terça-feira, 14 de maio de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - DROPS - Maio, 14 -Informativo Diário do FB : ANO ALEMANHA BRASIL. Cuidados...



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COLUNA DO TIMM - Maio, 14


O ano Alemanha-Brasil. Cuidados...


O encontro ontem, em São Paulo,  dos Presidentes do Brasil e da Alemanha, selou a abertura do Ano Brasil Alemanha 2013/14 . Nada de novo. A cada ano autoridades brasileiras concertam-se com algum país estrangeiro para uma intensificação das relações culturais, políticas e comerciais entre seus países.
De acordo com o Itamaraty, os dois presidentes devem discutir a ampliação do fluxo bilateral de comércio e investimentos, o fortalecimento dos laços entre pequenas e médias empresas brasileiras e alemãs, as iniciativas de cooperação em ciência, tecnologia e informação e o apoio alemão ao Programa Ciência sem Fronteiras. Gauck e Dilma ainda devem discutir as negociações comerciais entre o Mercosul e a União Europeia e a crise financeira internacional.
Grandes parceiros
Na pauta das conversas também estão parcerias na área de energias renováveis e a participação do Brasil como país homenageado da Feira do Livro de Frankfurt de 2013.


Falando no evento, a Presidente Dilma Roussef destacou os fortes laços entre os dois países, mencionando a presença de mais de 2 mil estudantes brasileiros na Alemanha e de mais de 50 empresas brasileiras naquele país. A presença do Presidente J.Glauck inaugura, aliás,  o 31º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Confederação da Indústria Alemã (BDI). O Brasil é o maior parceiro comercial da Alemanha na América Latina.Só em São Paulo existem mais de 800 empresas alemãs. O intercâmbio comercial bilateral triplicou na última década, chegando a 21,5 bilhões de reais em 2012. O montante representa 22% do fluxo comercial do Brasil com a União Europeia.(idem)As relações entre Brasil e Alemanha, apesar da presença brasileira junto aos Aliados, tanto na I como na II Guerra , são antigas e estreitas, desde que o Governo Prussiano cedo reconheceu a nossa Independência (1825) , abrindo-se , no ano seguinte, um consulado brasileiro em Hamburgo. Recorde-se que Dom Pedro I era casado com uma Princesa austríaca e que foi um de seus homens de confiança, o Cel . Schaeffer, que naquela cidade, em 1824 recrutou os primeiros imigrantes alemães que foram , primeiro para Friburgo, no Rio de Janeiro e depois, para S.Leopoldo , no Rio Grande do Sul. Na primeira leva,  que chegou a esta cidade no dia 25 de julho de 1824, estavam meus ancestrais , os irmãos Heinrich e August:O fluxo migratório que irmanaria as duas comunidades continuou até 1859,  quando a Prússia promulgou o chamado "Rescrito de Heydt", proibindo a propaganda em favor da imigração para o Brasil, devido aos maus tratos sofridos pelos colonos alemães na província de São Paulo. Foi revogado em 1896.Mas  pouco tempo depois as relações seriam novamente turvadas pela declaração de Guerra do Governo de Venceslau Brás, em 27 de outubro de1917, contra o já Império Alemão, fundado em 1871, com a incorporação da Prússia. Depois de um período de paz e boas relações entre os dois países, seguiu-se, em 1942 a declaração do Estado de beligerância contra a Alemanha de Hitler (III Reich) , supostamente responsável por vários torpedeamentos de nossos navios na costa atlântica . Com a divisão da Alemanha nos pós-Guerra, as relações foram retomadas em dois momentos: Em 1951, com a Republica Federal Alemã, com capital em Bonn  e  mais tarde com a República Democrática Alemã (Zona Soviética) . Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a reunificação do país, nossas relações se incrementaram ainda mais. A adequada compreensão das relações do Brasil com a Alemanha tropeça, muitas vezes, no entendimento do que é a Alemanha  - e como ela se constituui. O território do que é hoje este país esteve, durante séculos fragmentado em pequenos reinos, ducados e cidades. Só se constitui como um Estado centralizado em 1871. Muitos dos imigrantes que aqui chegaram, até esta data, náo eram de nacionalidade alemã, então inexistente. Muitos, vindos do Schleswig eram dinamarqueses. Outros, austríacos. Outros, em grande maioria, de regiões autônomas. Mesmo o famoso Sacro Império Romano Germânico, fundado por Carlos Magno Carlos Magno  em 25 de dezembro de 800,  data de sua coroação jamais gozou de grande centralidade. Durou cerca de mil anos, sempre fragmentado e sem nenhuma capacidade de afrontar os países emergentes da Era das Navegações.


Várias razões são apontadas para a incapacidade histórica dos territórios alemães se unificarem em um só Estado.
Primeiro, pela maneira como se integrou à cultura ocidental . Depois, pela divisão entre o sul católico e o norte, protestante, que acabou fortalecendo uma divisão anterior entre o sul/sudoeste da região e o norte, conhecido como Liga Hanseática, na região Báltica . E finalmente, numa divisão interna insuperável  - a famosa dualidade alemã, a partir do sec. XVIII -entre o Reino da Áustria, fortemente centralizado e que teve em Viena, entre os anos 1815 e 1930 um dos principais centros culturais do mundo, e os territórios dispersos do que é hoje a Alemanha. Muito contribui, para tanto, o fato de que as tribos germânicas jamais ficaram atadas ao Império Romano. É célebre a afirmação de César, às margens do Reno,  depois de havê-lo atravessado numa manobra assombrosa da engenharia militar da época, mas  precavidamente retornado: “Aqui termina o Império Romano. A resistência dos germanos à dominação romana foi exaustiva. E permanceram, depois de liquidação do Império Romano, com seus próprios reinos, mesmo depois da criação do Sacro Império Romano Germânico, o qual, apesar do nome jamais inclui Roma. Ali pululava grande número de territórios diferentes,diferentes línguas (alemão, francês, italiano, tcheco, esloveno, etc.), distintas referências religiosas e diferentes formas de governo  , com uma grande variedade de culturas e  dialetos regionais. .
Tais fatos debilitaram enormemente os povos germânicos diante do processo da Revolução Industrial em curso na França e Inglaterra. A Alemanha sempre se viu limitada em seu “espaço vital” para o fornecimento de matérias primas e expansão de mercados para sua indústria nascente. Daí porque tenha se voltado, no final do século XIX para os países escandinavos, Rússia especialmente, da qual foi um decisivo suporte tecnológico até a Revolução Bolchevique, em 1917. Frustrada em suas ambições imperiais, desenvolve um forte sentimento nacionalista interior, o qual a moverá para as duas grandes guerras mundiais do século XX. Desta última sai literalmente destroçada, dividida , mas jamais prostrada. A reunificação, no final do século deu-lhe novo alento e inspira veleidades de supremacia mundial. Muitos analistas admitem, inclusive, que até o final do século teremos num mundo globalizado, três centros tecnológico-industriais hegemônicos: Estados Unidos, Alemanha e China.  Este impulso recente da economia alemã, já chamado de Milagre Alemão, tem, naturalmente, raízes históricas.
Mas por que a Alemanha está “tão bem”, economicamente? Isto é importante para refletirmos sobre as relações Brasil-Alemanha, neste ano que se inaugura em suas relações.
A reserva de pessoas disponíveis para trabalhar, na Alemanha está diminuindo. Atualmente, o número das pessoas que entra no mercado do trabalho é menor do que o número das pessoas que vão para a reforma. Ainda por cima, a população do país é madura e está diminuindo. Nos próximos 30 anos a Alemanha terá sete milhões de habitantes a menos O ex-ministro da Economia da Alemanha, Wolfgang Clement, defendeu que os alemães se aposentem aos 80 anos, “se quiserem”, conforme destacou o jornal espanhol El Mundo. “Temos que aceitar o fato de que os alemães têm que trabalhar por mais tempo. É a consequência lógica da mudança demográfica. Quem quiser e puder deve seguir trabalhando até os 75 ou mesmo 80”, disse. O forte senso de humor negro dos alemães já admite que, assim sendo,  não faltarão empregos para os velhinhos.Este pano de fundo demográfico cria um ambiente de tensão e medo na população trabalhadora do país. Como poucos outros povos, eles se dispões à medidas de extrema austeridade que se traduzem por acordos para diminuição dos salários e precarização dos regimes de emprego, com a quebra de antigas conquistas laborais. Ou seja, o mesmo mecanismo chinês de compressão salarial imposto na China e que lhe dá grande competitividade industrial, é copiado , livremente na Alemanha, gerando os piores salários da Europa, profunda segmentação do mercado de trabalho, onde só alguns ganham muito, e generalização dos chamados minijobs, que são trabalhos por semana, ou por hora, sem garantias, de baixíssima remuneração. Um estudo francês evidencia  que estes"mini-trabalhos" com "mini-salários"cresceram vertiginosamente nos últimos anos (+47% entre 2006 e 2009), superada apenas pelo trabalho temporário (+134%, alcançando em maio de 2011 5 milhões de subempregados, aos quais se juntam os cerca de 3 milhões de desempregados oficiais.(  Institut Français des Relations Internationales, e pode ser descarregado neste link -Fonte: Rischio CalcolatoIFRI ).   Em Agosto de 2010,  outro relatório do Instituto do Trabalho da Universidade de Duisberg-Essen estimava que mais de 6,55 milhões de Alemães recebiam menos de 10 Euros brutos por hora, um total que tinha aumentado de 2,3 milhões quando comparado aos 10 anos anteriores. Dois milhões de trabalhadoresna zona do Reno vivem (ou melhor, sobrevivem) com menos de 6 Euros por hora, e muitos na antiga Alemanha Oriental ficam com 4 Euros por hora, ou seja 720 Euros por um mês de trabalho a tempo inteiro.
São precisamente estes fatos que levam a que os países membros da União Europeia se sintam ameaçados pela Alemanha, vez que, mercê da cultura de defesa do trabalho,  não teriam a mesma disposição de reprimir a força de trabalho como fez a Alemanha. Um artigo recente, de J. Torres López,  foi retirado, à instâncias do Governo Alemão, do Jornal El País, de Madrir, por afirmar que La Merckel estaria fazendo o mesmo que Hitler.
O economista respondeu no seu blog:Diante da retirada do meu artigo “a Alemanha contra a Europa” do site do El País, quero manifestar o seguinte: (...)– É verdade que no artigo afirmo que, na minha opinião, a Alemanha declarou guerra económica contra o resto de Europa e que comparo isso com a busca do espaço vital que levou Hitler a desencadear a guerra, mas acho que isto deve ser entendido como a comparação de dois factos históricos lamentáveis ainda que de fatura desigual, e não como a equiparação de dois líderes políticos.


Assim, pois, cuidado com os exemplos do Milagre Alemão, como também, do Milagre Chinês. A continuarem pelo caminho que trilham vão acabar liquidando um século de conquistas de garantias do trabalho e instaurando no mundo globalizado uma guerra social sinistra. O Brasil pode estar, hoje, diante de grandes desafios em seu processo de desenvolvimento, eis que necessita urgentemente reorganizar seu setor industrial, de forma a que venha gannhar maior densidade tecnológica nas suas relações com o exterior. Mas, seja pela via Bacha, de inclinação neoliberal, seja pela via Belluzzo, menos propensa à abertura total, o que dependerá do resultado eleitoral de 2014, tenhamos presente a defesa das conquistas laborais.



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