sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Histórico do Festival de Cinema de Visconde do Rio Branco Geraldo Santos Pereira – como tudo começou



Do acervo de José Luiz Lopes Gomes



Festival de Cinema Rio-branquense Geraldo Santos Pereira – como tudo começou





O cineasta Geraldo Santos Pereira dava uma palestra na Universidade Federal de Viçosa –UFV, nos primeiros anos deste Milênio.  Ao falar de sua vida, disse que era natural de Visconde do Rio Branco.  O agrônomo José Luiz Lopes Gomes, funcionário daquela Instituição, ouviu com uma ponta de orgulho a informação, sem saber, no momento o que deveria fazer. 

José Luiz, apesar de ter nascido em Ervália(MG), veio muito cedo para nossa cidade e aqui viu crescer seus irmãos, filhos do Sr. Washington e da Professora dona Cecília Ignachitti.  Considera-se rio-branquense de coração.  

O seu orgulho cresceu ao pensar em ter um conterrâneo da estatura e projeção de uma figura como Geraldo, considerado cidadão do mundo, autor de tantas obras relevantes juntamente com seu irmão gêmeo Renato. 
Geraldo e Renato tinham no seu acervo de realizações toda uma obra em torno do Barroco Mineiro associado à  cultura do ouro, entre o início do século XVIII e o final do século XIX..  E eram pioneiros na produção de filme a cores no Brasil, com o lançamento de Rebelião em Vila Rica, que sincronizava a rebeldia da juventude de épocas diferentes. 

O Aleijadinho – paixão, glória e suplício -, O Seminarista,  Noite e Diamante, e aquele sem fim de informações que o palestrante plantou na platéia universitária. 


Nos fins de 2004, Zé Luiz estava em Visconde do Rio Branco com muitas idéias na cabeça e uma caneta na mão. Falou-nos a respeito.  O tema era embriagante: trazer aquele rio-branquense ilustríssimo, sem ser ilustrado, à sua cidade que nem o conhecia.  Como, quando e quanto? 
Geraldo e Renato Santos Pereira ladeando familiares


Se a idéia nos aflige, alguma coisa tem que ser feita, nem que seja como válvula de escape.  Foi um tal de pesquisar no Google.  Mas e o nome:  Parecia Geraldo Pereira....  Pereira de que.....  Há tantos geraldos.... tantos pereiras.... Os resultados vêm infinitos e não se chega a qualquer conclusão.... até que deu um estalo:  “Não! Parece que é um sobrenome invertido....  Geraldo Santos Pereira!   Tiro e queda!   Apareceu um vasto resultado de pesquisa sobre os irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira, que tinham estudado em Paris, produzido importantes filmes culturais, fundado associações e clubes de cinema, conhecido muita gente importante. 
Ivo Pitanguy


Descobrimos “quem”.   Como, quando e quanto eram as questões seguintes.  Descoberto o e-mail, foi estabelecido o contado, com o próprio Geraldo, que manifestou grande desejo de vir à sua terra, exibir O Aleijadinho, realizar palestras, arrancar dos “endinheirados” a construção de um Centro Cultural, já que restava do Cine Brasil somente a fachada  e o tombamento de algumas de suas partes internas. Atividade artística nenhuma.  E, no  meio de seus planos, havia a paixão por filmar a vida de Guido Marlière, o militar francês que veio para estas paragens a serviço da Coroa Portuguesa como “pacificador dos índios Croatas, Coropós e Puris”, além dos bravios e antropófagos Botocudos.




Agora, havia um desafio: um artista como Geraldo vir à cidade pregar cultura, custaria viagens, estada, “cachê”, que dependeria de algum ‘pé de meia’.  Para alguns idealistas descalços é querer subir ao ceu nos degraus do vento.

Para nossa surpresa, Geraldo mostrou sua grandeza de espírito tanto quanto suas qualidades artísticas e intelectuais:  condução ele mesmo viria dirigindo seu veículo, apesar de seus 80 e tantos anos.  Hospedagem: qualquer lugar que o abrigue junto com sua esposa Elza e sua filha Laurinha.  ....” o resto a gente dá um jeito...”.

Foi assim que em 2006, o grande cineasta – que perdera o irmão Renato em 1999 -  chegou a Visconde do Rio Branco, hospedou-se na casa onde reside José Luiz Gomes, na Rua Benjamin Betelli, Barroca, recebido com as honras de estilo prestadas a um homem simples junto com sua família.
Geraldo, a filha Laurinha, a esposa Dona Elza. Do outro lado da imagem: Jeová Benati e os irmãos gêmeos sobrinhos do anfitrião José Luiz Lopes Gomes 

Durante uma semana, contou “causos” e falou de história.  Visitou, acompanhado de comitiva, o Monumento a Guido Marlière na Serra da Onça, à beira da estrada velha que liga Guidoval a Cataguases.  Exibiu “O Aleijadinho – paixão, glória e suplício” no Auditório Jotta Barroso, onde realizou palestra, concedeu entrevistas e pousou para fotos junto a populares admiradores.  Na noite seguinte reprisou a exibição do filme em praça pública, em frente à fachada do Cine Brasil e reproduziu palestra, em uma noite fria de junho.  Sempre pregando a criação do Centro Cultural, a que sugeria o nome de Guido Marlière.
Geraldo e comitiva no Monumento a Guido Marlière - Guidoval - 2006
Em frente ao busto de Guido Marlière, Zeladora locar e Dra. Margareth


A sua obsessão pela vida do militar levou-o a procurar as prefeituras de Guidoval, Ubá e Visconde do Rio Branco, na tentativa de conseguir no mínimo R$ 150.000,00 para realizar a filmagem, a partir de um museu de Paris, onde existe foto de seu personagem.  Nessas suas tentativas,  regressou frustrado à residência na Capital Mineira.

O fim de toda história é sempre o começo de outra.

No ocaso do ano passado, soubemos da existência de um grupo de jovens cineastas, liderados por Erick Leite, interessados em filmar a história do próprio Geraldo Santos Pereira, que vive certo ostracismo até mesmo pelos estudantes de cinema.  A equipe já havia feito contato com artistas do elenco de Geraldo e com muitos de seus amigos, a fim de resgatar-lhe a memória. Geraldo estava acometido do mal de Alzheimer, incapacitado, portanto, para narrar a sua vida.

Como parte desse resgate, Erick e seu grupo da Café Pingado Filmes(Belo Horizonte-MG) repetiram a vinda de Geraldo aqui,  hospedaram-se na mesma casa de José Luiz, visitaram o Monumento a Guido, no domingo, 04 de dezembro de 2011.

O resultado de tudo isto é este Festival de Cinema Rio-branquense Geraldo Santos Pereira, com duração de uma semana: 23 a 28 deste mês de julho: segunda-feira a sábado.  Segunda a sexta-feira, sessões no Auditório Jotta Barroso – Água Limpa, onde nasceram os irmãos cineastas –, com exibição de filmes produzidos por rio-branquenses e pelo próprio Geraldo.  E, no sábado, encerrando o Festival, Erick fará palestra sobre a vida do seu personagem e exibirá EU É GERALDO, que tem a produção de Ana Flávia Amaral.







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