sexta-feira, 12 de julho de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops - Inf.Diário paulotimm.com.br





 Sexo e Amor: Os signos das manifestações

                           Paulo Timm – Torres julho,12 - copyleft

Fechado o Dia de Lutas, que caracterizou um outro tipo de manifestação, no cardápio das recentes mobilizações de massa que agitam o país, urge a comparação com o que ocorreu no mês passado. A melhor avaliação que li foi do Cientista Político Marco Aurelio Nogueira , publicado no seu blog e que assim sintetiza

Os protestos de junho pediram reconhecimento e políticas públicas; os de julho falaram pelo trabalho. Em junho, escutaram-se os gemidos de um mundo que desponta; em julho, o grito rouco e cansado de um mundo que resiste para não acabar.


Com efeito, as duas manifestações foram massivas e exitosas, mas expressam e se expressam como fenômenos diferentes.

O grande mérito de junho foi  a espontaneidade do movimento, deflagrado em decorrência de uma luta localizada contra o aumento de tarifas de ônibus e da forma como foi reprimida pelas autoridades. Não houve planejamento, não havia infra-estrutura, não se viam líderes nem carros de som nas passeatas. O povo, esta categoria analítica invertebrada e difusa – polissêmico e horizontal, no dizer do Marco A.Nogueira - , simplesmente desabou  sobre as ruas dos principais centros metropolitanos do país, numa atitude de  desabafo: Chega!  As redes sociais impulsionaram a mobilização e coroaram sua importância nos dias que correm.

A ninguém ocorre, hoje ler O QUE FAZER?, do Lênin, para comunicar dissabores com a vida pública. Melhor correr para o Face ou fazer um Blog. Se for um contratempo exclusivamente pessoal, talvez morra no próprio post. Mas se milhares de pessoas se identificam com o mesmo problema, isto cria uma reação em cadeia que inflama a comunicação social e acaba produzindo o que vimos em junho: mobilização. Não foram, pois, as redes que fizeram as manifestações de junho. Foi a pré-existência de uma mal estar na sociedade, sobretudo na classe média tradicional, insatisfeita com a forma como as questões de Estado se sentem tratadas por autoridades federais , estaduais e municipais. Registre-se que são esses segmentos que acabaram pagando a fatura do saco de bondades dos governos petistas no últimos dez anos, tanto pelo lado das perdas salariais, como das perdas de vagas universitárias no regime de cotas, como por perdas na cobrança de Taxa Previdenciária sobre pensões e aposentadorias, e custos elevados dos Planos de Saúde a que se vê constrangida.   A ela devem ter se associado amplas camadas de segmentos emergentes, os quais, saciados em seu afã de sobrevivência, enfrentam novos desafios decorrentes da própria condição social que passam a desfrutar: as prestações elevadas da Casa Própria e dos carros recém adquiridos, os custos de gestão destes novos bens, as dificuldades para enfrentar os altos preços dos estudos técnicos e superiores, os altos juros dos cartões de crédito.  Mesmo com a sobrevivência de imensas camadas de pobreza no pais, as classes de renda  entre 2 e 10 salários mínimos ultrapassam 25% dos assalariados (Censo 2010-http://veja.abril.com.br/infograficos/censo2012/censo2012.swf), chegando, certamente a 50% quando somadas em família,  residem em grandes cidades, assistem diariamente televisão, um meio dominado por visões unilaterais das questões nacionais, altamente intoxicantes. Não temos pesquisas, no Brasil,  que demonstrem como estes grupos se informam, mas sabe-se que nos Estados Unidos 75% de seus habitantes ainda sabem das coisas através da televisão. Não seria de estranhar se descobríssemos que o processo do Mensalão, associado à ampla repercussão de outros escândalos na Televisão, foi o principal fermento do estado de espírito que desembocou poeticamente  nas ruas no mês de junho. Independentemente disto, ele foi, rigorosamente, uma explosão de sentimentos a favor de uma mudança radical na vida política do país. Foi isto que a própria Presidente Dilma percebeu e que procurou responder, embora obliquamente, como destacou outro analista da conjuntura,  com sua proposta de Reforma Política. Faltam-lha forças políticas para um grande entendimento nacional rumo a esta Reforma. Mas este foi, na verdade, o grande clamor de junho, embora  pouco explícito , e que corresponde a uma crise de crescimento e maturidade da sociedade brasileira, depois de 30 anos de um regime de inéditas liberdades publicas e privadas. Um grito, por certo, reverberado pela classe média, sempre ciosa tanto de direitos adquiridos, como de um conjunto de valores tradicionais.

Já a manifestação de julho, foi mais do mesmo de sempre: As razões do mundo do trabalho.  Resultou numa ampla paralisação, distante porém, de uma greve geral, salvo em poucas cidades, como Porto Alegre, já inflamadas por processos anteriores . Foi um movimento “ vertical” (MAN)- a que poderíamos agregar “sistêmico”,  centralmente organizado  pelas centrais sindicais, aos quais se associaram alguns movimentos , como o MST, em alguns Estados, centrado em demandas trabalhistas: O fim do fator  previdenciário, a redução da jornada de trabalho e reforma agrária e pisos mínimos de 10% do Orçamento da União para Educação e Saúde. Todas elas já defendidas pelos trabalhadores há longa data e em histórica negociação com patrões e Governo Federal. Faltou-lhe, entretanto, uma justificativa além do registro da presença nas ruas. Diferentemente do maio de 68, em Paris, quando a incorporação dos trabalhadores engrossou e radicalizou o movimento estudantil, o paro das Centrais,  ontem, pairou no ar, segmentou-se e se fechou em si mesmo. Aconteceu, mas não empolgou. Faltou-lhe a emoção que marcou as manifestações de junho. Curiosamente, apesar de ser uma presença vertebrada, não mostrou nem musculatura, nem sistema nervoso. No fundo, mais conservadora e menos ameaçadora do que os idos de junho, a justificar as últimas entrevistas do historiador Eric Hobsbawn que creditava às classes médias, nos tempos atuais, um papel mais revolucionário do que o do proletariado. Aqui no Brasil, mais evidente pelo fato de que as centrais de trabalhadores e movimentos sociais organizados se encontram profundamente articulados ao Governo do PT e, portanto, tanto quanto na época de Jango, em 1964, inibidos para uma ação de confronto com o status quo.

Um e outro movimento, porém, carregam sua natureza, trajetória e destinos. Cumprem funções diferentes. Salvo os torcedores, que tratam a Política com a mesmo paixão que devotam ao seu time de futebol, são mais complementares do que propriamente concorrentes. O risco, aliás, de torná-los competitivos pode significar uma redução da Política ao fundamentalismo, contrapondo ambos movimentos de forma irredutível, tal como estamos vendo no Egito. Melhor, pois, observar tudo com atenção, sem cair nesta tentação. O país, independentemente de quem esteja no Governo, exige mudanças na sua cultura e instituições políticas, as quais são, hoje como ontem, proclamadas por vozes das classes médias, mas elas só se realizarão se todas as forças sociais  interessadas na Reforma Política se unirem neste processo.

Há algum tempo Rita Lee, em controverso canto, falou-nos do “ Sexo e Amor”, o primeiro como Poesia, o segundo como Prosa.  Inspirador, como tudo o que deseja e faz. Eu diria: Junho é sexo; julho é amor. Falta-nos, ainda, o enredo do romance...Por oportuno, ocorre-me,  trazer-lhes à lembrança:


Amor E Sexo

http://letras.mus.br/rita-lee/74440/

                     Rita Lee

Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..
Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...
O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...
Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...
Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...
Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!
Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário