quarta-feira, 20 de março de 2013

Maria Auxiliadora Ribeiro Gomes(Viçosa-MG) - Museu de cera de Viena



Museu de cera de Viena









Amigos - se o papa fosse brasileiro, veja o que poderia acontecer. Tarcísio
 
 
HABEMUS PAPAM
                    Com a renúncia de Sua Santidade o Papa Bento XVI, a meu ver um gesto de altiva humildade e respeito para com o universo de seguidores da Igreja Católica, ficamos no aguardo da formação de um novo conclave e a consequente escolha de seu sucessor. As especulações sobre o pretenso favoritismo de um cardeal brasileiro fizeram com que eu, intimamente, passasse a torcer contra, temendo uma desastrosa sucessão de eventos comemorativos por parte dos entusiasmados fiéis compatriotas.
                    Fui dando asas à imaginação e vislumbrei a Praça de São Pedro, em frente à Capela Sistina, completamente tomada pelos festivos brasileiros. Bem à frente, como não poderia deixar de ser, uma reduzida, mas barulhenta bateria de uma das nossas escolas de samba, duas dúzias de mulatas de corpos esculturais, siliconadas e com os mega-hairs esvoaçantes, em trajes sumários e portando estandartes com a figura do nosso ex-cardeal devidamente envolvido no manto sagrado do Flamengo ou da Seleção Brasileira, rebolando e entoando hinos exortativos do tipo: ...uh! uh! O Papa é nosso!!! , ou provocativos como: ... um, dois, três, quatro, cinco, mil, o Cardeal italiano foi pra p........!
                    Em um dos cantos da praça,  num palco improvisado, Roberto Carlos, com seu terninho azul claro e a camisa da mesma tonalidade aberta ao peito onde estaria dependurado um enorme crucifixo de prata repousando sobre os rarefeitos e encanecidos pelos da região, claudicando ao redor de um microfone fixo e articulado, entoaria com voz fanhosa a sua canção preferida para essas ocasiões: ...Jesus Cristo, Jesus Cristo, Jesus Cristo eu estou aqui......! Revezando-se com ele, Fafá de Belém, semi-sufocada por um apertadíssimo espartilho vermelho, na tentativa infausta de projetar para fora do colo seus outrora exuberantes peitões, esgoelando a plenos pulmões uma Ave Maria em ritmo de carimbó. Diriam as más línguas que Vanusa não teria sido convidada pelo receio de que ela errasse a letra e entoasse o hino da igreja de Edir Macedo.
                    No canto oposto, Carlinhos Brown, portando uma colossal mitra estilizada verde e amarela, com seus indefectíveis óculos escuros e o torso nu, comandaria uma batucada de ritmistas do Olodum, no mais legítimo compasso do candomblé. No frenesi do batuque, um bando de moleques trazidos diretamente do Mercado Modelo de Salvador estariam amarrando compulsoriamente e até com certa violência, fitinhas do Nosso Senhor do Bonfim nos braços dos sisudos e atônitos soldados da tradicional Guarda Suíça do Vaticano. Quatro ou cinco flanelinhas entrariam em conflito com estes mesmos guardas que, não afeitos à extorsão costumeira aqui no Brasil, não concordariam em pagar pelo estacionamento do Papa-móvel em sua própria garagem. Ao longo da praça, dezenas de barraquinhas onde camelôs apregoariam no mais legítimo italiano macarrônico, rapidamente “aprendido” e adaptado para a ocasião, os mais diversos souvenires relacionados ao novo Papa, garantido a sua legitimidade.
                    Um tanto quanto ressabiados, olhando para todos os lados, recostados na penumbra das seculares pilastras italianas, alguns torcedores do Corinthians, com as camisas e gorros da Gaviões da Fiel e  munidos de seus sinalizadores marítimos aguardariam uma oportunidade de sapecar os fulgurantes petardos nos encarnados fundilhos de alguns cardeais desafetos.
                    A turma do gargarejo, aqueles mais próximos à sacada do segundo andar, solicitariam ao recém-eleito Pontífice que desse uma sambadinha no melhor estilo Barrichello, logicamente ao som do tema da vitória, gentilmente cedido por Galvão Bueno.
                    A estas alturas, já poderíamos vislumbrar uma fumacinha, não branca, mas vermelha, saindo das orelhas dos brasileiros mais sensatos, pela vergonha por tantos descalabros.
                     Fora do território italiano, aqui na terrinha, a coisa seria pior. Nosso outro candidato derrotado, Luiz LI, com a aquiescência da Primeira Mandatária, mandaria ao Vaticano um convite ao companheiro Papa para abrilhantar a inauguração de uma das grandiosas obras do PAC, como por exemplo, a transposição da antiga e mal feita transposição do Velho Chico, ocasião em que receberia o título honorífico de Presidente Honorário do PT.
                    Na televisão, chamadas sucessivas onde Faustão, aos berros, anunciaria um Arquivo Confidencial com o sucessor de São Pedro, dizendo:... Ôrra meu, eu conheço o cara desde os tempos dos Perdidos na Noite, quando ele era coroinha numa capelinha ao lado do Teatro Fênix. O filho de Dª Fulana e do Sr. Beltrano vai se emocionar com os depoimentos de amigos e familiares..... Ana Maria Braga, tal e qual um boneco de ventríloquo, movimentando apenas o queixo e com o resto da face bloqueada por litros de botox, juntamente com o seu papagaio chato e barrigudo, iria convidá-lo para cozinhar ao vivo a sua famosa Papinha Pontifícia. Pedro Bial, calçando as sandálias da mediocridade e fazendo reverências e mesuras grotescas diante das câmeras diria que Boninho levaria o Sumo Sacerdote para uma oração junto aos BBB 13.
                    Ainda bem que o conclave se realizou e a fumaça branca no telhado da Capela Sistina anunciou a eleição do Cardeal argentino. Meu medo era que ele se intitulasse Maradona I, mas o simpático e moderado jesuíta portenho optou pelo singelo nome de Francisco. O difícil será aguentar a empáfia de los hermanos. Com os dribles eficientes de Messi e a poderosa oração de El Chiquito, podemos esquecer a copa de 2014. Há de se ouvir pelas ruas de Buenos Aires: “los macaquitos acreditan que Dios es brasileño, pero la verdad es que El Papa es argentino!”.
                    De qualquer forma, o máximo que poderemos ouvir e ver na Praça de São Pedro será o lânguido e melancólico som de um bandoneon embalando um solitário casal nas circunvoluções sensuais de um tango; embora tão inconveniente quanto o samba, infinitamente mais elegante.
 
Juiz de Fora, 13-03-13.
 
                    

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