Drops maio 07 - ECONOMIA BRASILEIRA: PARA ONDE VAMOS
Obituário
de um povo
(Veiculado pelo Correio da Cidadania a
partir de 06/05/13)
Paulo Metri – conselheiro do Clube de
Engenharia
Ao que tudo indica, o que ainda resta de
povo brasileiro independente morrerá nos dias 14 e 15 de maio próximos. Como um
povo sem independência não passa de gado pacífico e, para não deixar tudo para
a última hora, começo a preparar o seu obituário. Depois do nome do falecido,
“Povo Brasileiro Independente”, vem a mensagem fúnebre:
“Com muita tristeza, cumpre-nos o infeliz dever de comunicar a
passagem do povo brasileiro independente. Doloridamente, informamos que o
enfermo vinha, há anos, sofrendo de doença drenadora da sua energia vital. No
passado, a doença era conhecida como ‘entreguismo’ e, hoje, é mais reconhecida
como ‘neoliberalismo’ acoplado a ‘globalização’. Nela, as veias da sociedade
estão abertas e conectadas a sanguessugas externas, que drenam as riquezas
naturais e os lucros obtidos no país”.
“Este povo descende de índios
guerreiros, brasileiros originários, que tinham o pecado de serem atrasados
tecnologicamente. Suas terras foram invadidas, há 513 anos, por usurpadores
europeus e brancos. Estes, sem escrúpulos para dominar, mataram os que não
aceitavam serem escravos, não importando se eram praticamente todos. Não
contentes, trouxeram povos da África para trabalhar à força e, assim, se
fartarem com este capitalismo cruel. Posteriormente, outros imigrantes,
forçados por guerras e pela fome de outras terras, aqui desembarcaram para
contribuir com sua força de trabalho para a então insipiente transferência de
mais valias. Então, esta mescla de povos de diversas origens compõe o
brasileiro, que tem sido secularmente explorado por locais e estrangeiros.
Durante sua existência, o brasileiro tem tido períodos de conquista de graus de
independência e, infelizmente, outros de perda”.
“Com a chegada da modernidade, a sofisticação e a desfaçatez do
sistema de exploração atingiram seus auges. Foi criado um arcabouço jurídico e
institucional dissimulado, em que a principal drenagem de sangue do paciente se
dá para o exterior. Entretanto, graças à sofisticação, não existem mais
grilhões, pelourinhos e açoites, para se ter súditos servis, bastando somente
existir canais de mídia, que desinformam e criam alienados facilmente
manipuláveis. Ajudam a manipulação, também, os políticos, representantes dos
usurpadores, que administram o sistema, permitindo o sangue do moribundo se
esvair. A escravidão atual se estabelece pela negação à instrução e à
informação correta, que permitiriam existir a cidadania”.
“O pouco que restava do povo brasileiro independente deu seu último
suspiro nos dias 14 e 15 de maio de 2013, quando aconteceu a décima primeira
rodada de leilões de blocos do território nacional para exploração de petróleo,
a maior doação de patrimônio público a grupos estrangeiros já promovida pelo
governo brasileiro, desde nossa independência. Não foram incluídos os anos como
colônia, porque não se sabe o valor exato do ouro roubado por Portugal.
Estima-se que o super-lucro, acima de um lucro normal, das empresas
estrangeiras com esta rodada será de US$ 675 bilhões, a serem realizados em 25
anos, valor que nenhum governante poderia doar, mesmo havendo a pequena
compensação para nosso povo, que são os royalties”.
“O cortejo fúnebre será observado em cada petroleiro que encostar
em uma plataforma, na nossa costa, e zarpar com seu casco cheio do nosso
petróleo indo para algum lugar no exterior, durante 25 anos. Ele deixará aqui a
falta de recursos para educação, saúde, saneamento, habitação, transporte,
ciência e tecnologia, meio ambiente e tudo mais que irá representar um baixo
IDH”.
Este obituário está pronto. Temo pelo
pior que pode acontecer nos dias fatídicos 14 e 15. Mas ainda tenho grande
esperança que a presidente Dilma irá reconhecer os dados contundentes desta
entrega e irá cancelá-la. Alerto a presidente que o presidente da Shell não lhe
disse, na recente audiência concedida, que, se ganhar blocos, não irá comprar
plataformas no Brasil, não encomendará desenvolvimentos aqui e, como
consequência, gerará muito poucos empregos no país, levará toda a produção do
nosso petróleo para o exterior, não construirá refinarias e oleodutos aqui, e
não venderá o petróleo para a Petrobras. Enfim, não ajudará o abastecimento do
Brasil, nem o desenvolvimento brasileiro. Contudo, pagará os 10% de royalties,
e só não pagará mais impostos porque a lei Kandir o impede.
É interessante notar o mundo fictício de
ênfases tendenciosas, criado pela mídia. Sobre o mensalão, foram dadas as mais
variadas cifras como prejuízo infringido à nação, dependendo da fonte da
informação. Mas nenhuma delas, por pesquisa na internet, suplantou o valor de R$
100 milhões. Pois bem, ouvimos sobre este caso durante uns três meses, todos os
dias, cobertura jornalística farta. Este valor é cerca de 13.000 vezes menor
que o atual roubo do petróleo e, no entanto, a mídia divulga praticamente nada
sobre esta rodada.
Aproveito para dar um recado aos
representantes das petroleiras estrangeiras. A revogação das concessões desta
11a rodada, se ela ocorrer, em ano futuro, é algo possível, com a alegação
verdadeira de que o povo não foi consultado sobre a realização da rodada e, se
fosse esclarecido e indagado, teria negado sua realização. O contra-argumento,
que os contratos de concessão são atos jurídicos perfeitos e, por isso, devem
ser respeitados, poderá não prevalecer, à medida que o sistema escolhido para
expressar a vontade popular foi imperfeito.
Blog do autor: http://paulometri.blogspot. com.br/

Nenhum comentário:
Postar um comentário