Uma coisa podemos deduzir: o número de pessoas afetadas pela
Dengue no Município foi alto. Mesmo depois de baixar a temperatura, surgem
casos isolados com os seus sintomas.
Muitas pessoas tomam as precauções comuns do uso de soro várias vezes ao
dia, os analgésicos e antitérmicos. Dão tempo ao tempo, até que o desarranjo
intestinal e os vômitos se normalizem, as dores no corpo diminuam e a febre
ceda.
Há aqueles que procuram tratamento
particular e fazem os exames fora da assistência do SUS – Sistema Único de
Saúde. Se tivesse havido divulgação sistemática
do número de notificação e casos confirmados pela Secretaria da Saúde,
poder-se-ia estimar a incidência pelo menos ao dobro dos dados oficiais,
levando-se em conta os que superaram a fase por conta própria indo ao médico ou
não. A divulgação contribuiria para
despertar a população nos hábitos diários para erradicar focos e demais causas
que produzem seus efeitos a médio e longo prazo, quando a doença deixa de ser endemia
para atingir a abrangência de epidemia.
Quando a doença toma contornos
alarmantes, principalmente se provoca hemorragia e causa óbito, cria-se um
clima de terror e se intensificam as ações para descobrir focos de propagação
de mosquito Aedes aegypti. E cada agente
de saúde se transforma em um Sherlock Holmes a procurar o inimigo público
número 1 tupiniquim.
Caixa d’água, pneus velhos, latinhas
abandonadas, garrafas quebradas sob matagais... todos se tornam suspeitos até
prova em contrário. Ainda que seja uma tampinha de garrafa de boca para cima
tem de passar pelo visor da Lupa, até se comprovar que não há ovos nem larvas do
terrível inimigo. É recomendável a todos
os habitantes verificar se não há vizinho suspeito de deixar a sua caixa
destampada. Chega-se ao ponto de criar um “disk-mosquito”, com sigilo garantido
para quem denunciar. Passa o carro fumacê
do município, logo depois o do estado. É aconselhado retirar animais das
varandas, das janelas no combate feroz ao inimigo oculto. Só falta chamar as forças armadas a combater
por terra e por ar o perigo dengoso, com tanques e aviões de guerra. Tanto foco
incógnito que precisa trazer de volta o terrível SNI da Ditadura Militar, ou
mais do que isto: agentes da CIA – a espionagem de inteligência dos Estados
Unidos. Se os instrumentos da lógica e da ciência fracassam, às vezes se apela pelas causas na
administração passada.
Nessa mistura da vida imitando a arte,
damos um passeio pela cidade, e aparecem vestígios aos olhos de todos, longe
dos matagais, fora dos fundos de quintal, das lajes das casas, dos vasos de
flores, em plenas vias públicas: as poças de água das chuvas, às vezes caídas
há vários dias, e que permanecem onde todo mundo passa. Não só nas estradas de chão da zona rural, ou
das ruas descalçadas da periferia. Mas
nos buracos do calçamento danificado.
Há
um corredor dessas poças: a trilha formada pela estrada de ferro, nos espaços
sem drenagem, entre trilhos de ferro e dormentes, nas suas várias
depressões. A Rua Major Felicíssimo é um
exemplo, que por várias outras razões e por mais esta precisa ser pavimentada
onde só em meia pista é aproveitada e calçada.
Rua Major Felicíssimo, próximo ao antigo Beco do Antônio Aleixo. CM 14/04/2013
Como
“um único mosquito desses em toda a sua vida (45
dias em média) pode contaminar até 300 pessoas”(Wikipédia), não dá para se ter
ideia de quando o perigo tenha sido erradicado. Pela incidência explícita no Município e pela
sua repetição periódica, fica a impressão de que Visconde do Rio Branco tornou-se
um ‘habitat’ natural do Aedes Aegypti. E alguns médicos acham que no
último surto haja aparecido um vírus diferente, ou transformado
geneticamente. E sobre essa provável
transmutação a ciência ainda não demonstrou ter chegado a uma conclusão.
Poderia haver hipoteticamente um fenômeno genético enquadrado na teoria da
evolução da espécie. Se for, a ciência tem
que avançar muito para produzir vacinas tão logo seja detectada nova forma do
vírus.
Quando se teme aglomeração de pessoas,
como nas festas de carnaval, nas passagens de ano e nos estádios de futebol,
alguns acham que as pessoas transmitam umas para as outras. Não é bem assim. Um mosquito pode infetar várias pessoas ao
mesmo tempo. Nunca uma pessoa transmite
o vírus a outra.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@mail.com)
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