desses países emergentes, das dez áreas de pesquisa responsáveis por uma maior parcela do total mundial de publicações em seu campo do conhecimento.

No caso do Brasil, além das três áreas mencionadas acima, a lista também inclui "microbiologia", "ecologia", "ciências sociais", "medicina clínica", "biologia e bioquímica", "neurociências" e "imunologia".

Para uma comparação, as áreas de maior contribuição da China incluiriam "estudos dos materiais", "ciências da computação", "engenharia", "matemática", "geociências", "física" e "química".

O país asiático também estaria avançando mais rápido que os outros cinco emergentes em quase todos os indicadores de inovação e pesquisa analisados pela Thomson Reuters.

"Os dados não só confirmam e quantificam o novo status de países que não estão no G7 (na área de pesquisa e inovação), mas também revelam complexidades individuais que estão por trás do rótulo de 'emergente'", diz.

Brasil desistiu de ser país desenvolvido


Agostinho Rosa - 21/07/2011

O seu cargo é o de coordenador dePolíticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento.

A função, com seria de se esperar, está dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Que visões de futuro passarão na mente do condutor das políticas e programas de pesquisas científicas do ministério que cuida da ciência e da tecnologia de um dos países mais promissores do mundo?

Deve ser inebriante conversar com uma pessoa que pensa em todas as tendências tecnológicas mundiais, e nos rumos mais promissores e mais socialmente urgentes das pesquisas científicas, sem contar aquelas áreas em que se deve deixar a ciência ser ciência, sem utilitarismos, indo atrás daquilo que desafia a curiosidade humana em seu sentido mais nobre.

Bem, deveria. Infelizmente, aqui no Brasil, a visão de futuro daqueles de quem mais se espera, assemelham-se mais a faróis que tenham sido instalados na traseira de um carro.

O discurso desanimador pode ser resumido em uma única frase: "O futuro do País é explorar o potencial da nossa biodiversidade."

O personagem que pensa o futuro da nossa ciência, da nossa tecnologia e, por decorrência, do nosso desenvolvimento e bem-estar enquanto sociedade, acredita que devemos nos limitar a sermos agricultores, no máximo coletores de frutos e raízes de uma floresta que calhou de estar por aqui.

Por paradoxal que possa parecer, não incluo em minha crítica o personagem que falou a fala tão desastrada. Carlos Nobre merece o sobrenome enquanto cientista e homem público que se tornou, de resto talvez o mais bem talhado candidato atualmente disponível para ocupar o Ministério do Meio Ambiente.

Colocá-lo tão fora de sua especialidade mostra a incapacidade - ou, eventualmente, a má-fé - daqueles que dirigem o país e que deveriam procurar fazer com que cada área rendesse os melhores frutos, de forma que, após o entendimento entre os diversos grupos, no processo natural que marca a discussão política, o país tivesse os maiores benefícios.

Mas o que esperar de um governo que nada faz para combater uma situação cambial que está destruindo a indústria brasileira, pelo simples temor de alguém dizer que o Brasil não é assim tão bonzinho ou de levar nota baixa de agências de risco que já mostraram mais de uma vez a complicada rede de interesses de que fazem parteF?

Este governo provavelmente nada teria a dizer sobre desenvolvimento de software e de hardware, satélites artificiais, robótica, nanotecnologia, novos materiais, computação quântica, fotônica, spintrônica. É melhor se calar sobre aquilo que se pretende destruir. Ou sobre o que nada se sabe.

Quer o governo que nossa missão seja nos mantermos como um país agrário. Com todo o respeito ao setor agroindustrial e a todos os necessários cuidados com o meio ambiente que esse setor nunca teve. Trata-se sim, de incentivar a agricultura e, com os devidos cuidados, fomentar uma indústria de biocombustíveis, mas que seja um setor especializado na área de energia, e não de um subproduto do açúcar.

Nada a dizer contra esta ou aquela área porque, ao contrário do que o governo parece pensar, incentivar uma área não exige que se destrua outras.

O que se trata é de criar no Brasil um setor industrial, já que aquele que chegamos a ter até o fim do século passado, esse já está desenganado por uma política cambial maléfica e pela falta de instituições que incentivem a inovação tecnológica - cuja responsabilidade é das empresas, o que só aumenta os elogios às poucas inovações que vemos surgir nas universidades brasileiras.

Mas quais empresas? Empresas brasileiras que fabricam o que? Automóveis, computadores, chips, fibras sintéticas, satélites artificiais, equipamentos de telecomunicações, robôs?

Ou, já que queremos nos especializar em biodiversidade, seria o caso das empresas nacionais de fármacos, de novas moléculas, de materiais biomiméticos?

Difícil inventar o que ainda não existe em setores que também não existem.

E para as empresas nacionais que ainda restam, cuja participação no PIB cai ano a ano, será que não sabemos criar mecanismos para incentivar essas empresas a se tornarem inovadoras? É claro que sabemos. A Embrapa é um exemplo mundial de estrutura aberta e flexível, que tem produzido as maiores inovações da área. A Fiocruz não fica atrás, na área de saúde, apesar dos recursos aviltantes.

E por que não reproduzimos a experiência em outras áreas? Porque não queremos. Porque o Brasil como uma potência agrária, fornecedor de alimentos e insumos agrícolas e minerais é tudo o que o núcleo central da economia mundial necessita. Já temos Coreia, Índia, China e outros países que emergiram, não precisamos de mais, começa a ficar problemático demais dividir o mercado quando os jogadores são muitos.

Fomos tolerados enquanto tínhamos um presidente pitoresco, que ficava bem na fotografia com aqueles que querem fazer o discurso politicamente correto de posar ao lado de um operário que "deu certo".

Agora não temos nem isso, então só resta a verdade desnuda. O mundo precisa de um celeiro, e o Brasil aceitou passivamente a condição, sem ter forças de argumentar que temos condições de ser mais do que uma coisa única, que podemos plantar, criar e coletar sem precisarmos nos condenar a uma economia pobre e ultrapassada.

Não é o nosso futuro que está na exploração da biodiversidade, é o nosso passado.

Ciclo do pau-brasil, ciclo da borracha, ciclo da cana-de-açúcar, ciclo do cacau, ciclo do café, agora novo ciclo da cana-de-açúcar, que produz algum etanol quando os preços valem a pena - todos são ciclos de exploração da nossa biodiversidade.

Só escapa o ciclo do ouro porque ele não leva o "bio" no nome, mas é extrativista, já devidamente substituído pelo atual ciclo do minério de ferro, do alumínio, do nióbio e das rochas ornamentais (sim, o "mármore de carrara" do século XXI é brasileiro).

Devemos acabar com essas explorações tão biodiversas e tão mínero-diversas? Certamente que não, mas não se trata disso, trata-se daquilo que nos negamos o direito de construir: uma economia moderna, fundada em uma educação digna do nome, em mecanismos institucionais e legais que criem um ambiente de inovação e de desenvolvimento.

Por que não fazemos isso? Se eu ainda tivesse a ingenuidade de esperar alguma sinceridade na resposta, diria que essa pergunta poderia ser dirigida àqueles que nos guiam para o passado.


Plano Inova Empresa terá investimentos de R$ 32,9 bilhões


Redação do Site Inovação Tecnológica - 15/03/2013

Imperativo

O governo federal lançou nesta quinta-feira o Plano Inova Empresa, para tornar as empresas brasileiras mais competitivas por meio da inovação tecnológica e do aumento da produtividade.

Os recursos, da ordem de R$ 32,9 bilhões, serão aplicados em 2013 e 2014 e beneficiarão empresas de todos os portes dos setores industrial, agrícola e de serviços.

Os recursos - na forma de empréstimo e subvenção, quando a empresa não precisa devolver o dinheiro - serão disponibilizados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos).

Do total, R$ 20,9 bilhões serão ofertados por meio de crédito para empresas, com taxas de juros subsidiadas de 2,5% a 5% ao ano, quatro anos de carência e 12 anos para pagamento.

As subvenções econômicas às empresas representarão R$ 1,2 bilhão, enquanto o fomento para projetos em parceria entre instituições de pesquisa e empresas, R$ 4,2 bilhões.

O governo também vai aplicar R$ 2,2 bilhões em participação acionária em empresas de base tecnológica.

Economia primária

"Agora vamos olhar a eficácia e assegurar que o dinheiro vai sair daqui e ir para a inovação", disse a presidente Dilma Rousseff. "Isso significa que nós vamos ter uma porta única, para que esses recursos trilhem um caminho dentro das necessidades do Brasil em termos de ciência, tecnologia e inovação. É a nossa articulação que vai iluminar esse caminho."

"Nenhum projeto, nenhum programa brasileiro deu certo sem integrar seus setores", ressaltou a presidente.

Essa autocrítica lembra a tentativa anterior do governo em incentivar a inovação tecnológica: a chamada Lei da Inovação, devidamente acompanhada de incentivos fiscais para as empresas privadas foi longamente discutida.

Ao ser promulgada, afirmou-se que o Brasil seria outro daquele dia em diante. De fato, o Brasil se especializou em commodities e se tornou totalmente dependente da importação de produtos industrializados.

O caminho adotado agora não difere do anterior, a não ser na formação de novos comitês, representando um aporte de recursos públicos para as empresas sem fins definidos, uma vez que a proposta de uma nova lei para pesquisa e inovaçãocontinua como proposta.

Exemplo totalmente diferente tem sido dado por países africanos, que anunciaram recentemente investimentos semelhantes no desenvolvimento de "cidades tecnológicas", para pesquisas em áreas bastantes definidas.

No Brasil, ao contrário, o esforço do governo e das instituições de pesquisas continua voltado para a economia primária - a FINEP está destinando R$2 bi para pesquisas em etanol e as grandes agências estaduais de financiamento de pesquisas parecem desconhecer o setor industrial, além de enquadrarem pesquisas básicas como inovação tecnológica em seus relatórios.

No plano agora anunciado pelo governo, por exemplo, os recursos destinados ao complexo aeroespacial e defesa (R$ 2,9 bilhões) e tecnologias da informação e da comunicação (R$ 2,1 bilhões) são inferiores aos destinados para cadeia agropecuária (R$ 3 bilhões), e no mesmo nível de grandeza que a mal definida sustentabilidade socioambiental (R$ 2,1 bilhões).

Agora, as poucas esperanças de que o país tenha algum outro plano além de setornar definitivamente uma economia primária, se voltam para a Empresa Brasileira para Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que tentará transferir para o setor industrial e de serviços o modelo bem-sucedido da Embrapa.

Quanto o governo irá investir na Embrapii? R$ 1 bilhão nos próximos dois anos, o menor aporte entre todos os anunciados no atual "pacote da inovação"


Por que a economia do Brasil não decola?


Ruth Costas - BBC - 26/12/2012

Modismos

Até 2011, a imprensa e mercados internacionais pareciam tomados por um grande entusiasmo em relação ao crescimento brasileiro.

"O Brasil decola", anunciou em 2009 a revista britânica The Economist, fazendo um diagnóstico que, à época, parecia ser unanimidade.

A recente polêmica aberta em um artigo da mesma Economist chamava a economia brasileira de "criatura moribunda" - e anunciava: "O Brasil despenca" - dá a medida de como o clima mudou em relação ao País em 2012.

"Este foi o ano em que passamos de uma 'brasilmania' - um grande entusiasmo no exterior em relação ao Brasil - para uma visão mais realista e cética sobre o potencial do País. Agora, na imprensa e entre os mercados e investidores há muita incerteza sobre os rumos que a economia brasileira tomará a partir de 2013", disse à BBC Brasil Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

Desaceleração brasileira

Entre as causas centrais da mudança está a desaceleração econômica dos últimos dois anos. De 2004 a 2010 o PIB brasileiro cresceu a uma média de 4,5%, alcançando, em 2010, os 7,5% que encheram os olhos dos mercados e investidores.

A expansão mais modesta do ano passado - de 2,7% - foi interpretada por analistas como um ajuste sobre o ano anterior, em que o PIB havia crescido mais que seu "potencial" estimado, de 4%.

O que explica, então, a alta de apenas 1% esperada para 2012? Ou o que freou tão bruscamente o crescimento brasileiro - em um contexto em que, ainda por cima, o desemprego está historicamente baixo?

Em um momento em que o governo brasileiro se esforça para garantir que o país retome o crescimento acelerado - com mudanças no câmbio, pacotes de incentivo fiscal e queda dos juros - economistas estrangeiros e brasileiros de prestígio responderam essa questão e opinaram sobre o que é preciso para a economia voltar a alçar voo em 2013.

Empresários não investem

Alguns pontos parecem consensuais. Por exemplo, os baixos níveis de investimento são apontados como fator central do desaquecimento.

Como alguns analistas ressaltam, o aumento dos gastos do governo e a expansão da classe média brasileira impulsionaram o consumo nos últimos anos - mas os empresários não têm investido o suficiente, criando uma insuficiência de oferta.

No Brasil, o nível de investimento ronda os 18% do PIB, contra quase 50% da China e pouco mais de 30% da Índia. No Peru, Chile e Colômbia a taxa ronda os 25%.

A sobrevalorização do real, que mina a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional, e problemas estruturais, como excesso de burocracia, gargalos de infraestrutura e falta de investimento em educação e na formação de mão-de-obra também são apontados como freios do crescimento em 2012, além do acirramento da crise global e desaquecimento da China.

O governo está tentando atacar alguns desses entraves com medidas como cortes dos juros (para 7,25%) e a queda do real. "Mas tal ajuste só terá resultados no médio e longo prazo, porque os empresários levam tempo para refazer seus planos", diz Antônio Prado, da CEPAL.

Entre as diferenças de pontos de vista dos entrevistados algumas se referem às causas do desaquecimento. Por exemplo, um grupo atribui mais peso a fatores externos, enquanto outros veem exagero no cálculo do contágio.

Há também uma ampla variação nas receitas para o crescimento. Alguns defendem mais abertura e menos intervenção. Outros pedem políticas industriais mais ambiciosas. Confira algumas dessas propostas abaixo:

Reformas microeconômicas

Jim O'Neill - Economista da Goldman Sachs e criador do termo BRIC.

É importante entender que a taxa de crescimento anual do Brasil é bastante volátil. Na década em que a média de crescimento chegou perto dos 4% houve 3 anos em que a expansão do PIB ficou abaixo dos 2%.

O Brasil desacelerou por dois motivos em 2011 e 2012. Primeiro, a redução do crescimento da China e dos preços de algumas commodities. Segundo, a sobrevalorização do real, que complicou o desafio do Brasil para ganhar competitividade. Mas no último trimestre, não fosse por uma estranha queda no setor financeiro, o crescimento anualizado seria de 4%, então acho que será mais forte a partir de agora.

Para assegurar um crescimento igual ou maior que 4%, o Brasil precisa de melhores condições financeiras (evitando uma nova valorização do real) e reformas focadas no lado da oferta. A macroeconomia tem ido na direção certa, mas é preciso mais reformas microeconômicas.

Menos burocracia e arbitrariedade

Michael Reid - Editor para América Latina da The Economist

É verdade que o ambiente externo tem sido um desafio. Mas com que países o Brasil quer se comparar? Com a Europa? Basta olhar para a América Latina e os BRICs para ver que o desempenho recente do Brasil é pobre.

Alguns motores do crescimento de 2004-10 enfraqueceram. As commodities já não estão subindo e os consumidores precisam pagar suas dívidas. O Brasil se trancafiou em um bloco comercial protecionista e de baixo crescimento - o Mercosul, e fez pouco para abrir novos mercados. Mas o que mais decepciona é a queda dos investimentos. O setor público não tem melhorado a execução de projetos e investidores privados parecem estar preocupados com o risco de mudanças regulatórias ou de políticas.

Outros países latino-americanos acabaram com uma burocracia estúpida que dificultava a vida das empresas. Por que o Brasil não faz o mesmo? Como a presidência já reconheceu, mobilizar investidores privados em projetos de infraestrutura é crucial. Mas o governo precisa ser mais consistente ao atrair investidores, oferecendo a eles uma taxa de retorno razoável.

Simplificar a estrutura tributária brasileira e reformar leis trabalhistas leva tempo, mas o governo poderia anunciar planos claros para lidar com essas questões.

Novo modelo de crescimento

Marcos Troyjo - Diretor do BRICLab da Universidade de Columbia
Há exagero na avaliação do peso dos fatores externos sobre o desaquecimento brasileiro. O Brasil é uma economia relativamente fechada. As exportações representam 10% do PIB e o peso da China é de 2%. Por isso, o efeito direto do desaquecimento chinês é mais limitado do que muitos acreditam, embora haja também o efeito indireto, relacionado a uma mudança de expectativas.

Houve no Brasil um problema de oferta. O País cresceu recentemente com um modelo focado nos altos índices de consumo e gastos do governo. Isso gera crescimento de curto prazo, mas não desenvolvimento. Para crescer mais de 4%, o Brasil precisa investir 23% do PIB no mínimo.

A queda dos juros foi bem-vinda, mas ainda é preciso fazer reformas estruturais: reduzir a burocracia para a abertura de negócios e os gargalos de infraestrutura; investir mais em inovação e formação de mão-de-obra.

Política Industrial efetiva

Antonio Prado - Secretário-executivo adjunto da CEPAL

Houve uma queda muito importante do nível de atividade da indústria - em parte por causa da sobrevalorização do real, que barateou as importações e desestimulou a produção local. Isso levou a uma inconsistência entre a política industrial e política macroeconômica.

Por isso, mudança na taxa de câmbio e de juros era necessária, mas deve demorar para mostrar resultados. Empresas que já tinham contratos de compras de insumos e dívida em dólar devem ser prejudicadas no curto prazo com a desvalorização, mas no médio e longo prazo o Brasil ganha competitividade.

O País já está fazendo um esforço grande para levar adiante mudanças estruturais e deve continuar nesse caminho. . Medidas como o controle de fluxos especulativos financeiros também são importantes.

Parcerias público-privadas

Pablo Fajnzylber - Principal economista do Banco Mundial para o Brasil

Após crescer 0% em 2009, o Brasil implementou um política fiscal e monetária anticíclica que lhe permitiu crescer 7,5% em 2010. Mas pressões inflacionárias levaram a um aperto da política monetária até agosto de 2011, quando incertezas globais motivaram um novo ciclo de estímulo.

O impacto desse afrouxamento precisa de tempo para se materializar. A parcela das rendas familiares comprometida com dívidas está alta. O investimento continua baixo refletindo uma incerteza sobre o cenário global e doméstico. Além disso, muitas indústrias sofrem com custos elevados de mão-de-obra.

No longo prazo, é preciso elevar o PIB potencial do país. A produtividade e o nível de investimento precisam subir. O setor público deve concentrar investimento em atividades que aumentam a produtividade do setor privado, como educação e infraestrutura, continuando a fazer parcerias com o setor privado em áreas em que o último tem vantagens comparativa como transportes.

Mais competição e abertura

Edward C. Prescott - Prêmio Nobel de Economia

sistema político deve estar bloqueando mudanças e tomando medidas para manter o status quo. É preciso fazer mudanças para progredir, mas ao que parece a nova presidente não é tão habilidosa como Luiz Inácio Lula da Silva, que foi capaz de manter o apoio dos brasileiros permitindo uma mudança.

O Brasil precisa criar um ambiente em que grupos de brasileiros talentosos possam se juntar e levar adiante iniciativas empreendedoras. Mais competição entre os Estados e mais abertura para o resto do mundo poderia ajudar nesse processo.

Política cambial eficiente

Luiz Carlos Bresser Pereira - Ex-ministro da Fazenda

A economia brasileira está crescendo menos que o esperado principalmente devido à grande apreciação cambial que ainda subsiste. Os anos 2000, como os anos 90, foram marcados pela tendência à sobrevalorização crônica e cíclica da taxa de câmbio. O dólar caiu de R$ 3,95 em 2003 para R$ 1,65 em 2010.

Com isso, as indústrias deixaram de exportar. Elas sobreviveram graças à política distributiva do governo, que aumentou o mercado interno e explica as taxas de crescimento do segundo mandato de Lula. Mas com o tempo, seu mercado foi capturado por manufaturados estrangeiros.

O essencial agora é continuar a depreciar o real até que ele chegue ao nível de "equilíbrio industrial", de R$ 2,70 por dólar, que torna competitivas as empresas brasileiras de manufaturados. Para exportadores das commodities, que originam a "doença holandesa" (sobrevalorização da moeda de países com recursos naturais abundantes), R$ 2,00 por dólar está bom.

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