quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Nó em pingo de lama - Pedro Porfírio

BLOG DO PEDRO  PORFÍRIO
Paes anuncia desapropriação do pântano de Guaratiba. Foi tudo  que o amigo Jacob Barata pediu a Deus

Para o prefeito Eduardo Paes tudo "acaba em samba" e a população carioca que pague a conta
Enquanto o prefeito Eduardo da Costa Paes insistir em dizer que não sabe de quem é  o terreno pantanoso que virou o mico mais suspeito da temporada do Papa no Rio de Janeiro é impossível levar a sério qualquer coisa que ele diga sobre o crime urbano que estava apadrinhando.
Ou melhor, é aconselhável pensar muito sério sobre todo e qualquer ato de sua lavra,  por que nunca incompetência e má fé se deram tão bem como em sua administração, páreo duro com a de Sérgio Cabral, numa macabra competição sobre quem é mais capaz de fazer mal no afã dePRIVATIZAR O ESTADO numa ação entre amigos.

Depois que algumas chuvas finas (que não produziram um só desabrigado na beira do rio Piraquê, nem provocaram qualquer aviso de alerta da DEFESA CIVIL)   expuseram as vísceras do chamado Campus Fidei, uma área que seria “abençoada” pelo simpático chefe da Igreja Católica como passaporte para um irresponsável empreendimento imobiliário, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro tenta literalmente DAR NÓ EM PINGO DE LAMA para salvar as aparências e, mais grave, a miragem que envolveu o seu dileto amigo Jacob Barata, uma espécie de Eike Batista mais sambado, mais grotesco e menos ladino.

Falso pulo do gato

A última do prefeito é o falso pulo do gato que está mais para pulo da onça. Anunciou a desapropriação do latifúndio para a construção de um enorme conjunto habitacional na área que, segundo disse em sua semântica de botequim, só serviu para beneficiar os seus “generosos” donos, que o receberam de volta com uma boa guaribada, depois de  “emprestado” à Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, onde também transitam personagens com a mesma volúpia dos sabidinhos do Banco do Vaticano.

Eduardo da Costa Paes insiste em sinalizar uma incompetência cavalar, essa de desconhecer quem são os proprietários desse latifúndio urbano quase sacro, para escamotear seu envolvimento no forçado direcionamento do ato maior da jornada papal para tal área, que teve de ser aterrada, que invadiu manguezais de preservação permanente, e, mesmo assim, não tinha a menor condição de garantir um copo d’água para os peregrinos que podiam ser jovens, mas não haviam feito treinamento de guerrilha na selva.

Desapropriação, uma indústria de favorecimentos

E agora enche a boca para anunciar um ato “heróico” que está muito mais para “plano b” dos ex-futuros incorporadores. Desapropriar é o mesmo que comprar. Os donos (o prefeito é o único carioca que desconhece suas digitais) vão ganhar uma grana preta que, provavelmente, compensará a inviabilização comercial desses terrenos ostensivamente inóspitos, mas cujo pregão já estava na ponta da língua.

A única diferença é que o poder público obriga a concretização do negócio, arbitra um preço e pode requerer a imediata imissão de posse, mesmo que os proprietários da área desapropriada decidam contestar o valor na Justiça.

Desapropriações de favorecimento são comuns neste país em que cada um puxa a brasa pra sua sardinha e faz seu pé de meia às custas do erário.  Aí estão dezenas de fazendas sem condições de plantio, algumas quase submersas,  que o INCRA desapropriou a peso de ouro para fins de reforma agrária, em muitas das quais não teve nem como jogar as levas de sem-terras engabelados pelo sonho do eldorado redentor.

Como insiste em dizer que não sabe quem são os proprietários desse pantanal mal assombrado – ou melhor, mal aterrado – parece claro para qualquer burro manco que boa intenção não lhe move nesse atoleiro de mau cheiro.

Tanta pressa boa coisa não é
E essa corrida contra o tempo, essa pressa aloprada em anunciar a desapropriação, não é de bom conselho. Pra que botar a carroça diante dos bois, num  procedimento tão sumário, se o quase sacro latifúndio é um atoleiro de controvérsias? 
É absolutamente inacreditável que ele alimente essa avidez tão sôfrega quando sequer se sabe quem seria jogado nessa área de possibilidade construtiva improvável. Se não deu nem para um ato a céu aberto, suportando apenas o peso das pessoas, quem dirá na hora da construção com dinheiro nosso de habitações que teriam de ser anfíbias, no mínimo.

O Jardim Maravilha foi um loteamento privado
 que foi construído em área alagadiça.
Não precisa consultar o sistema de espionagem do presidente Obama para imaginar a engenharia do “morro do Bumba” (aquele de Niterói) numa área semelhante ao vizinho Jardim Maravilha, o macro-loteamento da região, na Estada do Magarça, que levou a outrora pujante Caderneta de Poupança Morada à bancarrota e ainda obrigou a Prefeitura a gastar rios de dinheiro para tornar habitáveis as casas construídas ali.

Terras cadastradas na prefeitura como alagadiças

Segundo a bióloga Rita Montezuma, professora do Departamento de Geografia da UFF e principal especialista da bacia hidrográfica da região, a prefeitura sabia que á área da missa apoteótica era “naturalmente alagável”.
 "A prefeitura tem essa informação, tem esse mapeamento - sobre áreas alagáveis. Se ela ignorou, ela é muito responsável pelo que está acontecendo agora." – declarou de forma enfática, dando nome aos bois.
Esse terreno aparece em mapas do IPP (Instituto Pereira Passos, da prefeitura) como área alagadiça.  Segundo Rita Montezuma, essa característica se deve à combinação entre terrenos com depressões abaixo do nível do mar e confluência de rios. Uma das principais incidências é a presença de manguezais.

"Em Guaratiba, há manguezais bem extensos. Não à toa que se comia nos restaurantes dessa área caranguejos e siris. A área é naturalmente alagável", acentuou a especialista.

Esse mico que expôs situações desconfortáveis para o prefeito Eduardo da Costa Paes não é a única arapuca de uma coleção que os eventos internacionais poderão encobrir.  E, como daqui a pouco o assunto será esquecido na mídia, ainda vamos ter muito mais o que lamentar, até por que Eduardo e seu séquito de mauricinhos não são os únicos dados a aventuras urbanas: o arcebispo Orani Tempesta (que não se perca pelo sobrenome) disse que a culpa de toda essa pasmaceira mundializada é da meteorologia, que havia previsto uma semana de sol. Quer dizer: desse para o espetáculo litúrgico, o resto que se virasse depois.


E ainda dizem que eventos de tal porte trarão benefícios à cidade para além do seu calendário.

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