quinta-feira, 11 de julho de 2013

José Luiz Lopes Gomes(De Viçosa-MG) - Desenvolvimentistas › Dica de filme : " Dossiê Jango " ( documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle)

(Compilação)




Dica de filme : " Dossiê Jango " ( documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle)
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 Crítica: As dúvidas sobre a morte de Goulart
> 'Dossiê Jango' tenta reabrir versão de complô do desaparecimento do presidente, deposto pelo golpe em 1964  
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> Dia 6 de dezembro de 1976 morreu João Goulart, o presidente destituído pelo golpe de 1964. Doze anos depois ainda era anátema para o regime militar. Tanto assim que as notícias de sua morte, na Argentina, saíram truncadas na imprensa.
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> Até hoje as circunstâncias não estão esclarecidas. Cardíaco, Jango teria sido vítima de um ataque fulminante. Mas há quem sustente que o envenenamento seria a verdadeira causa mortis. Teoria da conspiração? Talvez. Mas é em torno dessa dúvida que se constrói o documentário Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle.
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> Trilhando caminho original na, o filme enriquece a reconstrução trabalhosa dos anos da ditadura (1964-1985). Procura, em sua parte inicial, contextualizar a época e dispor em seus lugares os atores em jogo.
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> Avança, no entanto, ao centrar foco, em sua segunda parte, apenas em Jango e em seu controverso desaparecimento. Mas é preciso dizer que a primeira parte, ao estabelecer a aliança entre civis e militares para a produção do golpe, e a presença dos EUA na desestabilização do governo, é precisa e didática.
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> Por ocasião da morte de Jango, vivia-se, ainda, a Guerra Fria e atentados a inimigos políticos não eram incomuns. Carlos Prats e Orlando Letelier, ligados ao presidente chileno deposto Salvador Allende, foram assassinados, assim como os uruguaios Zelmar Michelini e Gutierrez Ruiz, amigos de Jango, mortos na Argentina.
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> As suspeitas de assassinato de Goulart começaram a surgir logo após a sua morte. A tese era de envenenamento, pois o presidente deposto tomava três medicamentos para o coração. Os remédios, que vinham da França, teriam sido adulterados em operação conjunta da CIA e governos do Brasil e Argentina. Goulart era presença incômoda na Argentina, já também sob regime militar. Tudo faz sentido. Mas não existem provas.
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> O fato, relembrado por Fontenelle através de documentos e depoimentos, é que as dúvidas sempre existiram. Um empresário amigo de Jango, Enrique Foch Díaz, escreveu um livro sobre chamado João Goulart: O Crime Perfeito. Foch chegou a denunciar a viúva, Maria Thereza Goulart, de tomar parte no complô, segundo se lê em João Goulart - uma Biografia, do historiador Jorge Ferreira, da Universidade Federal Fluminense.
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> Em 2006, o caso voltou à tona com o depoimento do uruguaio Mário Barreiro Neira, que afirmava ter participado de uma certa Operação Escorpião com o objetivo de matar Jango. Ao que parece, a testemunha não é lá muito fidedigna. Era um criminoso comum recrutado pela repressão política no tempo da ditadura daquele país. Sua versão apresenta contradições. E não teria sido sustentada de modo desinteressado. Neira cumpria pena no Brasil e havia contra ele um pedido de extradição do Uruguai para responder por crimes comuns. Era de seu interesse permanecer no Brasil alegando perseguição política do governo uruguaio. Em 2008 o Ministério Público acatou pedido da família Goulart para investigar a morte, tendo por base o depoimento de Neira. O Ministério Público concluiu pela falta de provas, tachando o depoimento do uruguaio de "confuso e contraditório".
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> Isso encerra o caso? Não, como indica Dossiê Jango. Se nada prova que houve assassinato, também não se pode provar a morte natural. O estudo dos costumes políticos das ditaduras latino-americanas não exclui o uso de violência na eliminação de inimigos. A dúvida razoável se adensa pela ausência de autópsia e das mortes quase simultâneas de JK e Lacerda. Para esclarecer essa rede de intrigas, apenas se a investigação for reaberta e, desta vez, exposta à luz da democracia.
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> Fonte: Caderno 2 / O Estado de S. Paulo (Luiz Zanin Oricchio)/09/07/2013

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