quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Juventude mostra aos adultos que a classe política tem que ser reciclada



         Os protestos dos jovens desde junho fizeram o país acordar para ver que a classe política de nossos dias nada tem mais a oferecer.  Até os excessos dos que pegaram carona na onda das manifestações pacíficas, embora inadmissíveis dentro de um conceito formal, têm significado efetivo diante dos outros excessos dos ocupantes de cargos no poder.  Acontece que o vandalismo das ruas não se compara nem de longe com o vandalismo do abuso de poder.  Há medida para o vandalismo praticado com o dinheiro público no superfaturamento de obras? Como se mede o vandalismo feito contra os aposentados e pensionistas do INSS ?

         Os congressistas praticam vandalismo ao abusarem da prerrogativa de legislar e atribuem a eles mesmos direitos inconcebíveis sob a moral e a ética de uma sociedade evoluída.  O custo de cada parlamentar, por mês, equivale a quase cinco anos do que recebe um trabalhador que cumpre jornada de oito horas diárias, sem direito a atrasar cinco minutos em um dia, para não perder o descanso remunerado.  O nepotismo existente nos três poderes, com vencimentos exorbitantes para gente que nem sempre vai ao “trabalho”, ou que nunca vai, vandaliza os impostos dos trabalhadores mal remunerados e dos pequenos empresários que dançam na corda bamba para evitar que suas empresas entrem em falência, suas famílias fiquem desamparadas e que seus empregados caiam na rua da amargura.
Imagem Singers


         Vandalismo maior pratica a classe política, através de suas equipes econômicas, ao privilegiarem o grande capital especulativo, que canaliza mais de três quartos da renda nacional para os 10% mais ricos da população. 
Esse vandalismo tem a demonstração prática de 10 pães distribuídos para 10 pessoas. Uma fica com 7 pães e meio; e 9 pessoas só têm  dois pães e meio.  Essa má distribuição se dá no acesso à casa própria, à saúde, à alimentação, ao vestuário, ao lazer, ao conforto e a todos os bens que fazem parte do ideal da vida humana.
        
         Vandalismo os governantes praticam contra os professores ao deixarem de lhes pagar o piso salarial de  R$ 1.567,00, pouco mais da metade do salário mínimo necessário de R$ 2.750,83, calculado para julho. O vandalismo vai atingindo os dois extremos da pirâmide social.  Os mais ricos concentrando muita riqueza e renda. E a base que trabalha recebe muito abaixo das suas necessidades para uma sobrevivência digna e que ofereça as condições para educar-se uma família e seus membros sonharem com melhores perspectivas de vida.

        A moçada despertou de vez contra tanto vandalismo que vem de cima para baixo. Os vencimentos dos políticos são astronômicos, os de quem trabalha miseráveis. A forma de se chegar ao poder são as campanhas financiadas com capital privado que depois têm que voltar ao financiador multiplicado por muito. É um jogo pesado de corrupção e trapaça que faz o povo pagar caro e trabalhar muito para não ter nada, nem bens, nem o futuro de uma aposentadoria tranquila.  Os jovens veem que esse é o futuro que os espera, porque assim vivem seus pais e seus avós. Quanto mais o tempo passa, mais baixa o nível de vida de quem trabalha.  E vê que a classe política é sócia sutil dos 10% mais ricos. E dela nada mais se pode esperar de justo, de bom, de honesto. E está vendo que o vandalismo praticado pelos poderosos é muito maior do que o praticado pelos elementos infiltrados nos seus movimentos de caráter pacífico, que as forças policiais dos poderosos alcançam e a mídia dá maior dimensão. 
Imagem: Franco da Rocha

Imagem: Antônio Imbassahy



        As medidas anunciadas pela presidente Dilma a ninguém convencem.  Todas as regras são ruins e erradas, porque as várias instâncias de poderes legislativos estão compostas do que há de pior do corporativismo político. Os partidos todos se nivelaram por baixo no fisiologismo mais abjeto que se pode imaginar, e que o tempo tem revelado.  Uma proposta de plebiscito nada muda. O tempo é pouco diante do princípio da anuidade que antecede cada eleição. Mesmo assim, os agentes  convocados para as mudanças são as mesmas raposas que devoram esse galinheiro chamado Brasil.

        Não há tempo para mudar as regras. Nem há gente para fazer as mudanças. Não há ilusão. As eleições de 2014 são um simples cumprimento de agenda no calendário em um tempo confuso de Copa do Mundo nos Estádios faraônicos que foram uma das razões da revolta popular presente em nossos dias.  Ninguém sabe até quando.  Sete de Setembro promete maiores manifestações.







Imagem: Varela Notícias


        Os jovens que protestam, agem diante do fato consumado, dos resultados da política econômica sempre prejudicial à classe trabalhadora e aos pequenos empresários que dependem do mercado interno. Não conheceram as disputadas ideológicas.  Para eles não existe Direita, nem Esquerda. Há 50 anos um único modelo sócio-econômico tem sido praticado, desde os municípios até a presidência da república: o neoliberalismo.  Sabem que há disputa de nomes, com viés de idolatria sobre as figuras na contenda. No entanto, não alcançaram execução de política de Esquerda, nem alguns de seus pais. Depois do bipartidarismo (ARENA/MDB), algumas legendas surgiram com roupagem de esquerda.  A principal delas, o PT, uma armadilha dos estrategistas militares para dividir os trabalhadores e enfraquecer o trabalhismo, que foi a única filosofia política a valorizar a classe operária e as riquezas nacionais entre 1930 e 1964.  

Nestes 50 anos, na prática, tem havido disputa de Direita x Direita. E a política econômica vem sendo sempre o neoliberalismo, que impinge o arrocho salarial, o livre mercado e a concentração de riqueza, cada vez maior. Estatísticas enganosas revelam ascensão das classes mais pobres à condição de classe média.  Na verdade, o Bolsa-família, que já teve outros nomes em outros governos, congela a pobreza na pobreza, com um assistencialismo permanente. Não prepara os beneficiários para a emancipação, mas os faz  acomodados com as migalhas recebidas e permanecem abaixo da linha de pobreza, com a renda individual aviltante, sem cultura, sem conhecimento básico e na eterna dependência.  Apenas servem como eleitores inconscientes, despolitizados e massa de manobra para tudo ficar como está. 

        Na balbúrdia de 2014, de novo haverá disputa de Direita x Direita.  Os agentes legisladores e executivos serão os mesmos ou semelhantes. Voltarão a falar em “necessidade de reforma política”, como sempre falam depois das eleições. Gastarão o tempo até 2016, ano das eleições municipais. E o clima  se repetirá como está hoje. 

        Somente não sabemos até que ponto irão os protestos da juventude.  E se alguma coisa resultará além das prisões dos “vândalos” infiltrados, enquanto os poderosos continuarão a vandalizar o patrimônio público e o suor do povo trabalhador.    

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerias@gmail.com)      


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