Este foi mais um Primeiro de Maio em que
o trabalhador nada teve a comemorar. A história vem de longe. Mas, no Brasil, somente
vivemos um período de vitórias trabalhistas entre a Revolução de 1930 e o Golpe
Militar de 1964. O feriado serviu apenas
para reflexão sobre aquela fase, quando o país alcançou relativa independência
enquanto a classe trabalhadora conquistava justos direitos.
A Revolução de 30 pôs fim à República
Velha e à prepotência dos coronéis que sucederam a Monarquia portuguesa. Sob a
liderança de Getúlio Vargas, implantou o voto universal e secreto, no lugar do “bico
de pena”, quando aquelas oligarquias levavam seus empregados para “votar” em
livros abertos à vista de seus patrões.
Na primeira década do novo regime, o
governo provisório teve de enfrentar e vencer a revolução paulista de 1932, a
intentona comunista de 1935 e a tentativa de golpe dos integralistas planejada
para 1938, liderada por Plínio Salgado.
Getúlio antecipou-se aos golpistas e estabeleceu o Estado Novo em
1937. No meio dessa turbulência e, após
ela, institucionalizou o voto feminino e legitimou os direitos trabalhistas,
com a Consolidação das Leis do Trabalho que deram direito ao dia semanal de descanso
e às férias remuneradas; as aposentadorias e pensões; à estabilidade no
emprego; às indenizações por dispensa sem justa causa; ao aviso prévio; à
criação do salário-mínimo capaz de cobrir as despesas essenciais à
sobrevivência do trabalhador e sua família, com moradia, alimentação, educação,
lazer, saúde, higiene, vestuário e previdência social, com reajustes periódicos
de forma a manter seu poder aquisitivo.
“O Governo Vargas reduziu consideravelmente a
dívida externa comprovando irregularidades e cláusulas abusivas que constituíam
crimes de lesa-pátria, realizando, para isso, uma auditoria da dívida pública
brasileira reafirmando os compromissos soberanos do nosso país.”(pagina13.org.br)
"Getúlio Vargas, em 1931,
determinou a realização de uma auditoria da dívida externa brasileira, que
provou que somente 40% da dívida estava documentada por contratos, dentre
outros aspectos graves, como ausência de contabilização e de controle das
remessas ao exterior, o que permitiu, na época, grande redução tanto do estoque
como do fluxo de pagamentos, abrindo espaço para a criação de direitos sociais."
(http://cadtm.org/EQUADOR-Auditoria-garante)
Essas e outras medidas tomadas por
Vargas, afirmavam a soberania do País, e lhe deram condições de implantar a
Revolução Industrial para a geração de emprego.
Criou, como documento de segurança do trabalhador, a Carteira de
Trabalho, onde consta o contrato como relação de compromisso entre empregado e
empregador. E tem o histórico funcional
de cada cidadão que serve para demonstrar as experiências, tempo de trabalho em
cada empresa e contagem do tempo de serviço para fins de aposentadoria.
Para participar da Segunda Guerra Mundial,
Getúlio conseguiu dos Estados Unidos os recursos para criar a Cia. Siderúrgica
Nacional(CSN), que, nas palavras de Darcy Ribeiro, tinha o objetivo de ser “uma
fábrica de fábricas”. A sua matéria prima sempre foi abundante no subsolo brasileiro.
Depois da Guerra, Getúlio sofreu um
golpe de gabinete, por influência dos Estados Unidos. Mas criou o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)
e levou adiante sua luta. Voltou à presidência da República pelo voto direto em
1951. Criou a Petrobrás que se tornou a
continuadora do seu programa de descoberta e exploração do petróleo brasileiro
iniciada no primeiro governo. Criou também a Cia. Vale do Rio Doce. Sofre nova pressão de golpe em 1954, e foi
levado à morte(atribuída a suicídio), o que evitou o Golpe, com a posse do
vice, Café Filho. Deixou como herdeiro político
João Goulart, que instituiu o 13º
salário. O Salário família vem do
primeiro governo de Getúlio Vargas.
São trabalhistas históricos:
·
Benedicto Cerqueira, (1919-1982), metalúrgico
·
Darcy Ribeiro (1922-1997), antropólogo e
senador
·
Doutel de Andrade, (1920-1991), jornalista,
advogado e ex-deputado federal pelo RJ e SC
·
Francisco Julião (1915-1999), escritor,
político e militante das Ligas Camponesas
·
Jackson Lago (1934-2011),
médico, ex-prefeito de São Luís e ex-governador do MA
·
Jefferson Peres (1932-2008), senador do AM
·
Leonel Brizola (1922-2004), fundador do
partido(PDT) e ex-governador do RS e RJ
·
Lysâneas Maciel (1916-1999), ex-deputado
federal (RJ) e vereador da cidade do Rio de Janeiro.
·
Lidovino Antonio Fanton (1920-1982),
fundador do partido, ex- deputado estadual (RS) e federal
·
Luís Carlos Prestes (1898-1990), militar,
ex-senador, ex-Secretário Geral do PCB
·
Mário Juruna (1942-2002), cacique indígena
e ex-deputado federal
·
Moacir C. Lopes (1927-2010), escritor e
novelista
·
Neiva Moreira (1917-2012), jornalista e
político
Em 25 de agosto1961,
Jânio quadros, com sete meses de mandato, renunciou à Presidência da República,
alegando “pressões de forças ocultas”.
Tinha como vice João Goulart, que fora eleito na chapa do Marechal
Lott. Naquele tempo, os votos de vice e
de presidente não eram vinculados. Os militares quiseram impedir a posse de
Jango. Leonel Brizola, então Governador
do Rio Grande do Sul, criou a Cadeia da Legalidade (uma série de emissoras de
rádio, a partir da Rádio Guaíba de Porto Alegre, requisitada pelo Governador). Do porão do Palácio Piratini, Brizola
conclamava o povo a resistir ao Golpe e garantir a posse de Goulart. Com o apoio do 3º Exército sediado no RS,
Jango tomou posse, depois de uma negociação intermediada por Tancredo Neves,
sob o Regime Parlamentarista, que foi derrubado por um plebiscito em 06 de
janeiro de 1963. Volta o Regime
Presidencialista.
Jango sentia compromisso com as classes
populares e com as lideranças que pregavam a manutenção da soberania nacional e
exigiam uma série de Reformas. Seu
governo é marcado por um amplo programa em que destacava as Reformas de Base:
urbana, bancária, agrária... e a
limitação de remessas de lucros para o exterior.
Os militares e as forças políticas
conservadoras, aliadas aos Estados Unidos, voltam a se articular para o Golpe
tentado em 1954. Em 1º de Abril de 1964
derrubam o presidente e implantam a Ditadura Militar que durou 21 anos.
O objetivo desses golpistas era afastar o
trabalhismo do poder. A Ditadura levou o
país a um retrocesso de 50 a 100 anos. Voltou à condição de dependente externo,
principalmente por meio da Dívida Externa, que, no fim do Governo Jango era
inferior a 3 bilhões de dólares. E,
quando houve a “redemocratização” estava acima de 200 bilhões.
A “redemocratização” foi condicionada a que a “esquerda”(trabalhismo)
não voltasse ao poder. Para isto criaram
estrategicamente (Golbery) partidos com roupagem de trabalhador, mas sob as bênçãos
dos Estados Unidos e das classes dominantes, para dividir e enfraquecer a
classe trabalhadora até o esgotamento das organizações trabalhistas de fato.
O PT nasceu dessa
estratégia.
Enquanto Leonel
Brizola tinha condições eleitorais, não fora permitida a reeleição. Por isto,
seu projeto educacional do Estado do Rio de Janeiro sofreu abalos. Na sua
primeira eleição naquele estado(1982), o sistema Globo tentou roubar-lhe a
vitória através da fraude que ficou conhecida como Proconsult. Uma auditoria no sistema e a recontagem de
voto a voto levou a justiça eleitoral a oficializar sua vitória. Não podendo ser reeleito, todo o seu trabalho
em torno dos CIEPs foi sabotado. Quando
voltou, em 1990, retomou o projeto dos mais de 500 CIEPs. Sem reeleição, depois de terminado o seu
mandato, os sucessores fizeram água do mais avançado plano educacional
implementado no Brasil.
Com a sua morte, os dirigentes do PDT,
partido que Brizola criou, transformaram-no em uma “sigla de aluguel, um balcão
de negócios”, nas palavras do deputado Paulo Ramos. É um dos vários partidos fisiologistas que
compõem a base do governo, desde Lula (de quem Brizola mandara desligar-se) e
se alia a todos os governadores e prefeitos de qualquer partido que lhe dê uma
secretaria qualquer.
No desmonte da legislação e das
conquistas trabalhistas o PDT de hoje está sendo conivente no famoso “toma lá,
dá cá”, expressão tão usada por Brizola contra os políticos sem princípios e de
mau caráter.
Leiam a coluna do Pedro Porfírio, logo a
seguir, para saberem mais a respeito deste 1º de Maio.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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