sexta-feira, 30 de agosto de 2013

De tudo o que o povo não quer, tem de nascer o que ele quer



       Existe uma certeza de que o povo não quer nada disto que forma o nosso cenário político, na forma das eleições, no exercício do poder e no perfil dos atores de todo esse teatro de representações bufas para enganar e explorar quem está fora do poder, os sustentadores de todas as armações e desmandos. 

Imagem: Jornal Cma

         De tanto carregar o peso desse andor corrompido, durante muito tempo pensando em sustentar ídolos divinos, a gente comum cansou-se e sentiu que essas divindades nada mais são do que grosseiras esculturas  feitas de barro, esculpidas na lama e ilustradas por luzes da falsidade e da empulhação.  São o caldo de cultura da espoliação originária no colonialismo, que passou pelos coronéis e desemboca nas oligarquias.

         Uma população que vive em área de terras férteis, abundantes e improdutivas, consome produtos vindos de fora, não se sabe de onde, envenenados por agrotóxicos, e cheios de manchas que comprometem mais da metade de cada unidade que se pretenda consumir.  São os frutos do agronegócio, que, para atenderem lucros exorbitantes, são enxertados com aqueles produtos químicos que provocam a doença, para gerar o consumo de remédios.  Laboratórios que produzem o veneno são os mesmos, ou associados dos fabricantes dos medicamentos.

    
Imagem: Bno-Uff                                            Imagem. A Nutricionista 

         A população sofre as conseqüências sob a ação da classe política que se associa a essas indústrias da morte, que também se incluem entre os financiadores de campanhas eleitorais.

         As manifestações de rua demonstram saber o que não querem, e a quem não mais quere,.  Há de chegar o tempo para os protestos cederem lugar a uma parada de reflexão coletiva.  Sabendo o que não quer, tem de buscar soluções para estabelecer o que quer.   Há de ceder das emoções causadas pela insatisfação, para a discussão coletiva e organizada em busca das soluções.  Estas são fáceis e palpáveis desde que conduzidas sem pressa, mas sem esmorecimento. 

Viçosa-MG. Imagem: Ricardo Lopes 


         Há de se pensar que a Natureza é pródiga.  E que sempre  oferece às espécies os meios necessários para a provisão e a sobrevivência.  O básico, o alimento, vem da terra.  Cultivada, dela brotam os frutos e os grãos que garantem a vida.  Para essa cultura de bens alimentícios mão de obra é necessária. E ocupa braços ociosos que,  em uma atividade sadia, mantêm os cérebros ativos e estimulados quando sentem das suas mãos nascer o alimento para cada um e para a coletividade. Em troca do seu trabalho,  recebem a remuneração para terem a oportunidade de comprarem o que quiserem, a seu gosto, em pleno exercício de cidadania, o ponto alto da dignidade humana.  Muito melhor do que a esmola que humilha e eterniza a miséria da dependência.

         Se o povo analisar e estudar os vários aspectos da atividade humana, verá que o trabalho digno, sem tutela e sem exploradores, gera riqueza para atender a suas demais necessidades de construção da moradia, de promoção da educação, do cuidado à saúde, de oportunidade de repouso, de lazer, de confecção ou compra do próprio vestuário e de todas as ações que promovem a felicidade coletiva, para a segurança individual e a paz social.

         O exercício da função pública chegou a um ponto de degradação, que é mais fácil uma sociedade dirigir-se a si mesma do que submetida a governantes que só fazem escorchar o povo com impostos abusivos e gastar desmesuradamente com enriquecimento ilícito e distribuição escandalosa entre membros de sua estirpe, um conjunto de gente que somente aprendeu a viver às custas das finanças públicas; gente que nunca aprendeu a trabalhar e produzir para seu próprio sustento e para atender suas vaidades insaciáveis.

         O povo organizado pode praticar a autogestão da coisa pública, com a doação voluntária pela causa comum, durante um tempo suficiente para constituir uma forma de governo em que os impostos sejam estabelecidos em conformidade com a renda de cada um, para remunerar governantes que nasçam das bases, com o objetivo de prestar serviço comunitário durante certo tempo e serem substituídos por outros dotados de espírito desprendido, de altruísmo, que pensem no bem  comum.  De pessoas que tenham meio de vida próprio, e que se envergonhem de pensar em viver  às custas do erário, onde está o suor sagrado daqueles que trabalham e produzem.

         Para atingir esse estágio, o povo precisa esquecer que existe um calendário eleitoral.  Durante o tempo necessário para construir seu próprio modelo de gestão e de governo social, estará sendo governando pelos políticos de carreira, que saem sempre do mesmo balaio de gatos.  Até chegar o ponto em que a sociedade tenha criado seu próprio projeto de governo, de gestão, na verdade de autogestão coletiva, onde a separação de classes será somente a dos que trabalham e a dos que se acomodam.  Todos terão suas necessidades atendidas conforme o merecimento de cada um, tendo o trabalho e a honestidade como parâmetros determinantes desse mérito.

         Do povo capaz de criar a autogestão coletiva para a vida em comum, o tempo fará surgir os políticos dispostos a honrar mandatos e fazerem da participação na vida pública uma atividade de honra, onde os legisladores construam direitos justos, e os executivos façam questão de  demonstrar para a população, com lisura, o que fizeram com os recursos oriundos dos contribuintes, com respeito à natureza e a todos os bens que fazem a felicidade do trabalhador, da sua família e de todos que contribuem para a geração da riqueza e dos bens que a todos beneficiam.

(Franklin Netto –  viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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