Quando os governos das três esferas revelam desinteresse pela
educação pública, resta à sociedade tomar iniciativa em
movimento voluntário para corrigir as lacunas que o Estado deixa abertas.
- O
que é o Estado, afinal?
São
os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, compostos, com raríssimas
exceções, por quadros oriundos das classes privilegiadas e por agentes eleitos
por ela financiados nas campanhas políticas. Uns e outros desprezam a educação
pública de qualidade ora por desejo de manterem os privilégios do monopólio dos
conhecimentos, ora por temerem ver seu poder de mando ameaçado por uma
sociedade culta, conhecedora de seus direitos, e que tome conhecimento das causas
das desigualdades sociais e lute contra elas.
Na
verdade, é uma visão míope. Esse temor
parte mais dos valores negativos que os privilegiados têm, quando usam da
violência e da corrupção para alcançarem vantagens. Do jeito que agem, julgam que todos agirão.
Mas, pelo contrário, uma sociedade amplamente culta, com
formação superior em sua maioria, tende a viver em paz, a exemplo dos países de
mentalidade avançada, onde todos tenham acesso aos bens de consumo desejáveis,
por ser menor a diferença de renda entre uns e outros. A menor desigualdade, com valorização do
trabalho de cada um, faz todos felizes. Quem
se sente feliz, vê no outro um semelhante, um irmão, com quem procura
compartilhar a alegria e, às vezes a tristeza, de maneira fraterna. Para esses, a animosidade é sentimento
indesejável que deve ser afastado.
Os
países colonizados, infelizmente, cultivam a cultura dessa animosidade, como consequência
histórica do domínio dos fortes sobre os fracos pela escravidão e pela pilhagem
das riquezas naturais dos povos oprimidos, mantidos sempre rudes ao saber, como
se a opressão fosse um desígnio divino.
Os
grupos sociais que atingiram certo grau de conhecimento e de consciência
humanitária, descontentes com o quadro da ignorância coletiva como fruto das
desigualdades, sentem um impulso para movimentos voluntários, que contribuam
para tirar a massa social do analfabetismo absoluto e do funcional. Entendem que o estado burguês desqualifica as
escolas públicas ao alcance de todos, em favor das particulares destinadas
somente aos 10% mais ricos que podem pagar suas caras mensalidades para manterem
professores mais qualificados, para continuar o domínio dessa minoria sobre
todos.
O
Senador Cristóvam Buarque apresentou há muito tempo um projeto de lei que
obriga os filhos de políticos estudarem em escolas públicas. Certamente isto faria com que essas escolas
ganhassem qualidade. Mas o projeto dorme
em sono esplêndido e profundo nas gavetas do Senado, sob a indiferença de todas
as câmaras legislativas.
Na contramão
do bom senso, as universidades públicas ministram disciplinas de
excelência. Os filhos dos privilegiados
da sociedade pagam escolas particulares nos cursos básicos, chegam aos
vestibulares mais bem qualificados do que os estudantes das escolas públicas, e
vão fazer os cursos superiores gratuitamente naquelas universidades mantidas
com os impostos da população das classes pobre e média.
Essas
discrepâncias levam as mentalidades evoluídas, despojadas de egoísmo, a tomarem
posições de indignação. E tentam fazer alguma coisa, a começar pela erradicação
do analfabetismo absoluto, em primeiro plano, e do funcional em segundo. Este é fruto das escolas públicas onde é
proibido reprovar: promoção automática, a pretexto de satisfazerem estatísticas
de organismos internacionais, que destinam verbas conforme os índices negativos
de repetência. Esses critérios, porém,
deixam de ser aplicados aos países do chamado Primeiro Mundo. É o imperialismo
universal pela Educação, ou melhor, pela sua falta.
Daí se compreende que os países que
se recusam a participar desses blocos convencionais são bombardeados pela mídia
dominante e hostilizados pelos pretensos donos do mundo. Na América Latina
temos os exemplos de Bolívia, Venezuela e Cuba.
Os atuais governantes eliminaram o analfabetismo nos primeiros anos de
governo. São taxados de ditadura, mesmo
sendo eleitos e tendo realizado mudanças institucionais através do voto
universal, direto e secreto, com de plebiscitos e pleitos fiscalizados por
organizações internacionais, como aconteceu com Evo Morales e Hugo Cháves; ou
através da participação popular desde a formação dos quadros legislativos a
partir dos municípios, como acontece em Cuba, cujos eleitos podem perder o
mandato se descontentarem a população.
Nos
municípios, como Visconde do Rio Branco, há incipiente e forte desejo de
levantar o saber de quem esteja fora da classe dos privilegiados. Não para fazer revolta. Mas para expandir o arco social da educação,
que contribui para a paz com queda de animosidades causadas pela intolerância
às diferenças.
Se a
classe política se nega a pagar bem os professores públicos e a investir na
estrutura pedagógica das escolas, algumas pessoas estão dispostas a suprir essa
lacuna por meio de movimentos sociais de voluntários convencidos de que quanto
menores as desigualdades, mais próximos estaremos da paz social. O egoísmo é violento, mesmo disfarçado com
humilhantes migalhas assistencialistas que eliminam o amor próprio e a
cidadania. A solidariedade, pelo contrário, difunde o espírito de igualdade, na
tentativa de qualificar cada um para tornar-se capaz de saber produzir, receber
o justo pelo seu trabalho, e comprar com o fruto desse trabalho o que achar
melhor, mais conveniente e de seu próprio gosto.
Não
há justiça sem igualdade de oportunidades, que começam no domínio das primeiras
letras e terminam com o acesso maciço às portas do saber. Cada um tem que aprender a ler, para
descobrir conhecimentos, o que não acontece por meio de caridades.
Sentimos
os sinais de libertação quando o povo ensina o povo.
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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