sexta-feira, 23 de agosto de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops REVISTA DIÁRIA - ago 23 : CRISE CAMBIAL À VISTA



 Drops REVISTA DIÁRIA - ago 23 : CRISE CAMBIAL À VISTA




CAMBIO : SINAL AMARELO
  • Paulo Timm, Economista – Torres RS – Especial para Carta Polis –
                                                                    
GLOBONEWS -Miriam Leitão
'Tendência no médio prazo é o dólar continuar subindo', diz economista




CAMBIO : SINAL AMARELO

Paulo Timm, Economista – Torres RS – Agosto 23/2013 -Especial para Carta Polis -

Câmbio e Inflação são “especialidades” nobres na carreira do Economista. Teoricamente, entretanto, uma economia pode ser fechada, sem  exportações nem importações e sem movimentos de capitais; e estável, sem qualquer elevação dos preços dos bens e serviços ofertados. Um paradoxo, que poderia dispensar a aristocracia profissional, salvo pela realidade, onde a teoria é sempre outra. Todas as economias modernas, até como fruto da globalização, se interligam e acabam retroalimentando tensões de preços e câmbio. O emprego dos experts em câmbio e inflação, portanto,  não só está garantido, como valorizado. No Brasil, então, nos tempos que correm, com inflação alta e câmbio em disparada, nem se fala...

Mas o que um Clínico Geral, da velha guarda estruturalista, como eu, tem a dizer sobre a conjuntura cambial? A desvalorização do Real vai continuar? Até quando?

Aqui, quem responde é o insuspeito Delfim Neto: Futurologia, em Economia, é puro malabarismo de notáveis, ou seja, profissionais que adoram os flashes... Ninguém sabe, apesar de todos os estudos econométricos, onde isso vai parar. Com todo o FED, FMI e incontável número de assessores governamentais no mundo inteiro ninguém previu o colapso de 2008. Conta-se que a Raínha Elizabeth teria, ingenuamente, indagado no início da Crise: - Mas como não previram...? Enfim, se o homem, como dizia Ortega y Gasset, é o homem “e suas circunstâncias” , a economia de mercado é ela e suas flutuações cíclicas, nas quais a crise opera como um corretivo das distorções dos seus vários segmentos, ocorridas durante a fase de crescimento. É o que Schumpeter chamava de destruição criadora e contra a qual se levanta o clamor socialista, na tentativa de ter o produto do trabalho social antecipado na forma de um Plano Central para evitar esses desastres.

O que tem ocorrido na economia mundial nos últimos dez anos? Um aumento nos padrões da concorrência mundial, no contexto da globalização, pelo qual a China, com elevada competitividade industrial e carência de produtos primários, relevou consideravelmente seu peso no comércio e no fluxo de capitais. Isto, provocou um duplo movimento: pressão sobre a hegemonia industrial dos Estados Unidos, com reflexos negativos sobre seu  comércio exterior, e estímulo, pela expansão de sua demanda interna,  aos países exportadores decommodities, como o Brasil. 

Não por acaso, um comentarista afirmou, no final da década passada que a economia mundial tinha revertido ao século XIX: A fábrica do mundo no extremo oriente e um fazendão na América Latina...Curiosamente, China e Brasil passaram a ser atores importantes e complementares e deram relevo especial ao que veio a ser chamado BRICS.

Paralelamente, os fluxos financeiros que acompanham o comércio de mercadorias em escala global, mercê da liberalização dos mercados desde a Era Regan/Tatcher (década 80), ratificada no advento da Era Clinton/Blair, associada à interconectividade eletrônica dos Sistemas Financeiros, explodiram, gerando ganhos jamais imaginados. Nunca o mundo tinha visto tamanha liquidez como a que empolgou os mercados nas últimas décadas. Sobravam excedentes reais que se traduziam em  múltiplos de excedentes financeiros.  O mundo inteiro – nações e pessoas – se endividaram às nuvens, com ou sem respaldo para tanto, pois a oferta de crédito era praticamente ilimitada.

No meio deste torvelinho sobreveio a Crise Financeira dos Estados Unidos, em 2008, arrastando aquele país e vários outros, mormente na Europa e México, estreitamente ligados à economia americana , à recessão e à  crise. O Eixo dos emergentes BRICS, mais independente, saiu-se melhor.

Internamente, os Estados Unidos enfrentaram a Crise com mecanismos conhecidos: O governo interveio injetando recursos  nos bancos, seguradoras e grandes empresas com vistas a evitar a quebradeira e  o caos. Mas, sem dinheiro, até porque com vultoso déficit publico, agravado pelas guerras de Bush, e obrigado a uma política de juros zerados, com vistas ao estímulo à novas inversões – o que já está ocorrendo - , o Governo simplesmente emitiu- desmesuradamente. Pôde fazê-lo, sem pressões inflacionárias, por uma simples razão: o dólar é moeda universal, embora cunhada pelo Tesouro dos Estados Unidos. Seu curso é universal como denominador comum de trocas, meio de troca  e  reserva de valor. Injetado, pois,  internamente, o dólar ganhou o  mundo em busca de oportunidades de remuneração, escassa dentro do país emissor. Agora, com a normalidade retornando ao mercado, diante da anunciada elevação da taxa de juros pagos pelos Títulos americanos, eles fazem o caminho de volta. Mesmo pagando pouco, os Títulos americanos gozam de grande credibilidade. Como conseqüência: fuga de capitais dos países em desenvolvimento, Brasil incluso.

Até onde vai parar isto? Ninguém sabe. Depende de múltiplos fatores históricos, dentre eles a reanimação mais consistente da economia americana, cuja produtividade elevada sempre surpreende. Note-se que até agora estamos apenas no anúncio do fim das medidas anticíclicas pelo Governo americano. Imagine-se a correria quando elas realmente começarem.

Junto com isto, o mercado mundial de mercadorias – particularmente commodities (especialidade tupiniquim, desde a Colônia) vem apresentando alterações, em decorrência da forte redução do crescimento chinês, força motriz da elevação dos preços até bem pouco tempo atrás. A gangorra, agora, inverteu-se: os preços das commodities estão caindo e com isto, mesmo exportando as mesmas quantidades físicas, o Brasil está recebendo menos dólares pelo total exportado e, consequentemente, enfrentando sucessivos déficits no comércio exterior. Agravado, aliás, pelos elevadíssimos gastos de brasileiros no exterior e vultosas remessas das multis às suas matrizes.  Com isso, mesmo com Reservas Cambiais acumuladas nos bons tempos – que ainda não foram mobilizadas para enfrentar o salto cambial recente, de 18% apenas neste ano, acende-se o  sinal amarelo de advertência. 

 Também neste aspecto, ninguém é capaz de prever com precisão quanto cairão os preços das commodities e durante quanto tempo. Estamos no Reino das Possibilidades Infinitas. E apreensões.

Diante disso, o que poderia ter sido feito para evitar um eventual colapso cambial e   como o  Governo está enfrentando o susto?

Na fase de crise aguda do sistema em escala global, mas que nos favoreceu pelo lado da elevação de preços de produtos exportados, optamos pela manutenção do dinamismo interno da economia, com base nos estímulos ao Consumo. Aí cumpriram importante papel os diversos instrumentos de Política Social, dentre eles o Bolsa Família,  a elevação do salário mínimo e expansão do crédito. O sistema respondeu positivamente elevando o nível de utilização dos estoques de capital e mão de obra. O desemprego sumiu. Óbvio! Mas que não nos diz nada sobre a auto-sustentação do crescimento. Do ponto de vista do investimento, aliás,  apesar dos esforços do BNDES em reforçar as “ empresas campeãs” e do lançamento do PAC, com vistas à reestruturar a infra-estrutura com obras públicas, falhamos redondamente. O maior exemplo do fracasso do BNDES é o desmoronamento do império de Eike Batista, enquanto  a lentidão do PAC obrigou à urgência na implantação de parcerias com setor privado, também de parcos resultados. Tarde demais.

O resultado, todos conhecemos: Redução da taxa de crescimento do PIB, picos inflacionários ainda ameaçadores, sobretudo pela desvalorização do real e imperiosa necessidade de revisão nos preços de combustíveis, fim da festa.

Poderia ter sido diferente?

Honestamente, não creio. Talvez devesse ter evitado a valorização tão acentuada do Real e que levou à pasmaceira industrial. Vivemos, simplesmente, graças à presença magnânima do PT no governo, uma Década de Inserção, na qual cerca de 30 milhões de brasileiros chegaram ao Consumo e com isso, dinamizaram a economia interna, mas com um custo social alto, na forma de subsídios aos bens duráveis, notadamente veículos automotores e transferências de rendas das classes assalariadas mais altas para as mais baixas. O problema não é o que se fez, mas o que se continua fazendo como se nada tivesse ocorrido: manutenção dos estímulos ao Consumo como estratégia de crescimento. Particularmente à questão cambial, talvez já tenhamos chegado no ponto em que o Governo deva ser mais agressivo, mobilizando reservas cambiais disponíveis. Isto porque o risco de uma disparada cambial beirando os R$ 3,00 poderá gerar um pânico, como num incêndio. Aí não haverá jeito. O chão se abrirá e sobrevirá o mesmo tipo de caos que já derrubou vários governos na América Latina. Teremos retornado aos meados do século passado, quando todos os economistas, conservadores e reformistas, concordavam que o câmbio era uma variável estratégica do nosso crescimento. Mario Henrique Simonsen a denominava “ Gargalo Externo”; Celso Furtado de “ Estrangulamento Externo”.  Eu vivi esse drama  no glorioso Chile de Allende, anos 1972 e 1973. Comprava-se uma casa nos bairros de classe média por US $ 100. Lamentavelmente, nem isso eu tinha...

Anexo
PARA ENTENDER MELHOR A QUESTÃO CAMBIAL
Fabíola Glenia Do G1, em São Paulo
Medida         O que é
Leilão spot   Quando o governo vende (ou compra) dólares no mercado à vista. É a forma mais direta de intervenção, pois altera mais rapidamente a quandidade de dólares disponível no mercado.
Leilão de swap       O Banco Central vende um título que tem seu valor ligado ao valor do dólar (seu valor em reais varia junto com a cotação do dólar); funciona como um mecanismo de proteção contra a variação excessiva. Assim, se a cotação da moeda subir ou cair muito, o investidor que tem dívidas ou receitas a receber em dólares não tem perdas excessivas.
Tributos       O governo pode diminuir ou retirar um tributo, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de determinadas aplicações para atrair dinheiro do investidor estrangeiro. Aumentar tributos faz ficar mais caro trazer dólares para o Brasil, e tende a reduzir a quantidade da moeda no no país; já reduzir tributos tem o efeito contrário – torna mais barato trazer dólares para cá.
Selic  Ao aumentar a taxa básica de juros da economia, o governo torna o investimento em títulos brasileiros mais rentável, atraindo assim o investidor estrangeiro – que traz dólares para o país. Quanto mais dólares no país, mais barata a moeda dos EUA fica.
Compulsório Compulsório é o dinheiro que os bancos são obrigados a "guardar" no Banco Central – uma parte de tudo o que recebem. Ao diminuir a exigência de depósitos compulsórios dos bancos, o Banco Central permite que as instituições financeiras vendam mais dólares, aumentando a quantidade da moeda disponível.
Títulos públicos     O governo arrecada dinheiro para financiar seus gastos através da venda de títulos públicos. Quando o investidor do exterior compra um título do governo, para receber este dinheiro acrescido de juros mais tarde, ele "injeta" mais dólares no país.

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