sexta-feira, 26 de julho de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops Informativo julho 26 - FORA CABRAL



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FORA CABRAL!

Paulo Timm – copyleft, julho 26 -Torres

Por dever de consciência, devo dizer que jamais gostei do PMDB. Aliás, nem do MDB, que lhe antecedeu, antes da Reforma Partidária de 1979 que extinguiu os dois Partidos existentes no regime militar e abriu as comportas para a reorganização ideológica e política no país. O MDB nasceu maculado pela unção do regime, depois de fazer a limpa no universo político anterior ao Golpe de 64 com cassações, prisões e exílio de grandes líderes. Aqui no Rio Grande do Sul, onde vivo, chamavam-se os ingressos no MDB  de  “ bigorrilhos”. Sinal de desprezo. O que de melhor havia naquela década posterior ao Golpe entregou-se de corpo e alma à resistência extra parlamentar. O Congresso era apenas uma fachada atrás da qual se escondia o autoritarismo desenfreado. É de se registrar, entretanto, o imenso papel que o MDB, sob a batuta de Ulysses Guimarães, viria a ter depois do fracasso da resistência armada e da tentativa, sustentada por Brizola do VOTO NULO nas eleições de 1970. E mesmo depois, quando o MDB se converteu em PMDB, em 1980, no encaminhamento da redemocratização. Mas é sempre bom que se diga, contrariando o discurso deste Partido, que não foi o MDB-PMDB que lideraram a luta contra a ditadura. A verdadeira luta contra a ditadura foi travada, depois do ocaso da luta armada, por uma ampla e generalizada resistência de caráter eminentemente cultural. Como desprezar o papel do PASQUIM, do Teatro, da Musica Popular na manutenção de um clima de isolamento do regime militar? Como desconhecer o papel da cátedra nas Universidades e Escolas, bem como do púlpito de religiosos como Leonardo Boff, ao longo de todo o território nacional? Como esquecer o papel de instituições como OAB, CNBB e SPBC neste processo? Rigorosamente, aí estava a resistência, que desembocava nos momentos eleitorais como vitórias de candidatos do Partido da Oposição. O MDB-PMDB , nas urnas, era uma espécie de Alice no País das Maravilhas na colheita  primaveril de flores. Consagraram-se com isto, ocupando importantes funções no sistema político. A imagem que passavam à sociedade, distante das lutas, era de que aí estavam “os heróis”. O MDB-PMDB teve, portanto, inequívocos méritos na redemocratização. Mas além do pecado da bênção do regime, na sua criação, grande parte de seus maiores líderes, padeciam de uma espécie  de pecado original. Eles, começando pelo próprio Ulysses , haviam participado do Golpe contra o Presidente Jango, apressando-se em votar no Chefe do Movimento Militar, General Castelo Branco, para lhe completar o mandato, desde que declarado “ vago “ o cargo de Presidente da República. Falo isto, a título de aviso leitores, para que me leiam com o cuidado de saberem que, ao não simpatizar com o MDB-PMDB, carrego nas tintas ao criticá-lo e seus líderes. Aliás, na reorganização partidária de 1979, escrevi várias análises críticas sobre a insistência deste líderes se eternizarem como falsos brilhantes. Estão no meu livro “BRASILIA – O DIREITO À ESPERANÇA”  - BsB – 1990. Fui fundador do PDT, com Brizola e torci de longe, para que o PT desse certo.

Volto ao tema dos Partidos, hoje, porque critico veementemente a tolerância com que forças políticas pós-redemocratização vêem tratando o PMDB. Mercê do monopólio que deteve durante décadas no mecanismo representativo e fortalecido por um discurso que lhe fazia- e , de certa maneira, ainda faz -  merecedor da confiança dos eleitores, este Partido é o maior Partido em termos de Prefeituras no país e detém vários Governos, dentre eles o do Rio de Janeiro. Mas nem este Partido é “ puro “ , no sentido de expressar uma verdadeira liderança na luta contra o regime militar, nem se procurou se purificar na redemocratização. Pelo contrário, pela sua “ amplitude”, foi invadido por defensores do antigo regime, acabando por se converter num valhacouto de oportunistas. Gente sem princípios, nem ideais republicanos sólidos. Interessados, apenas, em aproveitar o potencial eleitoral do Partido para realizar projetos pessoais. Hoje, ao longo do país, com raras exceções, dentre as quais o RS, o PMDB é controlado por caciques que, inclusive, ocupam siglas menores com seus apaniguados, para evitar que cresçam, apareçam e lhe contestem. O caciquismo, no rastro da Lei de Ferro que se conhece no funcionamento dos Partidos, se completa com um novo tipo de clientelismo, agora de face urbana, reeditando, nesse binômio do velho coronelismo tão bem analisado por VITOR NUNES LEAL, em “ Coronelismo, Enxada e Voto” . Não se trata, sequer, de grupos economicamente dominantes que , deste jeito, manipulam a Política. Ao contrário, são senhores decadentes ou ambiciosos emergentes que se usam da Política e do Estado para construir impérios econômicos. E se eternizam. 

Nada mais parecido com isto do que Renan Calheiros. Mas o modelo se repete. E são eles que controlam as instituições e a dinâmica política do país. Os “Felicianos” são seus aprendizes.   E é principalmente contra eles e seus métodos que se ergue o clamor das ruas. Mas, como diz o velho ditado: “ Dize-me com quem andas...” - o PT vai pagar o preço. Porque a ele se consorciou e acabou se envolvendo com os mesmos métodos. Não tem como não pagar a conta. Prova-o a queda na popularidade de Dilma, em menos de dois meses, de 77% para 31%. E vai piorar. Até porque, aparentemente, não tem ela os meios – ou a têmpera – para mudar a situação deslocando o eixo do Governo de uma suposta Governabilidade para a Credibilidade. É refém, na verdade, da ilusão – a meu juízo, já perdida – da vitória eleitoral em 2014.

Tudo isto, a propósito do Governador S.Cabral no Rio de Janeiro. Voltamos, com ele, ao conhecido chaguismo,expressão política que caracterizava o estilo de fazer política do velho e já falecido Governador Chagas Freitas, supostamente de Oposição ao regime, mas eivado de vícios. Brizola derrotou o chaguismo em 1982, mas o estilo desta praga  se perpetua no Rio e hoje emerge exuberante com o atual Governador: Manipulação coronelística – clientelismo + caciquismo , conluio com poderosos grupos econômicos, incompetência, trapalhadas policialescas  e, agora, o  fiasco do Congresso Mundial da Juventude Católica. Que outra palavra para explicar a exposição internacional do Brasil diante dos fatos que acompanham a presença do Papa na cidade? Como diz minha amiga Jornalista Beatriz Bissio:
Beatriz Bissio -FB
As atividades da JMJ que seriam realizadas em Guaratiba foram transferidas pela Prefeitura para a Paria de Copacabana. As chuvas, que não foram levadas em conta ao fazer a opção pelo local, apesar dos dados disponíveis de anos anteriores, teriam provocado a decisão. A infraestrura em Guaratiba estava quase pronta...Muitos perdem com a transferência, sobretudo os pequenos comerciantes locais, que se preparavam para um "extra" com os peregrinos, mas não perde nada o grande empresário de ónibus Jacob Barata, dono de um dos dois terrenos (fazendas, na verdade) que foram terraplanados, dragados e preparados para as atividades do Papa em Guaratiba: ele vai aproveitar a terraplanagem e demais investimentos feitos para a JMJ - sem ele investir um real - para construir um condomínio! Aló Ministério Público!! Aló povo carioca!!! Não seria essa o gota que colmou o copo para iniciar uma campanha de assinaturas exigindo a abertura de um inquérito?

Tem ela razão: Não dá mais! Essa foi a gota d´água. Agora é ganhar as ruas, não arrefecer e levar, pelas manifestações, à renúncia de Cabral. E com ele, à desmoralização de seu Partido, o PMDB, retirando-o da vida pública do país para que possamos arejá-la com novos atores e novos procedimentos.
O Rio de Janeiro é a caixa de ressonância do país. É onde seu coração pulsa mais forte, desde as manifestações liberais de meados do século XIX,  passando pela campanha abolicionista que desembocou na Proclamação da República e na defesa dos valores republicanos do florianismo e do tenentismo. Foi o Rio que consagrou Vargas. Foi o Rio que elegeu Prestes Senador Constituinte comunista em 1945, foi o Rio que elegeu Brizola o deputado mais votado, até então, em 1962. Foi o Rio que compareceu ao Comício da Central do Brasil em 1964 na defesa das Reformas de Base e foi seu povo que colocou cem mil jovens em 1968 dando um ultimato ao regime militar. Foi o Rio que impressionou o mundo com 300 mil pessoas, pacificamente, pelas grandes avenidas da cidade, abrindo passagem para um imperiosa Reforma Política no país. E será o Rio agora que, em uníssono, grita: FORA CABRAL!!!

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