terça-feira, 9 de julho de 2013

Chegou a Revolução Cultural

                                      



      No meio estudantil os jovens sabem hoje  quem são Renan Calheiros, José Sarney, José Genuíno  e similares, como uma tomada de consciência repentina impensável há dois meses.  Como em um passe de mágica, saíram da total alienação política para o conhecimento de que o sistema de educação e a expectativa de seu futuro se encontram no pior estágio de toda a história da república. Tudo por causa do abuso que “eleitos” fizeram e fazem do poder.

         Antes pensavam na forma de alcançar um curso superior, nas diversões próprias ou impróprias de sua idade, nas extravagâncias, nas baladas e nos estudos como algo traçado, programado pelos pais no curso da vida. Havia certa preocupação em relação ao que fariam daqui a alguns anos, quando desejariam estar livres das cobranças e vigilância dos paternas: o sonho de independência, somente possível com a emancipação econômica, por meio de um trabalho seguro e com rendimento que cobrisse a sobrevivência e a possibilidade de compra de um imóvel para morar, acompanhado de complemento para gozar férias, passear e conhecer o mundo, como tantos outros fazem.

         Mas o sonho esbarrava na realidade da vida dos pais. Não havia como escapar de diálogos com colegas ou monólogos em reflexões isoladas.  Como alguns podem fazer tudo aquilo que desejam, e tantos mal conseguem o necessário para comer e morar e muitos outros nem isto?

         A televisão cobre o país inteiro, mostra o esplendor do circo, mas omite o drama da população.  Isto fica por conta da Internet.  Neste ponto, explode a indagação: por que é assim?  De indagação em indagação, descobrem que a gastança, o esbanjamento, correm por conta dos políticos, que, ao mesmo tempo, desviam muito dinheiro para eles mesmos, seus familiares e protegidos.  Descobrem que o brasileiro comum paga os mais altos impostos da América Latina, para sustentar os políticos mais caros e mais corruptos do mundo.     


         As dúvidas, as trocas de idéias passaram a dominar nos grupos no ambiente escolar, nas redes sociais da internet, em todos os setores onde a busca do ensino superior predominava.  E foi tomando corpo nas capitais e nos demais municípios onde faculdades e universidades criavam o clima da busca das causas de tantas desigualdades que iam além dos problemas puramente estudantis. Afinal, os estudantes, por razões diversas, passam também pelos hospitais e veem os corredores lotados de doentes sem atendimento.  Nas suas idas e vindas cruzam com crianças de rua, com mendigos, passam por filas de desempregados, escutam reclamações de subempregados sobre o muito que trabalham e o pouco que recebem. Assistem aos telejornais noticiarem as construções dos suntuosos estádios de futebol onde se gastam fortunas em contraste com as verbas para a educação e para a saúde.  E, para essas construções, muitas famílias são deslocadas de seu acostumado habitat para destino incerto.

         Esses contrastes mexiam com a cabeça de cada um nos momentos solitários e passaram a ser assunto predominante nos campi universitários, nos pátios das faculdades, nas mesas de bares, nos intervalos das noitadas dançantes, em todos os lugares onde os jovens se encontrassem.  Uns se locomovem de carro sobre estradas mal conservadas e passam pelos inconstitucionais pedágios que caracterizam a bitributação e abalam o direito de ir e vir.  Outros trepidam nos coletivos em péssimas condições de conservação e caros para passageiros de baixa renda.

         Todos ficam sabendo que as obras para conservação de rodovias são superfaturadas e, na maioria das vezes, ficam pela metade.  E sabem também que as empresas de ônibus e as empreiteiras bancam as campanhas políticas dos candidatos e depois cobram os financiamentos de maneira fraudulenta e os eleitos se tornam reféns, para facilitar a abertura dos cofres públicos a favor dessas empresas.   Essa dinheirama que sai pelo ralo faz falta para a educação onde os estudos poderiam ser de graça para todos.  Do mesmo modo, o povo é mal servido na saúde. Profissionais da saúde e da educação, mal remunerados, trabalhando em ambiente sem estrutura adequada, sentem-se incapazes de um desempenho eficaz. 

         Em um raciocínio simples, os jovens vêm percebendo que todas as medidas ou falta delas que levam a esse descalabro são decididas por prefeitos, governadores, presidentes da república, senadores, deputados federais e estaduais, vereadores, que ganham rios de dinheiro, favorecem parentes e amigos, que enriquecem de uma hora para outra.  

         Os jovens que passaram tantas gerações indiferentes a tudo isto, de repente sentiram despertar aquela indignação de seus avôs e bisavôs dos anos 40, 50, 60 e que parecem ter feito uma pausa em 68... do século passado e entraram no túnel do ópio e adormeceram até a situação chegar ao fundo do poço de agora. 

         É como se o baque com o solo fizesse despertar para a realidade.  E o questionamento que se fez silencioso e isolado por algum tempo, virou indignação nacional, em um circuito provocado pelo grito contra o aumento abusivo das passagens de ônibus em São Paulo.  Eram R$ 0,20 na individualidade, que se tornavam milhões no coletivo para benefício injustificável de uns poucos. Aquele abuso estava sendo um jeito de ser da classe política aliada  ao lado podre da classe empresarial sem ética nem respeito com a população. Viravam gigantescos impérios empresariais, com prejuízo para as pequenas e médias empresas a dançar na corda bamba para tentar sobreviver, pagar a pesada carga tributária, estudos dos filhos diante de um mercado interno fraco, porque toda a massa monetária está sendo desviada para os 10% mais ricos, que ficam com mais de três quartos de toda a renda produzida.  Esses dez por cento privilegiados os jovens vão descobrindo que são os políticos, os seus protegidos e os corruptores.

         As manifestações explodidas no país inteiro refletiram a descrença em uma classe que, de qualquer maneira, decide o preço do arroz, do feijão, do leite, do livro, dos impostos, dos ingressos nos estádios de futebol.  Com todo esse poder de decisão ficou tão desgastada e desacreditada, como ficaram os militares durante a ditadura que durou tenebrosos 21 anos.  Naquele período, filhos de militares eram discriminados por seus colegas na escola. Hoje, os filhos de políticos vivem o mesmo drama, porque no ambiente da família a reclamação contra políticos é constante.

         Aí está a revolução cultural. Uma tomada de consciência. Um impasse.
         A juventude agora se interessa em tomar posição.  Revolta-se contra um Senado que elegeu por quatro vezes José Sarney, duas vezes Renan Calheiros, ambos que já estiveram à beira de cassação de mandato por problemas judiciais.  Observa a Câmara dos Deputados que elegeu Henrique Eduardo Alves.  Uns e outros abusam na farra de passagens e de viagens a jato por conta dos cofres públicos para ver  jogo de futebol.  Esses presidentes, eleitos pela maioria das duas casas mostram a qualidade (ou fala dela) do Congresso Nacional e, por extensão, das assembléias legislativas e câmaras de vereadores.  Todos usam os mesmos expedientes perdulários com o dinheiro público que falta para os serviços de alcance social.  Se está assim o Legislativo, do mesmo jeito o Executivo, nos seus conchavos com as empreiteiras, empresas de ônibus e outras.

         E o impasse está nisto: descrédito e desmoralização da classe política.  E, fatalidade, ela é quem decide toda a vida da nação. Estamos a pouco mais de um ano de novas eleições.  Falta tempo hábil para correção. Tudo precisa mudar.  Todos os poderes são exercidos por políticos.  É imperativo mudar o modelo dos partidos, o comportamento e o perfil dos agentes políticos, a distribuição da renda.  E não há tempo para se fazer transformação que vigore para as próximas eleições devido ao princípio da anuidade.

         Se o otimismo permitir acreditar que os eleitos no ano que vem farão as mudanças, elas somente poderão começar a valer a partir de 2016. 

         Os movimentos de protesto tomaram um fôlego. Deram uma trégua. Mas indignação continua, com tendência a crescer, à medida que outros segmentos sociais ainda adormecidos despertem pelo grito crescente dos inconformados.

         A revolução cultural tem a vantagem de ser desarmada e de estar fora do alcance das armas.  Ela afasta qualquer pretexto de uso da violência que, se houver, já nasce condenada. 

         Este impasse poderá provocar nas eleições de 2014 a manifestação inédita da vitória do voto nulo. Talvez os válidos ocorram por conta dos votos de cabresto e dos comprados. 

         Esperar para ver!

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

          
  


          

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