quarta-feira, 29 de maio de 2013

Na insuficiência na Educação pública, cabe à sociedade mobilizar-se


         




             Quando os governos das três esferas revelam desinteresse pela educação pública, resta à sociedade tomar iniciativa em movimento voluntário para corrigir as lacunas que o Estado deixa abertas.

                       - O que é o Estado, afinal?

                   São os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, compostos, com raríssimas exceções, por quadros oriundos das classes privilegiadas e por agentes eleitos por ela financiados nas campanhas políticas. Uns e outros desprezam a educação pública de qualidade ora por desejo de manterem os privilégios do monopólio dos conhecimentos, ora por temerem ver seu poder de mando ameaçado por uma sociedade culta, conhecedora de seus direitos, e que tome conhecimento das causas das desigualdades sociais e lute contra elas.

                    Na verdade, é uma visão míope.  Esse temor parte mais dos valores negativos que os privilegiados têm, quando usam da violência e da corrupção para alcançarem vantagens.  Do jeito que agem, julgam que todos agirão.

                Mas, pelo contrário, uma sociedade amplamente culta, com formação superior em sua maioria, tende a viver em paz, a exemplo dos países de mentalidade avançada, onde todos tenham acesso aos bens de consumo desejáveis, por ser menor a diferença de renda entre uns e outros.  A menor desigualdade, com valorização do trabalho de cada um,  faz todos felizes. Quem se sente feliz, vê no outro um semelhante, um irmão, com quem procura compartilhar a alegria e, às vezes a tristeza, de maneira fraterna.  Para esses, a animosidade é sentimento indesejável que deve ser afastado.

                   Os países colonizados, infelizmente, cultivam a cultura dessa animosidade, como consequência histórica do domínio dos fortes sobre os fracos pela escravidão e pela pilhagem das riquezas naturais dos povos oprimidos, mantidos sempre rudes ao saber, como se a opressão fosse um desígnio divino.

                          Os grupos sociais que atingiram certo grau de conhecimento e de consciência humanitária, descontentes com o quadro da ignorância coletiva como fruto das desigualdades, sentem um impulso para movimentos voluntários, que contribuam para tirar a massa social do analfabetismo absoluto e do funcional.  Entendem que o estado burguês desqualifica as escolas públicas ao alcance de todos, em favor das particulares destinadas somente aos 10% mais ricos que podem pagar suas caras mensalidades para manterem professores mais qualificados, para continuar o domínio dessa minoria sobre todos.

                       O Senador Cristóvam Buarque apresentou há muito tempo um projeto de lei que obriga os filhos de políticos estudarem em escolas públicas.  Certamente isto faria com que essas escolas ganhassem qualidade.  Mas o projeto dorme em sono esplêndido e profundo nas gavetas do Senado, sob a indiferença de todas as câmaras legislativas.

                     Na contramão do bom senso, as universidades públicas ministram disciplinas de excelência.  Os filhos dos privilegiados da sociedade pagam escolas particulares nos cursos básicos, chegam aos vestibulares mais bem qualificados do que os estudantes das escolas públicas, e vão fazer os cursos superiores gratuitamente naquelas universidades mantidas com os impostos da população das classes pobre e média.

                   Essas discrepâncias levam as mentalidades evoluídas, despojadas de egoísmo, a tomarem posições de indignação. E tentam fazer alguma coisa, a começar pela erradicação do analfabetismo absoluto, em primeiro plano, e do funcional em segundo.  Este é fruto das escolas públicas onde é proibido reprovar: promoção automática, a pretexto de satisfazerem estatísticas de organismos internacionais, que destinam verbas conforme os índices negativos de repetência.  Esses critérios, porém, deixam de ser aplicados aos países do chamado Primeiro Mundo. É o imperialismo universal pela Educação, ou melhor, pela sua falta.

            Daí se compreende que os países que se recusam a participar desses blocos convencionais são bombardeados pela mídia dominante e hostilizados pelos pretensos donos do mundo. Na América Latina temos os exemplos de Bolívia, Venezuela e Cuba.  Os atuais governantes eliminaram o analfabetismo nos primeiros anos de governo.  São taxados de ditadura, mesmo sendo eleitos e tendo realizado mudanças institucionais através do voto universal, direto e secreto, com de plebiscitos e pleitos fiscalizados por organizações internacionais, como aconteceu com Evo Morales e Hugo Cháves; ou através da participação popular desde a formação dos quadros legislativos a partir dos municípios, como acontece em Cuba, cujos eleitos podem perder o mandato se descontentarem a população.

                   Nos municípios, como Visconde do Rio Branco, há incipiente e forte desejo de levantar o saber de quem esteja fora da classe dos privilegiados.  Não para fazer revolta.  Mas para expandir o arco social da educação, que contribui para a paz com queda de animosidades causadas pela intolerância às diferenças. 

                   Se a classe política se nega a pagar bem os professores públicos e a investir na estrutura pedagógica das escolas, algumas pessoas estão dispostas a suprir essa lacuna por meio de movimentos sociais de voluntários convencidos de que quanto menores as desigualdades, mais próximos estaremos da paz social.  O egoísmo é violento, mesmo disfarçado com humilhantes migalhas assistencialistas que eliminam o amor próprio e a cidadania. A solidariedade, pelo contrário, difunde o espírito de igualdade, na tentativa de qualificar cada um para tornar-se capaz de saber produzir, receber o justo pelo seu trabalho, e comprar com o fruto desse trabalho o que achar melhor, mais conveniente e de seu próprio gosto.

                   Não há justiça sem igualdade de oportunidades, que começam no domínio das primeiras letras e terminam com o acesso maciço às portas do saber.  Cada um tem que aprender a ler, para descobrir conhecimentos, o que não acontece por meio de caridades.   

                   Sentimos os sinais de libertação quando o povo ensina o povo.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
      

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