terça-feira, 9 de julho de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Em Dose Dupla: Drops - Inf. Diário paulotimm.com : VIGIAR E PUNIR - Drops Inf.Diario : ZIZEK






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VIGIAR A PUNIR_EH COLONIALISMO, ESTUPIDO!

Paulo Timm – Torres_08 julho - copyleft

No fim de semana o Brasil ficou estarrecido ao saber que todas as suas comunicações são monitoradas pelo Governo norteamericano, graças ao vazamento de informações do colaborador da CIA, Edgard Snowden, foragido da Justiça daquele país no Aeroporto de Moscou. Autoridades do Governo Federal reagiram, convenientemente, de imediato, mostrando-se surpresa com a audácia da espionagem externa. A temível antevisão do escritor George Orwel  com o título “1984”, levada ao cinema nos anos 60, revela-se, assim,  em toda a sua crueza. Somos todos controlados pelo Big Brother, paradoxalmente transformado em nome de programa televisivo em vários países do mundo, sempre com elevada audiência. Todos querem bisbilhotar. Mas os mais poderosos bisbilhotam para melhor controlar e manter o poder. A diferença, entre a ficção de Orwell e a realidade, é que aquele autor supunha a vigilância ampla, impessoal e suavemente imposta aos cidadãos seria a conseqüência de um Governo totalitário e a que assistimos, hoje, é praticada pela Pátria das Liberdades civis.  Inacreditável! A resposta dada pelo Presidente Obama raia o cinismo e já foi dada antes da divulgação da espionagem sobre o Brasil: - Não podemos ter 100% de segurança e 100% de privacidade”.

O assunto da divulgação de informações e documentos secretos que evidenciam o abuso de poder dos Estados Unidos pelos seus próprios cidadãos não é novo. Vem se sucedendo com rapidez inimaginável e sacudindo a opinião pública no mundo inteiro. As fontes são sempre jovens americanos escandalizados com o grau de intervenção ilegal do Governo de seu país sobre os destinos de vários países do mundo. Esses jovens, com suas ações colocam suas vidas a prêmio. EdgarSnowden, Manning e Julian Assange, este australiano,  são os novos baluartes na  defesa da liberdade de expressão. Eles acreditam nos valores mais puros do regime de respeito aos direitos e interesses da cidadania em escala mundial  e lutam em favor da democracia. Não são marxistas, nem fundamentalistas religiosos, nem revolucionários nacionalistas. São apenas jovens idealistas criados ao amparo de valores positivos e que, por isto, acabam  perseguidos e condenados implacavelmente pelo Governo Americano. São os heróis de um tempo obscuro, que confunde os mais esclarecidos e estarrece os ingênuos. Eles simplesmente divulgam o chegam a saber na esperança de que a humanidade desperte para esta nova forma de obscurantismo e Inquisição, que, sob a alegação da prevenção ao terrorismo se converte em si mesmo em força terrorista de Estado.

O que revelou Snowden? Este antigo assistente técnico da CIA, de 29 anos, que trabalhava para uma empresa privada – a Booz Allen Hamilton [3] – subcontratada pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, sua sigla em inglês), revelou aos jornais The Guardian e Washington Post a existência de programas secretos que tornam o governo dos Estados Unidos capaz de vigiar a comunicação de milhões de cidadãos.
Um primeiro programa entrou em operação em 2006. Consiste em espiar todas as chamadas telefônicas feitas pela companhia Verizon, dentro dos Estados Unidos, e as que se fazem de lá para o exterior.
Outro programa, chamado PRISM, foi posto em marcha em 2008. Coleta todos os dados enviados pela internet (e-mails, fotos, vídeos, chats, redes sociais, cartões de crédito), por (em princípio…) estrangeiros que moram fora do território norte-americano.

Ambos os programas foram aprovados em segredo pelo Congresso norte-americano, que teria sido, segundo Barack Obama, “constantemente informado” sobre o seu desenvolvimento.

Sobre a dimensão da incrível violação dos nossos direitos civis e das nossas comunicações, a imprensa deu detalhes escabrosos. Em 5 de junho, por exemplo, o Guardian publicou a ordem emitida pela Tribunal de Supervisão de Inteligência Externa que exigia à companhia telefônica Verizon entregar à NSA os registos de milhões de chamada dos seus clientes.

O mandado não autoriza, aparentemente, saber o conteúdo das comunicações, nem os titulares dos números de telefone, mas permite o controle da duração e o destino dessas chamadas.

No dia seguinte, o Guardian e o Washington Post revelaram a realidade do programa secreto de vigilância PRISM, que autoriza a NSA e o FBI acesso aos servidores das nove principais empresas da internet (com a notável exceção do Twitter): Microsoft, Yahoo, Google, Facebook [4], PalTalk, AOL, Skype, YouTube e Apple.

Por meio dessa violação, o governo dos EUA pode aceder a arquivos, áudios, vídeos, e-mails e fotografias de usuários dessas plataformas.
O PRISM converteu-se, desse modo, na ferramenta mais útil da NSA para fornecer relatórios diários ao presidente Obama.
Em 7 de junho, os mesmo jornais publicaram uma diretiva da Casa Branca que ordenava às suas agências (NSA, CIA, FBI) estabelecer uma lista de possíveis países suscetíveis de serem “ciberatacados” por Washington.

E em 8 de junho, o Guardian revelou a existência de outro programa, que permite à NSA classificar os dados recolhidos na rede. Esta prática, orientada à ciberespionagem no exterior, permitiu compilar – só em março – cerca de 3 bilhões de dados de computador nos Estados Unidos…

Nas últimas semanas, ambos os jornais conseguiram revelar, sempre graças a Edward Snowden, novos programas de ciberespionagem e vigilância da comunicação em países no resto do mundo. Edward Snowden explica que “a NSA construiu uma infraestrutura que lhe permite interceptar praticamente qualquer tipo de comunicação. Com esta técnica, a maioria das comunicações humanas são armazenadas para servir em algum momento a um objetivo determinado”.

A NSA, cujo quartel-general fica em Fort Meade (Maryland), é a mais importante e mais desconhecida agência de informações norte-americana. É tão secreta que a maioria dos norte-americanos ignora a sua existência. 

Controla a maior parte do orçamento destinado aos serviços de informações e produz mais de cinquenta toneladas de material por dia.
(Ignacio Ramonet: ‘Somos todos vigiados’)

A espionagem, entretanto, não é novidade. Ela sempre existiu como um mecanismo de um país conhecer outros países. Já ao tempo de Sun Tzu, o famoso autor de “A Arte da Guerra” , muitos séculos Antes de Cristo, na China, recomendava ele: Para vencer a guerra, a primeira regra é conhecer a si mesmo; a segunda conhecer o adversário. E para reconhecer o adversário ele já advogava o uso de espiões, recomendando a valorização dos soldados que conhecessem o idioma do inimigo. Mas, sábio, registrou: A maior vitória é sempre aquela resultante da batalha que não se realizou. Certo ou errado, a espionagem dos Estados Modernos converteu-se à diplomacia  e se esmerou-se  desenvolver sutis mecanismos de acompanhamento do que vai pelo mundo, especialmente das partes do mundo consideradas estratégicas, segundo seus interesses. Não raras vezes foi ela o véu de cobertura de verdadeiras sagas na busca de informações, transformando-se em Best Sellers famosos, como os de John Le Carré.  A diferença, porém, do atual controle eletrônico, é que ela perdeu , em primeiro lugar, o vínculo com a sutileza diplomática. É exercida diretamente por órgãos de segurança interna, que contratam empresas privadas para o ofício. Escapa, pois, a própria espionagem às regras oficiais que regulam as relações internacionais entre Estados. Vai para os porões da civilidade. Ou para os andares inferiores do neo-colonialismo que dá a um país o controle sobre outros, vez que a informação é a mercadoria por excelência do mundo contemporâneo.  Em segundo lugar, ela não atua sobre negócios de Estado, mas sobre cidadãos, os quais, ficam, desde então, sob vigilância e controle de Estados estrangeiros.  Ora, isto é inadmissível! Até porque no ato de vigiar já está subentendido o de controlar e  punir. Vigia-se pan-opticamente o indivíduo na expectativa de enquadrá-lo a um certo modelo esperado de conduta. Aqui, pois, o mais abominável ponto do controle generalizado de informações: Disciplinar.  Curiosamente, Michel Foucault , no seu clássico “ Vigiar e Punir”, ao analisar a moderna instituição penal,  esclareceu a relação entre vigilância e o enquadramento disciplinar:

A nova “linguagem” do punir
Entre as páginas 90 e a 99, o autor enuncia uma espécie de “decálogo” ("Semiotécnica", com o qual reformadores tentam influenciar com eficácia universal os comportamentos sociais)4 da política criminal, interessante pela sua evidente atualidade, mesmo no contexto contemporâneo5 :
·        Regra da quantidade mínima: visto que a pena deve ter um efeito preventivo, é oportuno que esta porte ao culpado um dano apenas um pouco maior da vantagem que o réu tenta conseguir com o delito.
·        Regra da idealidade suficiente: Segundo as novas idéias, não é mais o caso de sustentar o suplício, porque é melhor mostrar a idéia (imagem mental) da pena, ao invés que sua escarnação sobre o corpo do condenado.
·        Regra dos efeitos (co)laterais: a pena deve produzir o próprio efeito de “prevenção geral” sobretudo em confronto de quem não cometeu o delito (se chega ao paradoxo de afirmar que – se fosse seguro que o culpado não recaísse mais na própria conduta – seria suficiente convencer aos outros que ele tenha sido realmente punido, e a pena efetiva não seria nem mesmo necessária).
·        Regra da certeza perfeita: É aquilo que os juristas chamam “certeza da pena”: quem erra, deve saber preventivamente que será quase que certamente punido, e oportunamente seria, por outro lado, abolido o poder de graça, tradicionalmente reivindicado pelos soberanos.
·        Regra da verdade comum: abandono das provas legais, a repulsa à tortura, necessidade de uma demonstração lógica da existência do delito, estruturalmente análoga à metodologia da demonstração matemática.
·        Regra da especificação ideal: “É então necessário um código, e que seja suficientemente preciso para que cada tipo de infração possa estar claramente presente nele.”6

Disciplinar

Segundo Foucault, o afirmar-se da prisão como forma generalizada de sanção para todo tipo de crime é resultado do desenvolvimento da disciplina registrado nos séculos XVIII e XIX. As analises do autor se voltam a criação de formas particularmente refinadas de disciplina, tendo como objeto os mais pequenos e detalhados aspectos do corpo de cada pessoa. Sugere também a idéia que a disciplina tenha gerado uma nova economia e uma nova política dos corpos. As instituições modernas pediam que os corpos fossem individualizados segundo os seus escopos, e também para o adestramento, a observação e o controle. Portanto, sustenta, a disciplina criou uma forma de individualidade totalmente nova para os corpos, que lhes permitiu adimplir o dever nas formas das organizações econômicas, políticas e militares que emergiam na idade moderna e ainda continuam.

Esta disciplina das individualidades constrói para os corpos que controla quatro características, e constrói por reflexo uma individualidade que é:
·      Celular – determina a distribuição espacial dos corpos;
·      Orgânica – assegura que as atividades requeridas para os corpos sejam “naturais” para os mesmos;
·      Genética – controla a evolução no tempo da atividade dos corpos;
·      Combinatória – faz com que a força combinada de mais corpos se fundam em uma força de massa.
Foucault sugere que esta individualidade possa ser integrada em sistemas oficialmente igualitários, mas que utilizam a disciplina pra construir relações de poder desiguais.
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Pan-óptico, metáfora e pesadelo da escuta-vigilância .

Segundo o autor, a disciplina cria “corpos dóceis”, ideais para as exigências modernas em questões de economia, política, guerra – corpos funcionaisem fábrica, nos ordenamentos regimentais, nas classes escolásticas. Mas, para construir corpos dóceis, as instituições que promovem a disciplina devem conseguir:
1.    Observar e registrar os corpos que controlam;
2.    Garantir a interiorização da individualidade disciplinar nos corpos que são controlados.

Ou seja: a disciplina deve impor-se sem uma força excessiva, através de uma atenta observação, e graças a tais observações os corpos se forjam na forma correta. Disto deriva a necessidade de uma peculiar forma de instituição que – segundo – Foucault é bem exemplificada pelo Pan-óptico deJeremy Bentham.

O Pan-óptico era a suma encarnação de uma moderna instituição disciplinar. Consentia uma constante observação caracteriza pela “vista desigual”. Efetivamente, talvez a mais importante característica do Pan-óptico resida em seu design8 , graças à qual o recluso não poderia nunca saber quando (e se) efetivamente era observado. De tal forma a “vista desigual” determinava a interiorização da individualidade disciplinar, e o corpo dócil requerido pelos internados. Isto quer dizer que se é menos induzido a transgredir leis ou regras se se acredita observado, mesmo quando na realidade a vigilância não é (momentaneamente) praticada. Portanto, a prisão, especialmente se veste o paradigma do pan-óptico, oferece a forma ideal de punição moderna. Segundo Foucault, este é o motivo pelo qual a punição generalizada, “gentil”, das correntes e trabalhos forçados teve que ceder lugar ao cárcere. Este último era a modernização ideal da punição, e era, portanto, natural que com o passar do tempo prevalecesse.

Fornecida a demonstração lógica do triunfo da prisão sobre outras formas punitivas, Foucault dedica o resto do seu livro ao exame preciso da sua forma e função na nossa sociedade, para por às claras as razões do seu uso continuo, e para analisar os supostos efeitos de tal emprego.

Daí porque tenhamos que agradecer os gestos de Snowden, Assange e Manning, os três pagando caro pela coragem de revelar ao mundo as manobras insidiosas de um Estado outrora liberal e que hoje capitula ao obscurantismo na defesa do chamado 1%, ou seja , uma pequena elite mundial que insiste em manter um modelo econômico que exclui da mesa 1 bilhão de famintos;  do emprego mais de 200 milhões de trabalhadores; da dignidade metade da população do globo e em processo de empobrecimento uma das grandes conquistas dos dois últimos séculos: a classe média.  Hora de re-valorizar o PREMIO NOBEL DA PAZ, conferindo-o aos três heróis contemporâneos.

Daí porque tenhamos, também, que condenar todas as atitudes semelhantes de controle e vigilância,  que operam não no atacado das Grandes Potências, mas no varejo de pequenos e grandes países e até mesmo municípios. 

Causa muita estranheza quando um Prefeito, uma Prefeita de cidade do interior advirta  jovens manifestantes que expressam nas ruas seu protesto que é , antes que tudo, de liberdade de expressão, antes de ser contra o que for. Em boa hora a Presidente Dilma e o Governador Tarso, aqui no meu Estado, RS,  evitaram este tipo de ameaça, engolindo, mesmo a contragosto, muitas das consignas bradadas pelas praças. É este tipo de atitude que permite aos observadores de várias partes do mundo avaliar o caso das Manifestações recentes no Brasil, como um alento para o aprofundamento da democracia e não o contrário.




Drops Inf.Diario : ZIZEK

ZIZEK _RUMOS DO PENSAMENTO CRITICO

Paulo Timm – Torres, julho 09 - copyleft
Assisti, atento, ontem, dia 08 de julho (2013) a excitante entrevista do Filósofo  esloveno, S.Zizek, supostamente marxista , no Canal Livre, TV Cultura SP. Vinha meio precavido, em virtude de haver lido, dias antes, um artigo de Noam Chomski francamente depreciativo sobre ele, a quem denuncia como pavoneador de teoria e expressões vazias. Literalmente:

 Usted se refiere a la “Teoría” y cuando dije que no me interesa la teoría, lo que quería decir es que no me interesa esta adopción de posturas mediante el uso de términos extravagantes compuestos de archisílabos, ni, menos, la fantaseada ficción de disponer de una “teoría”,  cuando no hay ninguna teoría en absoluto. No hay nada de teoría en todo este rollo, no, desde luego, en el sentido de “teoría” de quien esté mínimamente familiarizado con las ciencias, o con cualquier otro campo serio. Intente usted buscar en todo el trabajo que ha mencionado algunos principios desde los cuales sería posible deducir conclusiones o proposiciones empíricamente verificables y a un nivel algo más alto de lo que se pueda explicar a un niño de doce años en cinco minutos. A ver si usted puede encontrar algo así, una vez decodificados todos los palabros extravagantes. Yo, no puedo. Carece, pues, de interés para mí este tipo de pavoneo presuntuoso. Žižek representa un ejemplo extremo del mismo. No veo el menor contenido en lo que dice. Respecto a Jacques Lacan, lo cierto es que llegué a tratarlo personalmente. Y en ese plano, me gustaba bastante. Nos reuníamos de vez en cuando en París. Pero, a decir verdad, siempre pensé que era un charlatán integral. No hacía sino coqueteos ante las cámaras de televisión, a la manera típica de tantos intelectuales de París. No tengo la menor idea de por qué todo esto le parece a usted tan influyente. Yo no veo nada que merezca tener esa influencia. Quizá usted me puede explicar por qué piensa que es influyente; si hay algo importante, yo, soy incapaz de verlo. No me interesan los falsarios intelectuales horros de todo contenido.
                                                             ( Noam Chomski – SP Madrid )

Não obstante, confesso que me surpreendi com o Zizek, quem, ao final se declarou surpreso pelo alto e aberto nível do debate na TV Cultura, dizendo ser isto inédito em sua vida de peregrino do pensamento crítico.(!)  Gostei de muitas passagens de suas declarações que devem fazer tremer o Velho Marx no seu visitado túmulo londrino, como grande parte de seus adeptos tupiniquins. Honestamente,  é tão expressamente hegeliano seu discurso  , que duvido que se lhe possa carimbar como marxista. Parece-me mais uma estratégia política dele, ao situar-se num  mundo em que ser marxista ainda é uma sólida referência para editoria e audiência. Digo-o sem qualquer preconceito. Eu próprio me autodenomino marxista, aliás meta marxista, no rastro de alguns pensadores franceses, mas sem grande sucesso na área. Zizek, contudo, é um show man e não vê no seu uso como produto de consumo nenhum problema. Aliás, se pergunta várias vezes: - O que significa ser ético¿ , que traduziríamos, entre nós como “ politicamente correto”. Ele fala sobre tudo, mistura tudo, conta muitos casos, relata viagens e se pronuncia politicamente tanto sobre a India, como Bolívia ou Europa do Leste, de onde provém. Nunca ouvi o Chomski, mas imagino o contraste das duas figuras. Chomski um acadêmico formal, educado, culto, de uma origem certamente seleta, nascido e criado em grande cidade. Zizek, um sobrevivente do socialismo real, do qual deve ter sugado os meios para sair de uma província eslovena para os bancos da Universidade de Paris, sem ter perdido os modos  e aparência ainda meio selvagens, cheios de toques e  cacoetes. Duvido que tenha tido boas notas na juventude. Mas aí está e é considerado um dos maiores filósofos contemporâneos, com uma obra , grande parte traduzida ao português, já vasta.

Seu ponto de partida reflexivo é a superioridade intelectual de Hegel sobre todos os filósofos, desde os clássicos. O grande desafio da esquerda, hoje, reitera enfaticamente, é voltar a Hegel. O único, para ele, que não se deixou seduzir pela “ cozinha do futuro” , desconfiando, mesmo, da possilidade de descortinar o futuro a partir da meada da História. Por isso, Zizek, contrariando o velho mecanicismo otimista dos marxistas, revela que não acredita que o socialismo seja a “ etapa superior do capitalismo” . Pelo menos, revela sensibilidade crítica ao evolucionismo mecanicista que ainda anima grande parte dos marxistas.  Ele se define como comunista, mas nem diz com precisão o que isto significa, além de um certo culto ao Estado como Agencia Reguladora da Sociedade, nem diz onde o comunismo estará. O que ele enxerga, sim, na sociedade moderna, é o esgotamento de uma economia que produz, cada vez mais, antagonismos sociais, não no sentido de que os senhores do capital explorem cada vez mais seus operários, mas porque o sistema do capital contemporâneo tornou-se parasitário. É rentista. Nisto, até, tem razão, esquecendo-se porém de dizer que isto é uma regressão do capital à formas originárias de acumulação fundadas no roubo e na violência.  O mundo , seundo Zizek, está irremediavelmente dividido entre muito ricos e muito pobres e ficará, dentro de pouco tempo estigmatizado. Os mais ricos, com assento nas melhores clínicas de engenharia genética da China, estão se diferenciando, tornando-se uma nova espécie. Os pobres, uma sub-espécie. Esta é , aliás, a idéia dos autores que tratam da Era dos Artefatos, para os quais o homem, mercê do avanço tecnológico , tornou-se uma máquina de si mesmo. Daí, entretanto, não retira Zizek nenhum condenação  anti-imperialista, vez que não consegue ver o mundo que relata como um mundo geopoliticamente divido sob a supremacia americana. Evita o tema. E desdenha das experiência do socialismo naïve, à la Evo Morales com seu culto à mãe natureza. Aliás ele odeia o multiculturalismo, as lutas ecológicas e outras quejandas pós-modernas. Decididamente, Zizek está na velha tradição marxista de creditar ao capitalismo uma revolução sem precedentes e horizontes invisíveis das forças produtivas. Chega a creditar ao colonialismo inglês na India uma tarefa, senão civilizadora, progressista. Ou seja, ruim com o colonialismo, pior sem ele. O mesmo que Roberto Campos, no Brasil, sempre afirmava: “ Pior do que a exploração capitalista, é sua ausência...” .Isso faz de Zizek um produto  palatável aos iluministas, sempre avalistas da função redentora do capital. Não aponta ele, também, nenhum caminho além do ativismo intelectual e da valorização dos movimentos espontâneos no mundo inteiro. Para ele, as dificuldades apontarão, oportunamente , um caminho. E cita Hölderin, poeta alemão,  para justificá-lo: São as dificuldades que apontam a solução. Nem no Socialismo Real, do qual é filho, nem na China, nem em Cuba, qualquer indício de salvação para o futuro do socialismo. Para ele , são experiências liquidadas, “ fiéis à castração” do consumo, da liberdade e da consciência crítica, como entre-dentes, se referiu à Ilha. Prefere a agitação dos acontecimentos que trazem as pessoas ao acontecimento, problematizando-o. Tipo fascinante, Zizek impressiona. Não tanto pelo encadeamento lógico e sereno do raciocínio, mas pela explosão libertária que o mostra como um velho anarquista provocador. Como assinala o release hoje da TV Cultura sobre sua passagem no Canal Livre:

Condensando filosofia com bases da psicanálise, enfileirando referências eruditas, populares e anedotas, Žižek - famoso pela expressividade de suas falas em palestras ao redor do mundo - comentou que não se importa "se pessoas aqui ou ali pensem que sou um palhaço. O que importa é que, em algum momento, eu as faça pensar".

Encerrada a entrevista, releio o Chomski e me pergunto se , realmente, S.Zizek, apesar da grande simpatia, da tentativa piccodelamirandolina  de dar conta e razão de seu tempo, juntando Hegel, Marx, Freud e Lacan, de seu gesto contestador, faz jus à fama de grande pensador. Prefiro-o como ativista.

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