quarta-feira, 6 de março de 2013

Com a destruição do patrimônio histórico morre parte da memória de Visconde do Rio Branco







      O Hotel Braga deveria ser revitalizado e não demolido, como foi o caso da Casa Telles”, disse Luiza Miranda, leitora do Jornal Consciência da Mata, nesta manhã de quarta-feira, 6 de março de 2013, às  06:21, ao ver a imagem daquele tradicional prédio, com as placas de aço a interditar a fachada na esquina de Praça 28 de Setembro com Rua Presidente Antônio Carlos. A  interdição corresponde à sua parte sujeita a desmoronamento, conforme vistoria do Corpo de Bombeiros, de Ubá, nas vésperas do Carnaval. O lado que dá frente para a Praça Getúlio Vargas(Estação) encontra-se fora de perigo.
Hotel Braga e placa de interdição. Imagem: Site da Prefeitura. 

Hotel Braga, Fachada para Praça Getúlio Vargas(Estação). Lateral para Rua Presidente Antônio Carlos. Imagem: Danton Ferreira


        Por coincidência, a parte condenada faz divisa com o lote vazio onde existiu a Casa Telles, durante muito tempo a casa comercial mais importante do Município, fundada por Adriano Telles e Abílio Mesquita no Século XIX.  Esses portugueses “compravam todo o café, feijão, milho etc. da vasta Zona a Mata. Construíram na cidade três engenhos de café e fundaram o Banco Mineiro para financiar os lavradores da região”(Edgard Amin). O prédio onde funcionou o Banco Mineiro ainda se encontra como testemunha dos tempos no terreno dessa Casa, de frente para a Praça da Estação.
Divisa do Hotel Braga com o lote da Casa Telles. Imagem: Site da Prefeitura

Divisa do Hotel Braga com o lote da Casa Telles. Imagem: Site da Prefeitura

Lote vazio, o que restou da Casa Telles. CM
Praça da Estação. Prédio com meia sombra: antigo Banco Mineiro. CM
Banco Mineiro - Praça Getúlio Vargas(Estação). Imagem: Danton Ferreira




Quando havia tentativa de preservar a fachada da Casa Telles, o bisneto de Adriano Telles, Artur Galvão Teles Tomé, escreveu-nos de Portugal: “Considero lamentável se não for possível salvaguardar a fachada da Casa Telles. É um marco de uma época e em termos de arquitectura é por demais óbvio que tem interesse.”


Praça 28 de Setembro. À esquerda, fachada da Casa Telles escorada. CM


         Correspondência de Edgard Amin nos diz: “A Casa fornecia mercadorias para toda a Zona da Mata, tornando-se forte politicamente, tanto que elegeu os Deputados Carlos Peixoto Filho, Celso Machado e Eugênio de Melo na ocasião.”
        
Edgar ainda nos informa que em “Portugal, oito casas, filiais, denominadas “A BRASILEIRA”, onde vendiam em todo o país, produtos brasileiros como carne seca, café, farinha de mandioca, pimenta, entre outros. Visconde do Rio Branco tornou-se conhecida em todo canto de Portugal.”

         Dona  Theresinha de Almeida Pinto,Fundadora e Diretora Voluntária do Museu Municipal de Visconde do Rio Branco e
Ex-Presidente do Conselho Consultivo Municipal para Fins de Tombamento do Patrimônio Histórico de Visconde do Rio Branco(MG) fala com tristeza sobre a Casa Telles:

“Quem abrir a história do prof. Oiliam José e ler o capítulo dedicado à Casa Telles e seu fundador Adriano Telles, por certo, compreenderá a razão de nosso interesse em preservar um pedacinho daquela parede. Tudo em vão. A luta de muitos anos teve fim insatisfatório. A parede centenária foi destruída da noite para o dia, ficando um vácuo na Praça 28 de Setembro, que roubou parte de sua identidade física e histórica.”
Imagem: Rita Lopes

Casa Telles(Ao Preço Fixo). Imagem: Cristóvão Ferreira


         O Hotel Braga, por sua vez - salvo correção que receberíamos com prazer - pode ter sido a hospedagem do Presidente Antônio Carlos, quando de visita a Visconde do Rio Branco.  Talvez por esta razão aquela Rua desde a Praça 28 de Setembro até a Rua Dr. Linch, depois da Ponte do Carrapicho, tenha recebido o seu nome. Não temos dados comprobatórios. Esperamos que nossos historiadores nos  informem.


         Há imensa riqueza de depoimentos sobre o furor de destruição da cultura, da história, da arquitetura deste Município.
Há rumores de fontes confiáveis, embora não confirmados, de que se pretende demolir o prédio do Hotel Braga, para erguer ali um centro comercial. 
Do mesmo modo, as três casas inventariadas na Rua Floriano Peixoto, que sofreram embargo judicial no processo de demolição, tiveram relaxado o embargo, não por conclusão do ritual processual, mas por pressão de bastidores a esmo dos trâmites normais.
E ali também se anuncia que será construído um centro comercial. 
Casa do Sr. Chicre Amin. Imagem: Isah Baptista

Casa da Mariazinha. Imagem: Isah Baptista

As três casas inventariadas e demolidas. Imagem: Isah Baptista

Ponto de embargo da demolição. CM


         O Centro da cidade, notadamente a Praça 28 de Setembro e seu entorno, já se encontra com o espaço saturado para circulação e manobras de veículos. A revitalização do prédio do Hotel Braga, como sugere nossa leitora Luiza Miranda, é o que há de mais sensato. Se não houver interesse da iniciativa privada em utilizá-lo, poderá ser bem aproveitado como centro de educação pública, uma faculdade ou escola de tempo integral.  A cidade está carente nessa área. E é um local de fácil acesso para estudantes e educadores, além de sua função histórica. Os espaços ideais para levantamento de edifícios e de construção de centros comerciais são, preferencialmente as avenidas, como a São João Batista e a Dr. Carlos Soares(Rua Nova), ambas em linha reta e planas.  Toda avenida com edifícios laterais ganham excelente estética e belo visual.   Ainda há muitos pontos apropriados na periferia para receberem os ares do progresso.  Leve-se em conta que  as pistas de rodagem do Centro têm sofrido muito com o trânsito pesado e intenso, e apresentam defeitos constantemente.

         Vem de longo tempo a visão de que é preciso descentralizar as atividades em Visconde do Rio Branco.  O Hospital São João Batista foi o primeiro exemplo, no começo do Século Passado.  A construção do Terminal Rodoviário no final do Século, e, recentemente, as obras do novo Fórum. 
Na Praça Jorge Carone Filho. Imagem: Danton Ferreira
Terminal rodoviário. Entre Final da Rua Nova e Rua General Ozório Imagem: Isah Baptista

Obras do Novo Fórum. Rua Eugênio de Melo. CM 12/02/2013




         Essa persistência em destruir a história, a arquitetura e a identidade da área central choca-se com o bom-senso, o amor à terra, e o respeito à sua população.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)  

Um comentário:

  1. Para mim, os crimes ao patrimônio histórico tinham de ser considerados inafiançáveis e sob pena de prisão perpétua sem regalia, extensiva aos políticos.

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