quarta-feira, 29 de maio de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops maio 29



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      TALENTO, CARISMA, BELEZA NA ERA DAS ABERRAÇÕES

(Copyleft – Especial Carta Polis, autorizada publicação todos os meios – Paulo Timm, Torres 29 maio 2013)

As quatro décadas do Pós-Guerra, apesar da Guerra Fria e  tirando a Revolução Chinesa vitoriosa em 1949 e os conflitos no sudeste asiático (isto ficava no outro lado da lua...), pareciam prometer um mar de rosas para a humanidade. As principais economias do mundo cresciam satisfatóriamente, junto com algumas periféricas como Brasil, Canadá e Austrália. O fantasma da revolução social e política parecia congelado pelo Pacto Social-Democrata que redistribuía polpudos dividentos às classes trabalhadores. O Estado de Bem Estar na Europa e o Wellfare nos States, consagravam a Pax Americana. Eram tempos augustos, numa referência ao período em que o Imperador Augusto, depois de Cesar, subiu ao trono. 

Verdade que o mundo inteiro seria sacudido pela onda libertária de 1968, mas ela, além da curta duração, de sua natureza eminentemente libertária e não social, de sua composição sociológica difusa, foi imediatamente assimilada pelo sistema como um marco para o aprofundamento do individualismo e não de outros regimes políticos. No fundo deste sereno e luzidio lago hollywoodiano, agitavam-se as águas. E delas, como se ninguém se desse conta, emergiu nos anos 80 um outro mundo: O mundo dos artefatos, em substituição à sociedade de meros objetos, na qual o próprio homem, embora reificado como vendedor de força de trabalho sob o capital , estava unificado nesta condição como sujeito capaz e portador natural  de direitos igualitários ( “Século dos Direitos” - N.Bobbio). O  sociólogo Laymert Garcia dos Santos, doutor pela Oxford University e professor titular da Unicamp tem nos brindado com vários artigos e um brilhante livro sobre este processo, tendo, recentemente comparecido ao Programa “Invenção do Contemporâneo”na TV Cultura, no qual apresentou seu olhar nesta  além-modernidade.
http://www.cpflcultura.com.br/2009/08/04/integra-modernidade-e-a-dominacao-da-natureza-laymert-garcia-dos-santos/


No mundo dos artefatos tudo mudou e ainda estamos tentando entender do que se trata esse novo tempo. Qual sua tecnologia, qual seu falar, qual sua razão de ser? Mal conseguimos. Mas ele é visível numa simples observação de um sobrevivente do furacão Catrina em New Orleans, quando disse: - “Lá estávamos nós, náufragos, com fome, sede e total insegurança, em cima de alguns telhados, no centro do maior império econômico do mundo, abandonados, durante dias. É como se o Governo pensasse assim: Eles fizeram essa escolha. Agora nadem. Ou morram...”. (“Heist – Quem roubou o sonho” – Doc) . Talvez aí esteja a síntese do nossa Era: o cinismo. Mas não o cinismo literário, construído como defesa pelo romântico desiludido, que tal como o poeta de Fernando Pessoa, finge sentir que não é dor a dor que  sente profundamente. Agora a impressão é que ninguém sente mesmo nada, a não ser com altas doses mortíferas de drogas ou felizes espectadores de grandes shows.  Não se trata do fim do romance, mas de sua inexistência em qualquer tempo. A palavra de ordem é : SALVE-SE QUEM PUDER!  Coisa que faria corar até o iconoclasta Oscar Wilde, quem, zombando dos entusiastas  do fin du siècle (XIX), diziam que , ao contrário do que pensavam, “o mundo caminhava inexoravelmente para o individualismo”. Não caminhou, ultrapassou...


Não vou, hoje, completar essa impressão com os dados sobre a eleição de Reagan nos Estados Unidos e E. Thatcher, na Inglaterra, como marcos políticos do Consenso de Washington que varreria o mundo numa tormenta neoliberal que engoliria até o Marxismo Soviético e Chinês e seus corolários  espalhados pelo mundo inteiro -os Partidos Comunistas - , levando de roldão o trabalhismo inglês, grande parte da social-democracia européia, e até segmentos importantes da esquerda creolla como peronistas de Menem na Argentina e o tucanato recém criado no Brasil. Nem com as valiosas informações de Layert no campo da ciência que produziu as condições técnicas da Era das Aberrações. Não é esse meu propósito, hoje.


Quero falar, neste contexto,  na venda do Neymar para o Barça, da Espanha. E de como alguns ídolos do futebol e outros esportes, das artes e até  da Política, se transformam em novos milionários. Não só muito ricos, mas verdadeiros heróis, enaltecidos pelo públicos do mundo inteiro.


Vejamos Neymar:


Uma empresa brasileira de consultoria o situa como o sexto mais publicitável do mundo. Dia até que o  craque do Santos foi vendido numa baixa,  'barato', ao ser avaliado em R$ 122 milhões, indo para a Europa ganhar 7 milhões de euros por ano, quase R$ 2 milhões por mês.  Messi , aliás, outro craque do futebol, chega a R$ 244 milhões e é o mais valioso de todos.


Neymar é o sexto jogador mais valioso do futebol mundial, avaliado em € 50 milhões (R$ 122 milhões). Esta é a conclusão de um estudo de marketing feito pela empresa brasileira Pluri Consultoria, que levantou números e valores dos 60 principais mercados da bola. Porém, levando em conta a idade do craque (19 anos), ele está "barato".
O craque do Santos só ficou atrás de Lionel Messi (€ 100 milhões, ou R$ 244 milhões), Cristiano Ronaldo (€ 90 milhões, ou R$ 219 milhões), Andrés Iniesta (€ 65 milhões, ou R$ 158 milhões), Cesc Fàbregas e Wayne Rooney (€ 55 milhões, ou R$ 144 milhões). A empresa diz ter usado como fontes seu próprio levantamento, a "imprensa especializada" e o site "Transfermarket".
- A combinação de crescimento econômico, gestão profissional e melhoria do marco regulatório do futebol permitirá que, no futuro, jogadores de ponta do futebol mundial tenham o mercado brasileiro como possibilidade concreta de atuação. Nesse cenário chegaremos num estágio em que veremos times brasileiros contando com jogadores como Wayne Rooney e Iniesta ao lado de Neymar e Kaká. E viajaremos pela Europa vendo meninos vestindo camisas de times brasileiros. Aposto que esse é o futuro - escreveu o economista Fernando Pinto Ferreira, responsável pelo relatório "Painel Pluri Futebol 2011".
(Por wilson yoshio.blogspot - Do Globoesporte.com)

Os milionários passes e contratos, como se pode ver,  se estendem a vários jogadores de futebol e alcançam diversos esportes. É bem conhecido, também, o sucesso do excêntrico jogador  de golf, Tiger Woods.  Tiger Woods é um dos melhores jogadores de golfe de todos os tempos. Venceu quase cem competições oficiais. Ao todo, já ficou por 623 semanas em número um do ranking mundial, quase 300 semanas a mais que o segundo. Isto lhe trouxe fama, muito dinheiro e cerca de 120 amantes ... Para se ter uma idéia de sua fortuna, só divórcio lhe custou 750 milhões de dólares...Outro herói...Mas a lista se segue com outros ídolos, no campo das artes.

Conta-se que nunca houve, por exemplo, um artista plástico tão rico como Damien Hirst, apesar de muitos  considerarem suas obras  como verdadeiro lixo vendido a preço de ouro. É simplesmente inacreditável que isto ocorra não só com ele, mas que  peças autêntica, de pintores consagrados cheguem aos milhões. Ele próprio afirma no título de uma de suas obras “Quase normal”, marcada por aberrações horrendas, tal como tem feito ao alterar os originais de outros quadros famosos.
Hirst promove suas exposições como se fosse um ator de cinema. Os jornalistas são convidados para coletivas em grupos de três que duram apenas vinte minutos. Como uma prima-dona, ele parece farto do monótono assédio da mídia. Acomodado num sofá de couro em um enorme salão vazio no sétimo andar da Tate, ele olha diretamente nos olhos ao apertar a mão de cada jornalista, sempre transbordando autoconfiança. É claro que lhe importa pouco o que pensam dele. Está acostumado a ser elevado ao céu ou atirado aos quintos dos infernos.
Como um artista acusado pela crítica de não saber pintar, cujas obras podem ser substituídas por cópias caso o original se deteriore, se tornou um homem tão rico? “Não sei, talvez porque eu tenha sorte. Não sei como responder a essa pergunta. Com certeza porque as pessoas gastam os tubos comprando meus trabalhos. Acho que a pergunta não é porque sou tão rico, mas se mereço ser tão rico”
                      http://www.domtotal.com/noticia_marcos/detalhes.php?matId=41

 Mas não são apenas os pintores os agraciados pela fortuna nestes tempos de artefatos, arrogância e valorização de aberrações. Os cantores ganham tanto que já comparecem na Revista Forbes, especializada neste tipo de ranking de riqueza no mundo:

      Saiba quais são os 10 cantores mais ricos da atualidade!

As listas e exemplos poderiam se alongar. Por pudor não vou postar a lista dos Pastores mais ricos. Um escândalo!  Mas meu propósito, até aqui, é apenas elencá-los, não com o sentido amaldiçoar seus ricos beneficiários por esta dádiva, a qual recolheu muitos das mazelas da pobreza para até tonteá-los com o botim da fama, que dificilmente administrarão adequadamente. A questão é: Como é possível que isto ocorra, quando há poucos anos artistas mal ganhavam a vida nos circos ou nas ruas e quando desportistas dificilmente conseguiam se profissionalizar?  A resposta está na virada dos anos 80 que produziu simultaneamente artefatos e ídolos cada vez mais  expostos numa sociedade de grandes espetáculos, estes, em grande parte, também produzidos. 

Não que Neymar, Paul M Cartney  ou o citado Damien Hirst não tenham talento e que, por este dom, distingam-se e se valorizem pela raridade na espécie humana. Mas o talento de cada um deles está inserido no contexto de uma sociedade de aberrações, cuja maior aberração é exatamente dispor de condições tecnológicas para alimentar a humanidade toda, das condições patrimoniais para manter todo mundo num emprego digno e o mundo em paz e não o faz. Um bilhão morre de fome; 26 milhões estão desempregados na Europa e quase 40 voltaram à pobreza nos Estados Unidos; e as guerras regionalizadas, às quais se somam  os atos de violência nas grandes metrópoles continua matando. A concentração de negócios em alguns poucos países, em algumas poucas mãos que, segundo a insuspeita Presidente do FMI mal chega a 0,35% da população do mundo, em alguns poucos bancos que concentram trilhões de dólares em Paraísos Fiscais é simplesmente inconcebível. Mas é ela que propicia o mercado no qual se gestam estas novas fortunas nas áreas do esporte, das artes e até das Igrejas. O talento de cada um deles sequer pode ser qualificado de excepcional, tarefa que só o tempo poderá ratificar. Mais das vezes, como nos ensinava Arthur da Távola, o estrelato está hoje impregnado de manipulações mercadológicas e financeiras.

É exatamente este processo de manipulação contemporânea das grandes virtudes como talento, beleza, inteligência e carisma que pode nos conduzir a uma banalização da cultura, tal como estamos vivendo a banalização da Política. Já não vemos grandes estadistas, em qualquer parte do mundo, preocupados, como dizia Churchill, com a próxima geração. Apenas candidatos que controlam máquinas partidárias putrefatas e extemporâneas que se sucedem nos cargos em decorrência de campanhas bem feitas por marketeiros ultra-especializados. Marx advertiu para a dominação capitalista como execrável, mas foi Weber quem melhor percebeu essa tendência à uma racionalização da vida contemporânea que leva a que tudo desemboque no artefato: aquilo que é produzido. Assim, entre o impulso  natural do passado e o espectro do manipulado ficamos nós, à espera de um futuro amedrontador que já chegou provocando não só imensas disparidades de propriedade e renda no mundo, mas agora, também,  na  própria espécie humana. Daqui a pouco nem poderemos mais argüir em defesa de Direitos Humanos, pois alguém arguirá: Qual deles...? Somos geneticamente diferentes...

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