terça-feira, 23 de julho de 2013

SAYONARA(QUARAÍ-RS) - EDUCAÇÃO - A PEDAGOGIA NA ESCOLA DAS DIFERENÇAS





A PEDAGOGIA NA ESCOLA DAS DIFERENÇAS


RELAÇÃO PEDAGÓGICA E DISTÂNCIA CULTURAIS

Para ler e refletir

“No grupo classe a responsabilidade do professor é: ensinar. Essa intenção de instruir obriga a uma estratégia ativa; obriga a buscar a interação e a construir uma relação, o mais positiva possível, mesmo com alunos que o desconcertam, o decepcionam, o incomodam ou simplesmente com os quais ele sente não ter qualquer afinidade. Por isso, deve tentar diminuir a distância existente entre ele e algumas crianças, uma distância provocada pelo conjunto de mal-entendidos, das rejeições, dos juízos de valor, dos rótulos desqualificadores, das diferenças não-aceitas que tornam a comunicação difícil, a relação conflituosa entre o professor e seus alunos.

A essa distância estatutária (o status de professor na sala) soma-se uma distância pessoal e cultural desigual, conforme os alunos. De onde ela vem? Uma parcela importante dessa distância certamente vem do fato de que o professor tem um projeto a ser inculcado e, por conseguinte, espera do aluno disciplina, trabalho, atenção, esforços contínuos e, em definitivo, aprendizagens. Essas expectativas criam uma tensão potencial, que se atualiza cada vez que o aluno resiste a elas e não as satisfaz.

A distância entre professor e o aluno irá se enraizar, então, no juízo de menosprezo do professor sobre o valor escolar e o comportamento de certas crianças/adolescentes. Através da avaliação formal, assim como de vários outros indicadores, o professor revela o que pensa a respeito das competências intelectuais de um aluno, bem como de sua vontade, de seu desejo de aprender, de sua capacidade de organizar seu trabalho e levá-lo a sério, de sua honestidade, de sua criatividade, de sua habilidade.

Para uma criança/adolescente é difícil ter uma relação positiva com alguém que a julga soberanamente em todos esses âmbitos, sobretudo quando seu juízo é desfavorável; alguém que sanciona seus erros e falhas, que a expõe a recriminações, a vexames públicos, que a ameaça com um fracasso, que se queixa aos seus pais.

Em sentido inverso, também não é fácil para o professor ter uma atitude positiva com relação a uma criança/adolescente que não sabe nada e que, além disso, não se esforça para aprender e assume o papel de mau aluno. Não há condições para se construir uma relação positiva baseada na estima mútua e na afeição recíproca. E todos os discursos modernos proclamam que essa é uma condição para o sucesso da ação educativa.

Existem outras distâncias ainda mais difíceis de superar, ou porque os interesses vitais do professor estão em jogo, ou porque a distância é mantida através de mecanismos pouco conscientes, em âmbitos que aparentemente, não se referem à excelência escolar stricto sensu, mas ao conjunto das condutas, das maneiras de ser, dos modos de relação com o outro que se desenvolvem na classe concebida como sistema social, rede de relações interpessoais, lugar de trabalho, mas também de jogo, de trocas, de poder de vida coletiva, de decisões.

Os interesses vitais de um professor estão em jogo quando um ou vários alunos opõem-se a ele e transgridem as regras de conduta, chegando a comprometer sua autoridade e o funcionamento do grupo classe. Um aluno do ensino médio pode entrar regularmente em conflito com seu professor de biologia ou matemática, o qual ele encontra apenas algumas horas por semana; no restante do tempo, tem relações diferentes com outros professores.

Alguns desvios que colocam em jogo os interesses vitais do professor, seja porque desorganizam diretamente o funcionamento do grupo, seja porque enfraquecem a autoridade do professor e criam precedentes:
  • Ausência frequente e injustificada.
  • Atrasos reiterados.
  • Agressão, violência física na classe ou no prédio escolar.
  • Depredações, destruição do material.
  • Recusa em fazer um trabalho, de obedecer a uma ordem, sobretudo quando a recusa for evidente e representar um desafio à autoridade do professor.
  • Uso de palavras não autorizadas, se forem frequentes, ruidosas, se interromperem as atividades dos outros.
  • Grosseria deliberada, agressão verbal violenta contra as pessoas.
  • Maledicência, difamação, mentiras graves.
  • Trapaças graves, falsificação de documentação ou de assinaturas.
  • Discriminação racial, social ou sexual caracterizada.

A lista não é limitativa. Tais transgressões são intoleráveis para a maioria dos professores, porque os atingem pessoalmente em seus valores e interesses, ou porque admitir esse  tipo de comportamento pareceria uma falha profissional. É claro que o limite de tolerância varia muito e pode flutuar durante o dia ou a semana no mesmo professor em função de seu humor, de seu cansaço e de sua atividade.

Essas transgressões remetem a diversas normas, mas quase todas se relacionam ao respeito pelas pessoas ou pelas coisas. O que elas têm em comum é o fato de provocarem repressão e uma relação conflituosa, criando uma situação de crise a partir da qual será necessário reconstruir a comunicação e a cooperação. Nesses casos a diferença cria o máximo possível de distância e conflito.

A essas normas negativas convém acrescentar uma série de condutas valorizadas, cuja ausência não constitui propriamente um desvio, mas cuja manifestação agrada ao professor e faz com que o aluno receba estímulos e elogios.
         Autonomia, capacidade de organizar seu trabalho, eficácia.
         Coleguismo, altruísmo, disposição para servir e ajudar seus colegas.
         Atitude ativa e participativa no trabalho, iniciativa, pesquisa ativa das informações ou do material, contribuição pessoal de idéias.
         Capacidade de assumir responsabilidades e cumprir compromissos.
         Capacidade de pedir desculpas, de restabelecer a comunicação.
         Boa integração ao grupo-classe, participação da dinâmica de conjunto.
         Humor equilibrado, senso de humor, sociabilidade.
         Aplicação, assiduidade, concentração, calma.

Não afirmo que essas últimas expectativas estejam presentes em todos os professores e menos ainda que sejam primordiais.

Por que dar tanta importância a um conjunto de normas e de expectativas que não têm nenhuma relação direta com as competências escolares propriamente ditas, aquelas que o professor tem de desenvolver e avaliar?

Simplesmente porque a diversidade dos alunos de uma mesma classe manifesta-se tanto com relação a essas expectativas e normas quanto com relação às normas de excelência escolar propriamente dita. Em outros termos, a diferenciação das intervenções do professor e de suas relações com os alunos talvez possa ser explicada mais pela diversidade de suas condutas e maneiras de ser do que pela desigualdade de suas competências escolares e capacidades de aprendizagem.

Em suma, quando as diferenças entre crianças/adolescentes manisfestam-se com relação às expectativas normativas do professor em matéria de gosto, de forma de ser e de conduta, essas diferenças provocam intervenções e relações diferenciadas. Aqui a ação pedagógica está longe de ser indiferenciada. Pelo contrário, é constantemente ajustada, de maneira mais ou menos equitativa, à diversidade das personalidades e dos comportamentos, pois, a diferenciação está se dando em função de uma lógica de manutenção da ordem e não da democratização do ensino e igualdade das aquisições escolares. É evidente que a diferenciação estritamente didática desempenha, na regulação do funcionamento do grupo-classe e da ação do professor, um papel menos central que a diferenciação das relações e das intervenções em resposta à diversidade das maneiras de ser e das condutas”.

Gostaríamos que lessem o texto para entendê-lo realmente e que refletissem sobre as colocações do autor, principalmente nas que estão destacadas.

Concordam ou não que diferenciamos mais pela diversidade das maneiras de ser e das condutas (alunos preguiçosos, que não querem estudar, que atrapalham as aulas, que desacatam o professor, não cumprem os deveres em classe ou em casa etc.) do que em relação as desigualdades de aprendizagens?

Como temos pautado nossa ação até agora? O que nos perturba mais: as desigualdades de aprendizagens na classe, os diferentes resultados obtidos pelos alunos ou suas condutas?

Não perca tempo dizendo a você mesmo(a) que os alunos que apresentam desigualdades de aprendizagens são sempre aqueles que têm condutas inadequadas. Reflitam e façam uma análise seguindo as colocações do autor.

Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram." Alexandre Graham Bell
“Não podemos aguardar que os tempos se modifiquem e nós nos modifiquemos junto, por uma revolução que chegue e nos leve em sua marcha. Nós mesmos somos o futuro. Nos somos a revolução”. (Beatrice Bruteau)
Adaptação de Vera Lúcia Camara Zacharias

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