segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Maria Auxiliadora Ribeiro Gomes(Viçosa-MG) - Sobre a natureza dos deuses /medicos (DOIS TEXTOS)




Sobre a natureza dos deuses 











medicos (DOIS TEXTOS)


TEXTO UM
Médicos cubanos no Brasil Por Frei Betto
Tanto em Portugal quanto na Espanha, como em qualquer outro país, existem
médicos de nível técnico bom. A Espanha possui o 7º melhor sistema de saúde
pública do mundo e Portugal o 12º. Em Portugal 10% dos médicos são
provenientes de outros países, incluindo os cubanos que foram incorporados
a partir de 2009. Esses médicos foram submetidos a exames e a ampla maioria
foi aprovada, o que levou as autoridades portuguesas a renovar sua estadia
até 2012.

Ninguém se opõe a que o Conselho Federal de Medicina (CFM) submeta os
médicos cubanos a um exame (para revalidação do diploma), como se faz com
os brasileiros, muitos deles formados em faculdades privadas que funcionam
como autênticas fábricas de fazer dinheiro. O CFM reclama de uma suposta
revalidação automática dos diplomas dos médicos cubanos. Em nenhum momento
o Governo fez essa proposta. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, deixou
claro que pretende seguir os critérios de igualdade e de responsabilidade
profissional. A opinião do CFM importa menos que a dos habitantes do
interior e das periferias de nosso país, que tanto necessitam de atenção
médica.

Segundo estudos promovidos pelo próprio CFM, em conjunto com o Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), sobre a “Demografia
médica no Brasil”  fica demonstrado que em 2011 o país dispunha de 1,8
médicos para cada mil habitantes. Sendo assim teríamos que aguardar até
2021 para que o índice chegue a 2,51 por mil. Segundo os cálculos somente
em 2050 teríamos 4,3 por mil. Em Cuba há 6,4 médicos por mil habitantes e
na Argentina, em 2005, já se contava com mais de três por mil, índice que o
Brasil somente alcançará em 2031. Dos 372 mil médicos registrados no Brasil
em 2011, 209 mil se concentram nas regiões Sul e Sudeste e pouco mais de 15
mil na região Norte.

O Governo Federal está empenhado em melhorar essa distribuição de
profissionais de saúde através do Programa de Valorização do Profissional
de Atenção Básica (Provab), oferecendo um salário inicial de mais de três
mil dólares e plano de carreira para incentivar a que os médicos prestem
serviços de Atenção Primária a população de 1.407 municípios em todo o
país. Já se inscreveram mais de quatro mil médicos.

O senador Cristovam Buarque propõe que os médicos formados nas
universidades públicas e que tiveram sua formação paga com o dinheiro do
povo, trabalhem dois anos em áreas carentes de serviços médicos para que
seus diplomas possam ser reconhecidos plenamente.

Se a medicina cubana  fosse de má qualidade como se explicaria que, segundo
a Organização Mundial de Saúde (OMS), os índices de saúde na ilha estejam
muito melhores que os do Brasil, podendo ser comparados com os dos Estados
Unidos?
No Brasil, antes de se reclamar de medidas que beneficiarão o povo mais
pobre, as pessoas deveriam examinar a situação do país. Segundo os dados da
OMS (de 2011) o melhor sistema público de saúde do mundo é o da França. Os
Estados Unidos ocupam a 37ª posição. Cuba a 39ª. O Brasil a 125ª. Se os
médicos cubanos não puderem vir o que essas pessoas e entidades que se
posicionam contra dirão para o povo carente de atendimento de saúde de
nossas periferias e do interior? Que trate de suportar suas dores? Que
continue morrendo vitimado por enfermidades que podem ser tratadas com
facilidade? Ou que espere que Deus faça o milagre da cura?

Cuba é especialista em Medicina Preventiva e exporta médicos para 70
países. Graças a essa solidariedade, a população do Haiti tem minorado o
sofrimento causado pelo terremoto de 2010. Enquanto o Brasil enviou tropas
para garantir a segurança, Cuba enviou para o Haiti médicos treinados para
atuar em condições precárias e situações de emergência.

Os médicos cubanos não virão para o Brasil trabalhar com ressonância
magnética ou medicina nuclear, mas para combater as parasitoses, a diarreia
e a desidratação, reduzindo a mortalidade infantil e materna, aplicando
vacinas e ensinado medidas preventivas e normas de higiene.

A prestigiosa revista *New England Journal of Medicine*, em sua edição de
24 de janeiro desse ano, elogiou a medicina que é feita em Cuba, por ter
alcançado as mais elevadas cotas de vacinação do mundo, “porque o sistema
de saúde cubano não foi projetado para que o consumidor faça escolhas ou
para iniciativas individuais”. Em outras palavras, não são os interesses do
mercado que são privilegiados, mas sim os interesses da cidadania.

Por que o CFM nunca reclamou do excelente trabalho que vem sendo
desenvolvido  em nosso país pela Pastoral da Criança, que dispõe de poucos
recursos e trabalha com mães que recebem uma formação ligeira? A resposta é
simples: é bom para a medicina cada vez mais mercantilizada, voltada para o
lucro e não para a saúde, contar com o trabalho altruísta da Pastoral da
Criança. O temor é encarar  a competência dos médicos vindos do exterior.

Se Deus quiser um dia o Brasil poderá expor nos muros de suas cidades uma
frase que li em uma rua de Havana: “ Cada ano morrem 80 mil crianças em
todo o mundo por causa de enfermidades facilmente tratáveis. Nenhuma dessas
crianças é cubana”.
Fonte: *La República* (Montevidéu, Uruguai) – 26/05/2013

*Faz sentido: Serra e corporativismo se juntam no boicote ao 'Mais Médicos'

TEXTO DOIS

*A UNIVERSIDADE  E A URGÊNCIA BRASILEIRA
*Cerca de 40 intelectuais e professores universitários reuniram-se em São
Paulo nesta 2ª feira, a convite de Carta Maior. Havia um sentimento de
urgência no ar. Em pauta, as  possibilidades e os riscos da travessia
história vivida pelo país; o papel da universidade e dos intelectuais na
encruzilhada de uma Nação que ainda não dispõe de um arsenal de ferramentas
democráticas à altura das reformas cobradas pelo seu desenvolvimento. Mas
que terá que realiza-las; renunciar seria ceder ao retrocesso. Um consenso
do encontro: o torniquete do monopólio da comunicação interdita o debate e
veta as soluções requisitadas pelo passo seguinte da nossa história. Leia
nesta página o relato de Maria Inês Nassif sobre esse primeiro encontro,
que aspira alcançar a abrangência de uma proposta de agenda nacional dos
intelectuais e da universidade para impulsionar as reformas que a Nação
reclama. A reforma política, por certo. Mas não só. A universidade pode ser
uma alavanca, entre outras, para romper a crosta conservadora que represa o
futuro brasileiro. O encontro promovido por Carta Maior coincidiu com a
divulgação do salto do IDH nos 5.565 municípios do país. De um
padrão 'muito baixo', em 1991, evoluiu-se para outro,' alto', em 2010. O
período abrange os governos Collor (91/92), Itamar (93/94), FHC (95/02) e
Lula (03/10). Mas foi no  ciclo do PT que se deu  o ganho real de 60% do
salário mínimo (extensivo à massa dos aposentados), bem como a chegada do
Bolsa Família a 12 milhões de lares.  Não por acaso, os maiores avanços no
indicador do PNUD/ONU, que cruza renda, educação e longevidade, ocorreram
no Norte e Nordeste, onde a incidência dessas políticas foi maior. Estamos
falando de dinâmicas que fixaram um divisor na luta contra a desigualdade,
mas que reclamam agora um novo impulso histórico para avançar. Quem o fará?
Um novo impulso envolve novos protagonistas e novos desenhos de políticas
públicas para o desenvolvimento. A Universidade terá que rediscutir sua
contribuição nesse processo. Uma possibilidade pulsa na matriz  do programa
 'Mais Médicos', que guarda potencial  para ser o 'Bolsa Familia' da saúde
pública brasileira. A adesão maciça de 3.511 municípios demonstra a
pertinência de se buscar um novo escopo de políticas públicas associadas às
universidades, que terão que se reformar para exercer esse papel. É esse
ambiente de urgências emancipadoras que deveria estar sendo discutido hoje.
E não o casulo do interesse corporativo, que se insurge contra elas. A
construção dessa agenda de engajamento e desassombro, é justamente o
que anima Carta Maior a dar sequência ao encontro desta 2ª feira,
estendendo-o a outras capitais do país

Nenhum comentário:

Postar um comentário