quinta-feira, 18 de julho de 2013

Estrada de Ferro Leopoldina revela o mal das privatizações




                             


         A Estrada de Ferro Leopoldina Railway, depois de encampada no início dos anos 50 pelo governo brasileiro, desempenhava relevante papel social em nossa região, quando ligava o Rio de Janeiro a Ponte Nova e chegava até Caratinga.  Era meio de transporte barato para cargas e passageiros e sujeito a menores riscos de acidentes se comparado às rodovias.  Seus operários recebiam justa remuneração para manutenção da estrutura de seus trilhos, com base em pedras britadas e dormentes, durante algum tempo de madeira, depois de ferro.  Construíam suas casas às margens da ferrovia e fortaleciam o mercado das cidades por onde passava.  Fonte de emprego seguro que dava suporte aos trabalhadores para manterem suas famílias e ajudar parentes em situação menos favorável.

         A ferrovia é o segundo meio de transporte mais barato, atrás apenas da hidrovia.  E o país tem no ferro a matéria prima necessária para a produção de suas máquinas, vagões, classes e os trilhos. A siderurgia veio em meados do Século passado a fim de processar essa transformação. Para se ter uma ideia do quanto seus custos são baixos, basta comparar um trecho de estrada asfaltada com outro de mesma distância composta de dois trilhos e dormentes.  E a durabilidade da ferrovia é muitas vezes superior à rodovia, além da capacidade de volume transportado.  Enquanto o “cavalo” de uma carreta puxa apenas uma carroceria, a máquina de trem arrasta um comboio de dezenas de vagões.  O número de passageiros de um ônibus é incomparavelmente inferior aos viajantes de várias classes de trem.  Essas capacidades deixam clara a diferença de custo de uns e outros.

         Por outro lado, a economia de divisas no transporte ferroviário fica evidente, quando percebemos que o seu material não depende de importação.  No transporte rodoviário os pneus, embora produzidos com a borracha da nossa Amazônia, suas fábricas são Goodyear, Firestone e outras marcas estadunidenses, e com durabilidade limitada.   Não há razão lógica para a substituição do transporte ferroviário pelo rodoviário, a não ser interesses econômicos de grupos multinacionais que encarecem a locomoção de pessoas e o preço de mercadorias transportadas. 





UM RETROCESSO INEXPLICÁVEL*
“A involução da malha ferroviária ilustra com perfeição a situação da infra -estrutura brasileira. O ideal seria que ela tivesse, pelo menos, 55.000 quilômetros de extensão.”





         Essa substituição impatriótica e prejudicial à economia popular tomou corpo a partir da Ditadura Militar. E Visconde do Rio Branco, como todas as cidades que serviam de itinerário para a Estrada de Ferro Leopoldina, sentiu os efeitos danosos da privatização da estrada de ferro, que levou à sua extinção, à queda do emprego de qualidade para o trabalhador, e do mercado local.

         Os países desenvolvidos, principalmente os de dimensões continentais, têm nas ferrovias seu principal meio de transporte.  A substituição ocorrida no Brasil, e sentida diretamente aqui, corresponde a uma ação criminosa, de lesa pátria, pois contraria os interesses do país e de seu povo. E leva os trabalhadores, que poderiam estar ocupados na ferrovia, a se submeterem ao subemprego de salários irrisórios de um sistema responsável por uma crescente concentração da renda e da riqueza, que torna o Brasil um dos países mais injustos do mundo.

         A transformação que vemos em Visconde do Rio Branco é um retrato do Brasil. Testemunhamos aqui a força de trabalho mal remunerado produzir a riqueza da terra que vai para fora.  Fica a migalha para o povo. E o grosso dessa produção fica em poder de poucos, que vão acumulando, acumulando.  Com os bens acumulados uma minoria tem cada vez mais poder em uma espiral sem fim, sem limites, que faz do trabalho um objeto de mercado, e do trabalhador uma peça qualquer, como engrenagem de uma gigantesca máquina.  Depois de velha, ou quebrada, é jogada fora, descartada como sucata humana.

         São histórias paralelas a da nossa Leopoldina e a do nosso povo.  Ela foi Railway que servia para canalizar nossos valores para os ingleses.  Encampada, teve valor nacional e serviu ao nosso povo.  Privatizada, virou sucata para favorecer às multinacionais exploradoras de nossas estradas de asfalto.  Agora se anuncia a sua volta, para ligar Uruaçu(Goiás) a Campos dos Goytacazes(Rio de Janeiro), nestes tempos de Petróleo e Pré-Sal no litoral fluminense.  As privatizações estão ocorrendo em todos os setores rentáveis da economia brasileira.  As rendas no setor energético vão destinar 90% aos grupos privados predominantemente estrangeiros;  o governo brasileiro fica com os restantes 10%. Essa estrada vai passar em parte da zona da Mata mineira, coincidente com trecho da antiga estrada que um dia ligou a Paróquia de São João Batista a Campos(RJ).  Depois de Viçosa, passará por Ervália, São Geraldo,  Guiricema, São Sebastião da Vargem Alegre, Miraí, Muriaé....  até chegar ao destino das riquezas no fundo do mar. São Geraldo e Guiricema são partes da Comarca de Visconde do Rio Branco e fazem divisa com a sede, que, no entanto, verá o trem de longe, não mais como a Maria Fumaça, talvez nem ouvirá o seu ruído que as tecnologias modernas eliminam.  Vemos de perto os efeitos das desnacionalizações que atingem até sentimentos piegas de um regionalismo abafado pelo efeito da globalização predatória.

Lá foi o trem!!!!!
Imagem: Turista


(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)


Nenhum comentário:

Postar um comentário