O vírus do dengue pertence à família dos flavivírus e é classificado no meio científico como um arbovírus, os quais são normalmente transmitidos por mosquitos e outros artrópodes. Existem mais de 450 arbovírus, dos quais cerca de cem (como o da febre amarela) podem infectar o homem.
Composto por um filamento único de ácido ribonucléico (RNA) que é revestido por uma capa de proteína (capsídio) icosaédrica, o vírus do dengue se divide em quatro tipos, denominados Den-1, Den-2, Den-3 e Den-4 - normalmente, vírus compostos por RNA tendem a apresentar mais mutações, o que parece não ser o caso do dengue, que pouco se modificou nos últimos anos. Todos os vírus do dengue são transmitidos pela fêmea do mosquito Aedes aegypti e podem causar tanto a manifestação clássica da doença quanto o dengue hemorrágico. Ao que tudo indica, o Den-3 é o tipo mais virulento, seguido pelo Den-2, Den-4 e Den-1 – a virulência é diretamente proporcional à intensidade com que o vírus se multiplica no corpo. O tipo 1 é o mais explosivo dos quatro, ou seja, causa grandes epidemias em curto prazo e alcança milhares de pessoas rapidamente.
O dengue chegou ao Brasil na metade do século XIX. Em 1986, o vírus tipo 1 foi isolado pelo Departamento de Virologia da Fiocruz, chefiado pelo virologista Hermann Schatzmayr. O mesmo departamento também isolou os tipos 2 e 3 (associados às formas mais graves da doença) respectivamente em 1990 e 2001. Ainda não foram encontrados indícios do vírus tipo 4 no país, apesar de sua presença já ter sido constatada no norte da América do Sul e haver um alto risco de introdução do mesmo no Brasil.
O ciclo de transmissão do vírus do dengue começa em uma pessoa que já esteja infectada com a doença. O Ae. aegypti adquire o vírus quando se alimenta do sangue do doente; no entanto, para que isso aconteça, é necessário que o enfermo apresente o vírus circulando em seu sangue (período denominado viremia e que dura em média cinco dias).
Uma vez dentro do Ae. aegypti, o vírus multiplica-se no intestino médio do inseto (parte conhecida como mesêntero) e, com o tempo, passa para outros órgãos, como os ovários, o tecido nervoso e, finalmente, as glândulas salivares, de onde sairá para a corrente sangüínea de outro humano picado. Do momento em que picou o doente até tornar-se vetor permanente, passam-se de oito a 12 dias.
Assim que penetra na corrente sangüínea do indivíduo sadio, o vírus passa a se multiplicar em órgãos específicos, como o baço, o fígado e os tecidos linfáticos. Esse período é conhecido como incubação e dura de quatro a sete dias. Depois o vírus volta à corrente sangüínea, gerando a viremia, que tem início ligeiramente antes do aparecimento dos primeiros sintomas.
O vírus também se replica nas células sangüíneas, como o macrófago, e atinge a medula óssea, onde compromete a produção de plaquetas (elemento presente no sangue, fundamental para os processos de coagulação). Também durante a multiplicação do vírus, formam-se substâncias que agridem as paredes dos vasos sangüíneos, originando uma perda de líquido (plasma). Se isto acontecer muito rapidamente, aliado à diminuição de plaquetas, podem originar-se sérios distúrbios no sistema circulatório como hemorragias e queda da pressão arterial (choque) - este é o quadro do dengue hemorrágico. Além disso, com pouco plasma o sangue fica mais denso, dificultando as trocas gasosas com o pulmão, o que pode gerar uma deficiência respiratória aguda.
Para os casos graves de dengue, costuma-se aplicar soro fisiológico no doente a fim de compensar a perda de líquido. Nos outros casos, a desidratação pode ser contornada com uma dieta baseada na ingestão de frutas, sucos e muita água. A doença persiste entre oito e 15 dias até que o sistema imunológico destrua o vírus.
Medicamentos e vacinas contra o vírus
Não há, até aqui, remédio eficiente contra o vírus do dengue. Uma alternativa para combatê-lo seria a produção de uma vacina, o que ainda não foi possível. Para ser eficiente, essa vacina deverá servir para imunizar as pessoas para os quatro tipos do vírus do dengue. Além disso, não há cobaias para teste, já que a doença é exclusiva do homem. Uma vacina que combata um único tipo de vírus pode ser perigosa, pois caso o vacinado seja infectado com outro tipo, a doença pode manifestar-se de maneira mais severa, causando riscos maiores à saúde.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário