sexta-feira, 3 de maio de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - DROPS - Maio 3 - TORRES E SEU DESTINO




DROPS - Maio 3 






Santo Agostinho deixou-nos, em suas reflexões, a distinção entre a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens, entre a morada, por excelência do Espírito e a morada da Carne, onde se cria a carne, sempre sujeita às virtudes e vícios humanos. Nela habitamos. Sonhamos. Pecamos. Por fim,  morremos. Principalmente, a cidade, “onde mora o acontecimento” Nem tanto o Planeta, nem o continente, nem o país. Mas a nossa casa, para onde voltamos sempre.  Das multidões contemporâneas. O nosso lugar. O lugar da “Rua do Homem como deve ser/ Transeunte, republicano, universal ; das calçadas, em que se inscrevem os poemas da   “Máquina do Tempo” e da “Terra Devastada” ; e  das   Praças” , nas quais  “a liberdade cria asas em seu calor” É justo, pois,  que pensemos o  destino da nossa cidade, porque é nela que vamos pervagar os olhos e os passos, até o titubeio final.

Uma das inteligências mais brilhantes do século passado, Lewis Mumford, passou toda a sua vida estudando as cidades. Gilberto Freire, sociólogo brasileiro, seu amigo, também homem de grandes luzes, autor do clássico Casa Grande & Senzala ,  reclamava a presença dele na idealização de Nova Capital no interior do país. Dizia que era imprescindível. Não o escutaram.  De qualquer forma, Mumford, se não nos deixou sua marca em Brasília,  deixou-nos livros maravilhosos. Hoje, a temática urbana passou dos filósofos para os urbanistas. Eles procuram soluções: Soluções para o transporte coletivo, soluções para o lixo, soluções para o problema da moradia, soluções...soluções...soluções...Nossa casa está cheia de problemas e eles são chamados a resolvê-los. Mas não pensamos mais na alma das cidades e em como, feitos demiurgos,  à semelhança de Deus,  conseguimos moldá-las. Alguém já disse que a natureza é arte de Deus e a arte a natureza do Homem, porque nós, com nosso engenho e arte, mudamos a natureza das coisas. Depois do Homem, tudo tem seu toque.  As cidades, por exemplo,  há tempos já não são obras do acaso, mesmo do acaso humano que se reunia em feiras nas confluências de rios. Elas são o produto da inteligência de seus concidadãos que lhe imprimem novos destinos. Principalmente quando se trata de cidades pequenas e médias, ainda sujeitas aos seus cinzéis . Hoje se fala crescentemente em Cidades Criativas e Inovadoras, Cidades Inteligentes, Cidades Atacadistas, Cidades Polo, Cidades Desportivas, Cidades Religiosas, Cidades Civitas, que operam apenas como centros de interesse político, como Genebra, na Suiça, e Bruxelas, capital da Bélgica. E há as Cidades de Recreação e Lazer, como Orlando,na Florida e Cancum, no México. Em todas elas, há um rigoroso planejamento visando à sua qualificação para o destino traçado.

E Torres, qual seria sua alma e seu  destino?

Todos concordam que a cidade tem uma vocação natural para o turismo. Sempre foi cantada em prosa, verso e, sobretudo imagens, pela sua paisagem verdadeiramente fantástica. Já nos início da década de 50 o cinema nacional descobria seu forte apelo cenográfico, no qual formações basálticas derramam-se em fjords sobre o imenso oceano deixando lá atrás os contrafortes da Serra Geral. “Paixão por Torres”:Os primeiros veranistas em calhambeques, a corrida dos anos seguintes da emergente burguesia porto-alegrina  rumo à mais bela Praia do Litoral Sul, o boom imobiliário contemporâneo trazido pela Rota do Sol . Momentos importantes de sua história.

Mas faz a alma, sem o devido preparo e esforços  o destino de um talento? E se não o faz nas pessoas, por que o faria com as cidades, que são obras suas? Será que Torres não deveria pensar mais nessas questões...?

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