- A Aquisição da Linguagem – Teorias e Fatos
sumário
apresentação
- introdução
- A Aquisição da Linguagem – Teorias e Fatos
- a aquisição da linguagem segundo o behaviorismo
- a aquisição da linguagem segundo chomsky
- aquisição da linguagem segundo Piaget
- A teoria de albano
- Análise de registros de fala
- conclusões
- bibliografia
apresentação
O presente trabalho tem por objetivo apresentar e discutir as principais abordagens teóricas sobre a aquisição da linguagem. Para tanto, utilizaremos como referencial teórico as reflexões sobre o tema desenvolvidas por ALBANO (1990), em Da fala à linguagem: tocando de ouvido.
Este trabalho foi realizado como requisito para a conclusão do Seminário “Aquisição da Linguagem”, ministrado pela Profa. Dra. Elizabeth Reis Teixeira, da UFBA, nos dias 19 e 20 de março de 2002, na Universidade Católica de Pernambuco.
- introdução
A linguagem da criança sempre provocou especulações diversas entre leigos ou estudiosos do assunto, mas durante muito tempo estes trabalhos foram escassos e esparsos. Entender como pequenas criaturas são capazes de tanta criatividade e eloquência linguística sempre foi um desafio para muitos.
Estudos sistemáticos sobre o que a criança aprende e como adquire a linguagem, começaram a se desenvolver no século XX. Com a expansão da população infantil e o surgimento das instituições escolares, a criança passa a ser vista como um ser diferenciado, que precisa de cuidados e atenções especiais para se desenvolver, e não mais como um “adulto em miniatura”.
Assim, diversos pesquisadores passaram a estudar os fenômenos referentes à linguagem e ao pensamento infantil. Psicólogos do desenvolvimento como Stern, Bühler, Binet e Guillaume passam a entender a linguagem infantil como um eloqüente indício da intensa atividade intelectual exercida pela criança desde cedo. (ALBANO, 1990, p. 05)
Estudos na área de aquisição da linguagem desenvolveram-se, e hoje constituem uma área de estudos multidisciplinar, tanto da Lingüística como da Psicologia Cognitiva
Mas até chegarmos aos dias de hoje, um longo caminho dentro das ciências da linguagem e do comportamento foi percorrido. É este caminho que, resumidamente, percorreremos agora.
- A Aquisição da Linguagem – Teorias e Fatos
- a aquisição da linguagem segundo o behaviorismo
Os estudos sobre a aquisição da linguagem nos Estados Unidos, durante a primeira metade do século XX eram de natureza mecanicista. O quadro científico era na época dominado pela corrente Behaviorista ou ambientalista, dominante nas teorias da aprendizagem.
Segundo o behaviorismo, a aprendizagem da linguagem seria fator de exposição ao meio e decorrente de mecanismos comportamentais como reforço, estímulo e resposta,. (SCARPA, 2001) e a linguagem passa a ser vista como a origem física de todo o pensamento.
Skinner, psicólogo cujo trabalho foi o mais influente no behaviorismo, parte de pressupostos tanto metodológicos quanto teórico-epistemológicos e propõe então enquadrar a linguagem, ou comportamento verbal, em uma cadeia associativa, isto é, sucessões lineares de estímulo resposta e reforço, que explicam o condicionamento e estão na base da estrutura do comportamento.
As principais críticas à teoria Behaviorista são, segundo Albano (1990, p.06):
- Para os behavioristas todo e qualquer comportamento, incluindo-se aí a linguagem, é explicado através de cadeias associativas, isto é, sucessões lineares de estímulos respostas. Assim, baseando-se neste construto, fica impossível para o behaviorismo explicar enunciados como “O gato que matou u rato que comeu o queijo que você comprou morreu”, pois isso altera o modelo de cadeia behaviorista, interrompendo a relação de dois elementos por um número imprevisível de outros elementos.
- O Behaviorismo não considera que as respostas dadas pelas crianças possam sofrer influências do meio, como nos casos de generalização ou imitação que as crianças fazem à partir da fala de seus interlocutores, não podendo explicar este fenômeno apenas como estímulo-resposta.
- a aquisição da linguagem segundo chomsky
Em 1959 o então jovem lingüista Noam Chomsky publica uma resenha do livro Verbal Behavior de Skinner, posicionando-se contra a visão ambientalista de aprendizagem da linguagem. (SCARPA, 2001)
Segundo Chomsky, estruturas de condicionamento e aprendizagem por mecanismos de contingenciamento ou imitação não podem explicar a complexidade do conhecimento linguístico que segundo ele tem raízes genéticas E, portanto universais. Assim, se usamos estruturas tão complexas para falar é porque podemos aprendê-las ou já nascemos com elas.
Assim, Chomsky formula sua teoria Inatista, postulando a existência de estruturas linguísticas inatas, formalmente muito complexas, e presentes nos estados rudimentares da aquisição da gramática de qualquer língua. (ALBANO, 1990, p.07) Estas estruturas, denominadas DAL, ou dispositivo inato de aquisição da linguagem, elaboram hipóteses linguísticas sobre dados linguísticos primários, ou seja, a língua à qual a criança está exposta. Desta forma, o conhecimento linguístico da criança se organiza progressivamente através de regras gerais, das quais a fala adulta só oferece pistas indiretas.
Esta teoria da aquisição da linguagem proposta por Chomsky é conhecida como teoria do “Pequeno Linguista”, pois concebe a criança como um obsessivo criador de regras.
Segundo Albano (1990, p. 19), a teoria chomskyana de aquisição da linguagem despreza a especificidade da linguagem, constituindo um retrocesso explicá-la através de idéias inatas. O grande entrave da teoria chomskyana é, se admitirmos que todo saber é inato, foca difícil explicar porque certos conhecimentos afloram tão lenta e tortuosamente, enquanto outros aparecem de súbito e outros ainda, retrocedem até desaparecerem. Ainda segundo Albano (1990, p. 19), se há uma linguagem e uma lógica inatas, a descoberta de irregularidades na língua deve ter um caráter quase instantâneo : uma vez achada a solução correta para um problema, não há razão para desvios ou retornos.
- aquisição da linguagem segundo Piaget
Segundo Albano (1990, p.18), Piaget deu muito pouca atenção à linguagem em sua teoria geral do desenvolvimento, em consequência de sua postura contrária ao positivismo lógico. Para Piaget, a aquisição da linguagem desempenhava o papel essencial de traduzir o pensamento ( Aimard, 1998).
Mas, ainda segundo a autora, o processo de aquisição da linguagem é mais “piagetiano” do que parece, pois saberes presentes num dado momento de desenvolvimento da criança, desaparecem e reaparecem estruturados depois. O conhecimento linguístico manifesta seu caráter “piagetiano”, isto é, de abstração progressiva com reestruturações sucessivas, no interior da própria linguagem.
Declarando-se uma construtivista de inspiração piagetiana, Albano, em sua teoria sobre a aquisição da linguagem, discorda de Piaget nos seguintes pontos:
- A primeira divergência consiste em admitir predisposições inatas já bastante específicas e diferenciadas. Segundo Albano (1990, p.20), Piaget propôs que o desenvolvimento procede da indiferenciação para a diferenciação, através da atividade estruturante do sujeito. Albano então remete à teoria do “infante competente” (Stone) que demonstra que a criança é capaz de realizar uma vasta gama de discriminações ou mesmo categorizações desde recém nascido.
- Outra divergência com relação à Piaget, segundo Albano (1990,p.21), concerne ao poder do indivíduo enquanto sujeito de seu conhecimento. Para Piaget, a criança constrói o saber em interação com o meio através de um processo conhecido como auto-regulação. Para Albano (1990, p.21), se a sensoriomotricidade já possui subsistemas especializados desde o nascimento, é possível ao conhecimento se auto-organizar a partir das interações entre estes subsistemas. Esta é a faceta da auto-organização que concerne à estrutura do indivíduo.
- A teoria de albano
Albano denomina sua teoria de construtivista de inspiração piagetiana, como já foi dito anteriormente. Sua principal tese (p.19) é de que a linguagem se constrói a partir de condutas sensoriomotoras neurofisiológicamente mais plásticas, isto é, mais capazes de se interligar a outras condutas sem perder a própria autonomia, a saber: a vocalização/audição e, alternadamente, na surdez, a gesticulação/visão. Assim, a autora pretende demostrar certos conhecimentos mais antigos, emergidos do interior desse sistema, podem integrar-se a outros e reorganizar-se progressivamente a partir do momento da descoberta da linguagem. Desse ponto de vista, é possível aprender a falar com recursos mais concretos que uma linguagem e uma lógica inata, através da abstração pela coordenação de perspectivas construídas em diferentes experiências com a própria linguagem, tais recursos sofrem mudanças qualitativas, ganhando um estatuto linguístico gramatical.
Ainda em sua teoria, Albano (1990,p.20), conceitua linguagem como qualquer aprofundamento de uma tal perspectiva onde já há uma combinatória mínima de unidades simbólicas como, por exemplo, quando a criança começa a combinar palavras ou dividi-las em unidades menores.
Para a autora (p.20), se chega à linguagem tocando de ouvido, onde o toque de ouvido é definido como a atividade de inserir a conduta sensoriomotora num contexto simbólico. Assim, tocar de ouvido é confeccionar um símbolo com recursos concretos, ou quase concretos.
Segundo Albano (1990, p.23), quatro condições são absolutamente imprescindíveis para o desenvolvimento da linguagem:
- A presença de um interesse subjetivo pela linguagem, isto é, uma disposição de brincar com as condutas que a aproximam.
- A existência de pelo menos um sistema sensoriomotor que permita exorbitar da brincadeira, que tenha uma estruturação prévia bastante rica para ser desfeita e refeita.
- A inserção da criança num meio onde a linguagem faça parte de rotinas significativas.
- A presença de uma língua minimamente auto-referenciada, que contenha alguns mecanismos gramaticais, sinalizando a própria organização, para que a descoberta de sua estrutura possa proceder eficientemente seguindo uma direção mais ou menos determinada.
- Análise de registros de fala
- ó que qu’ô fazi! (p.05)
Albano (1990, p.05) coloca o enunciado acima para exemplificar a tendência que têm as crianças, num certo período de regularizar as irregularidades de sua língua. A autora explica o enunciado à partir da Teoria Behaviorista.
Segundo os behavioristas, o processo de aquisição da linguagem era visto como um simples estabelecimento de associações entre estímulos (palavras ouvidas) e respostas (vocalizações espontâneas da criança). Assim enunciados como o citado pela autora eram interpretados como decorrentes do mecanismo de “generalização”, onde uma resposta condicionada (a vogal final “i”) associa-se a um novo estímulo (o verbo “fazer”), semelhante ao estímulo do verbo comer (comi).
- ô dinda, vencato! (p.14)
Neste enunciado, Albano pode perceber uma variante de “vem cá”, mas só
com a convivência com a criança pode concluir que esta utilizava o final to em enunciados com a finalidade de dar ordens.
Estas irregularidades originaram-se em formas adultas de flexionar os verbos no imperativo, que a criança utilizava da fala materna.
- mão! (p.24)
O enunciado “mão!”, foi gritado insistentemente por uma criança de um ano e meio, alternando o olhar entre um brinquedo de rodas e o avô. Segundo Albano (1990, p.24) este fenômeno é explicado pela sensoriomotricidade plástica semi automática que a criança possui, e da qual muitas vezes o adulto não se dá conta.
Assim, esta experiência mostra que a expressão verbal de cenas manipulativas privilegia o objeto ou o agente do movimento, uma vez que organizada em função da linguagem em si mesma. Tal classificação faz-se possível porque a sensoriomotricidade que dá sentido às palavras é independente daquela que lhes dá forma, dando margem a coordenações mais ou menos arbitrárias.
- conclusões
Acabamos de ver algumas teorias e fatos relacionados à aquisição da linguagem pelas crianças. Estas teorias não esgotam todas as existentes sobre o assunto. Pesquisas na área desenvolvem-se tentando preencher lacunas existentes.
Assim, pensar a linguagem da criança é um desafio instigante para muitos pesquisadores que se aventuram pelos caminhos das ciências da linguagem.
- bibliografia
AIMARD, Paule. O surgimento da linguagem na criança. Porto Alegre: Editora Artmed, 1998.
ALBANO, Eleonora C. Da fala à linguagem – Tocando de ouvido. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1990.
SCARPA, Ester M. Aquisição da Linguagem in Introdução à lingüística – domínios e fronteiras – volume 2. Capítulo 7 São Paulo: Editora Cortez, 2001.
A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – TEORIAS E FATOS
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