sexta-feira, 17 de maio de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops, maio 17 - A SEMANA EM REVISTA



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A SEMANA EM REVISTA


Hoje, uma sexta feira verdadeiramente exausta. Pela primeira vez, depois de décadas os senhores deputados federais trabalharam incansavelmente. Feliz ( ou infelizmente!) não houve nenhuma baixa. Todos, vencedores e vencidos chegaram a bom termo. A estas alturas, devem estar confortavelmente instalados em suas bases. Tomara que nenhum eleitor ou um filho adolescente mais curioso   lhes dirija a pergunta que cala no fundo do coração de muitos brasileiros: - Mas afinal, quais o benefícios reais da Medida Provisória dos Portos para o Brasil? E quem disse que o modelo de abertura dos portos ao setor privado aí estabelecido é realmente o melhor para nós? E, a propósito, a semana consumou, também, sem a necessidade de Medida Provisória, os leilões da Agência Nacional do Petróleo,  para pesquisa e exploração de novas  reservas. Aqui, também, vale fazer as mesmas indagações: - “O quê”; -“quem...”.  


E , por falar em perguntas, o ex-Presidente Lula, em Seminário do PT em Porto Alegre, nestes dias, sugere aos reticentes, em dúvida quanto ao voto no ano que vem, que se façam esta pergunta:-‘Quando você ficar em dúvida, feche os olhos, imagine o que seria o Brasil de hoje sem os dez anos de governo do PT’.

Tantas perguntas, meu Deus!, diria o Drummond. Às quais meu coração recusa respostas fáceis, mas minha curiosidade ousa perscrutar.
Como seria, mesmo o Brasil, sem a “Década da Inclusão”?

E aqui já, de certa maneira, pois é na pergunta que reside o fio da meada do enredo, respondo: O Brasil estaria , do ponto de vista econômico, não muito diferente, mas, certamente, tão ou mais injusto do que tem sido desde do Descobrimento. A grande marca dos Governos PT, a propósito, será esta: Diminuição da Pobreza. Sem o PT no Governo, teríamos, como resultado da rigidez do sistema político em melhorias nos rendimentos do salário, inclusive pela manutenção do mínimo abaixo de cem dólares uma grande  fermentação social. Esta  se alastraria por todo o país, com o próprio PT à frente. Se este cenário se prolongasse até a Crise de 2008, um Governo conservador se veria em grande dificuldade para avaliar a situação e abrir horizontes novos. Talvez vendesse a PETROBRÁS para fazer Caixa e com isso formular alternativas. 

Aí haveria, certamente, uma divisão interna no seio do Governo, como a que ocorreu em pleno regime militar, por volta de 1966. Naquele ano, Roberto Campos, ortodoxo, cedeu lugar a Delfim Neto, que fez o que o Brasil sempre tem feito (repetiria na Crise do Petróleo, entre 1974 e 1979 ) : tocar o barco, com boa dose de “bom senso” econômico diante das adversidades.  

Não é impossível que um gênio emergente, em 2008 tivesse lembrado ao Presidente conservador, a solução da década de 30, talvez, até, com uma renegociação da dívida externa como fez Vargas: 
Manutenção da Renda Interna, via Fiscal. Como a agitação social chegaria ao seu limite, com o Lula crescendo nas pesquisas de opinião, é bem provável que a Política Social ganhasse nova dimensão, o que ajudaria na manutenção do poder de compra do mercado interno. 

Um recente documento do Instituto FHC, aliás, demonstra a gênese e desenvolvimento no interior do Estado destas Políticas. Elas foram gestadas  com Vargas, no tempo de “Média com Pão e Manteiga”, obrigatória e tabelada, e avançou com a criação da FUNRURAL e BNH na ditadura, culminando com a criação do Instituto de Alimentação e Nutrição – INAM - . Sarney inventaria o Programa do Leite!  

Passada a crise e se não houvesse uma convulsão social, ou séria instabilidade política, como ocorreu na Argentina, quando abriu espaço para “Los Kirchners) , teríamos chegado aos dias de hoje quase do mesmo jeito que estamos: Uma pequena elite da sociedade, menor do que 1% com o controle dos ativos fixos e financeiros dos país; uma classe média tradicional, menor do que 10%, detentora de um patrimônio cultural e de valores ; e 89% do povo mergulhado num baixo nível de vida, ganhando até 3 salários mínimos. Com a PETROBRÁS já liquidada, o Governo conservador teria encaminhado, desde 2008, vale dizer, há 5 anos, um amplo programa de privatizações da infra-estrutura, fazendo com que portos, ferrovias e vias terrestres, a estas alturas já estivessem mais adequadas a um novo ciclo de exportações. Exportações de quê? Commodities, por certo. Mas, com menor escrúpulo à globalização, o Governo talvez tivesse também conseguido definir alguns segmentos líderes industriais com algum dinamismo externo. Enfim, o Brasil seria menos soberano do que tem sido , seria mais injusto, teria maior instabilidade social e política, mas teria sobrevivido. 

Lula, certamente, já tivesse vencido as eleições de 2010, fortalecido por um grande arco de esquerda em seu apoio. E, já então não necessitasse empenhar sua palavra com uma Carta aos Brasileiros, como a que subscreveu em 2002. Também, diante das privatizações feitas por um Governo conservador, não precisasse fazer o que foi feito nesta semana: entregar portos e petróleo ao capital privado internacional.
Em todo o caso, é errada a ameaça de tipo gaullista: - Depois de mim o Dilúvio. Ou : Se não fosse eu, teríamos naufragado.

O Brasil é grande. Seu povo vigoroso e trabalhador. Aguentou 4 séculos de escravidão. Uma República Oligárquica rancorosa, na qual a questão social era questão de polícia. Suportou 21 anos de regime militar, depois do qual arrastou-se uma Nova Republica  impotente que, à despeito da Constituição Cidadã, desembocou no desastre de Collor, ante-sala de FHC, com o interregno da República do Pão de Queijo. 

Ora... não seria a ausência dos Governos do PT que nos teriam levado ao caos. O PT foi bom. Lula, um reconhecimento internacional, cuja biografia só merece elogios. Costumo dizer que mesmo se não tivesse feito nada – e pouco fez, em termos de desenvolvimento – ainda assim, teria sido importante. Porque foi politicamente importante para despertar séculos de marginalização dos trabalhadores da vida pública.

Volto, pois, ao começo desta coluna: Semana cansada. A República, que sangrara no episódio das tensões entre Judiciário e Congresso, agora sangrou na sua alma, tanto pelo caráter das medidas que assistimos, mas principalmente porque assistimos a imolação de uma imagem: Um Partido que se construiu na crítica às privatizações, se dobra, sem qualquer autocrítica a elas; um Partido que acusou permanentemente a mídia por golpismo conservador, a ela se associa no silêncio dos críticos à sua política; um Partido que teria tudo para permanecer no poder 20 anos, afim de fazer as transformações que o Brasil tanto necessita, mas que, doravante, abre uma fenda imensa na sua imagem. Um Partido que tinha tudo para renovar a esquerda brasileira, unindo-a em um Programa alternativo ao Consenso de Washington, hoje contestado em reunião do próprio FMI na capital americana, dá um pequeno passo para a reeleição de Dilma em 2014, mas um salto mortal à sua própria ruína como opção hegemônica da esquerda brasileira.

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