Os protestos dos jovens desde junho
fizeram o país acordar para ver que a classe política de nossos dias nada tem
mais a oferecer. Até os excessos dos que
pegaram carona na onda das manifestações pacíficas, embora inadmissíveis dentro
de um conceito formal, têm significado efetivo diante dos outros excessos
dos ocupantes de cargos no poder.
Acontece que o vandalismo das ruas não se compara nem de longe com o
vandalismo do abuso de poder. Há medida
para o vandalismo praticado com o dinheiro público no superfaturamento de obras?
Como se mede o vandalismo feito contra os aposentados e pensionistas do INSS ?
Os congressistas praticam vandalismo ao
abusarem da prerrogativa de legislar e atribuem a eles mesmos direitos
inconcebíveis sob a moral e a ética de uma sociedade evoluída. O custo de cada parlamentar, por mês,
equivale a quase cinco anos do que recebe um trabalhador que cumpre jornada de
oito horas diárias, sem direito a atrasar cinco minutos em um dia, para não
perder o descanso remunerado. O
nepotismo existente nos três poderes, com vencimentos exorbitantes para gente
que nem sempre vai ao “trabalho”, ou que nunca vai, vandaliza os impostos dos
trabalhadores mal remunerados e dos pequenos empresários que dançam na corda
bamba para evitar que suas empresas entrem em falência, suas famílias fiquem
desamparadas e que seus empregados caiam na rua da amargura.
Imagem Singers
Vandalismo maior pratica a classe
política, através de suas equipes econômicas, ao privilegiarem o grande capital
especulativo, que canaliza mais de três quartos da renda nacional para os 10%
mais ricos da população.
Esse
vandalismo tem a demonstração prática de 10 pães distribuídos para 10 pessoas.
Uma fica com 7 pães e meio; e 9 pessoas só têm dois pães e meio. Essa má distribuição se dá no acesso à casa
própria, à saúde, à alimentação, ao vestuário, ao lazer, ao conforto e a todos
os bens que fazem parte do ideal da vida humana.
Vandalismo os governantes praticam
contra os professores ao deixarem de lhes pagar o piso salarial de R$ 1.567,00, pouco mais da metade do
salário mínimo necessário de R$ 2.750,83, calculado para julho. O vandalismo vai atingindo os dois extremos da pirâmide
social. Os mais ricos concentrando muita
riqueza e renda. E a base que trabalha recebe muito abaixo das suas
necessidades para uma sobrevivência digna e que ofereça as condições para
educar-se uma família e seus membros sonharem com melhores perspectivas de
vida.
A
moçada despertou de vez contra tanto vandalismo que vem de cima para baixo. Os
vencimentos dos políticos são astronômicos, os de quem trabalha miseráveis. A
forma de se chegar ao poder são as campanhas financiadas com capital privado
que depois têm que voltar ao financiador multiplicado por muito. É um jogo
pesado de corrupção e trapaça que faz o povo pagar caro e trabalhar muito para
não ter nada, nem bens, nem o futuro de uma aposentadoria tranquila. Os jovens veem que esse é o futuro que os
espera, porque assim vivem seus pais e seus avós. Quanto mais o tempo passa,
mais baixa o nível de vida de quem trabalha.
E vê que a classe política é sócia sutil dos 10% mais ricos. E dela nada
mais se pode esperar de justo, de bom, de honesto. E está vendo que o
vandalismo praticado pelos poderosos é muito maior do que o praticado pelos
elementos infiltrados nos seus movimentos de caráter pacífico, que as forças
policiais dos poderosos alcançam e a mídia dá maior dimensão.
Imagem: Franco da Rocha
Imagem: Antônio Imbassahy
As
medidas anunciadas pela presidente Dilma a ninguém convencem. Todas as regras são ruins e erradas, porque
as várias instâncias de poderes legislativos estão compostas do que há de pior
do corporativismo político. Os partidos todos se nivelaram por baixo no
fisiologismo mais abjeto que se pode imaginar, e que o tempo tem revelado. Uma proposta de plebiscito nada muda. O tempo
é pouco diante do princípio da anuidade que antecede cada eleição. Mesmo assim,
os agentes convocados para as mudanças
são as mesmas raposas que devoram esse galinheiro chamado Brasil.
Não
há tempo para mudar as regras. Nem há gente para fazer as mudanças. Não há
ilusão. As eleições de 2014 são um simples cumprimento de agenda no calendário
em um tempo confuso de Copa do Mundo nos Estádios faraônicos que foram uma das
razões da revolta popular presente em nossos dias. Ninguém sabe até quando. Sete de Setembro promete maiores
manifestações.
Imagem: Varela Notícias
Os
jovens que protestam, agem diante do fato consumado, dos resultados da política
econômica sempre prejudicial à classe trabalhadora e aos pequenos empresários
que dependem do mercado interno. Não conheceram as disputadas ideológicas. Para eles não existe Direita, nem Esquerda.
Há 50 anos um único modelo sócio-econômico tem sido praticado, desde os municípios
até a presidência da república: o neoliberalismo. Sabem que há disputa de nomes, com viés de
idolatria sobre as figuras na contenda. No entanto, não alcançaram execução de
política de Esquerda, nem alguns de seus pais. Depois do bipartidarismo (ARENA/MDB),
algumas legendas surgiram com roupagem de esquerda. A principal delas, o PT, uma armadilha dos
estrategistas militares para dividir os trabalhadores e enfraquecer o
trabalhismo, que foi a única filosofia política a valorizar a classe operária e
as riquezas nacionais entre 1930 e 1964.
Nestes 50 anos, na prática, tem havido disputa de Direita x Direita. E a
política econômica vem sendo sempre o neoliberalismo, que impinge o arrocho
salarial, o livre mercado e a concentração de riqueza, cada vez maior. Estatísticas
enganosas revelam ascensão das classes mais pobres à condição de classe
média. Na verdade, o Bolsa-família, que já
teve outros nomes em outros governos, congela a pobreza na pobreza, com um
assistencialismo permanente. Não prepara os beneficiários para a emancipação,
mas os faz acomodados com as migalhas
recebidas e permanecem abaixo da linha de pobreza, com a renda individual
aviltante, sem cultura, sem conhecimento básico e na eterna dependência. Apenas servem como eleitores inconscientes,
despolitizados e massa de manobra para tudo ficar como está.
Na
balbúrdia de 2014, de novo haverá disputa de Direita x Direita. Os agentes legisladores e executivos serão os
mesmos ou semelhantes. Voltarão a
falar em “necessidade de reforma política”, como sempre falam depois das
eleições. Gastarão o tempo até 2016, ano das eleições municipais. E o clima se repetirá como está hoje.
Somente
não sabemos até que ponto irão os protestos da juventude. E se alguma coisa resultará além das prisões
dos “vândalos” infiltrados, enquanto os poderosos continuarão a vandalizar o
patrimônio público e o suor do povo trabalhador.
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerias@gmail.com)
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