quinta-feira, 20 de junho de 2013

A única coisa definida nas manifestações é a insatisfação

                           


         Não há como pensar que o movimento popular pelo Brasil inteiro tenha um foco único.  O aumento de passagens apresentava mais razões técnicas que não justificavam aumento.  Elas haviam sido reajustadas por anos seguidos acima da inflação, e os donos das empresas de transporte urbano gozam de subsídios governamentais, que, afinal, saem do povo no pagamento de impostos. São privilegiados por financiarem campanhas eleitorais.

         A insatisfação geral tem uma infinidade de motivos: baixos salários, aposentadorias desvalorizadas, uma das piores qualidades de educação do mundo, uma das maiores concentrações de renda, carestia geral, muita corrupção, classe política desacreditada por corrupção, condução precária, os mais altos impostos da América Latina,  os políticos mais caros e piores do mundo, saúde deficiente, instituições desmoralizadas, favorecimento a grupos econômicos nacionais e internacionais, obras públicas superfaturadas, privilégios aos governantes e seus protegidos, falta de interesse pelos problemas do povo.  Todas as insatisfações giram em torno dos governos federal, dos estados e dos municípios. 

         Existe um gigantesco abismo entre o nível de vida dos governantes e o da população. O povo não está nas ruas por acaso, nem por motivo festivo.  É a indignação popular contida por muito tempo que explodiu. E o povo insatisfeito ainda se encontra pacífico, quando atende ao bom senso de se manifestar sem vandalismo.  Esse é o procedimento da massa. Esse é o espírito de não violência.  Alguns que excedem nas manifestações constituem exceção.  A mídia procura destacar a exceção como se fosse a regra. E tem de haver uma compreensão:  afinal, se temos uma educação de tão má qualidade, alguns que procedem de maneira inconveniente podem ser os de pior educação recebida.  É o povão lutando contra as injustiças com a formação que o estado lhe deu.

         Se formos procurar culpados, eles começam nos municípios onde os cidadãos crescem e recebem as primeiras noções escolares.  Os administradores municipais têm o dever de zelar pela formação do seu povo, principalmente depois que os principais serviços públicos foram municipalizados, com destaque para a saúde.  No município começam as causas de um desenvolvimento histórico.  E neles estão as terras para produzir alimento para sua população. Neles tem de começar o planejamento para o bem estar coletivo.  Os estados e o país resultam do somatório das potencialidades e problemas dos municípios.  

 Hoje à tarde, na porta da prefetura de Visconde do Rio Branco. Foto: Abaixo da Corrupção

         A família é o primeiro núcleo da organização social. Com ela os administradores do município têm que se preocupar, oferecendo condições de vida para que o seu conjunto forme uma população saída, bem instruída, atendidas nas suas necessidades básicas para que seus membros sejam exemplo de vida para os demais.  Tem de haver, a partir de cada família, a influência positiva para o comportamento coletivo, que se expande para determinar que tipo de nação nós formamos.

         Os administradores públicos, a partir dos municípios, são eleitos não para posarem de reis, soberanos, príncipes e receberem rapapés dos súditos. São pagos e bem pagos para trabalharem a favor dos cidadãos contribuintes que devem ter uma formação adequada, como moradia de qualidade, alimentação farta, satisfatório nível de instrução escolar e o conforto resultante de uma justa distribuição de renda. Por isto, na democracia, seus mandatos têm prazo limitado.  Falta nesta democracia o poder de o povo destituir seus maus governantes a qualquer tempo. Por esta razão, mentem, trapaceiam, abusam dos cargos conquistados como se sua posição fosse eterna.  Falta na democracia abrir o direito à reeleição indefinidamente, se o administrador da coisa pública merecer, e o povo quiser;  do mesmo modo, qualquer mandato poderia ser interrompido, se houvesse motivo e o povo quisesse.

         O povo está nas ruas por uma insatisfação geral, com muitos motivos.  Ninguém pode pretender que seja por uma razão específica.  São muitas as causas acumuladas, toleradas durante muito tempo.

         Quando veio a eleição de Lula, houve uma descarga de votos de esperança perante do perfil diferente do candidato e do seu partido.  “Nunca antes na história deste país” um operário havia ao menos postulado a eleição de presidente da república.  Depois de tantas frustrações com os tradicionais dirigentes oriundos das classes dominantes, dos homens letrados e possuidores de títulos, afinal havia razões para se esperar por mudanças com forte rima em esperanças, na pessoa de origem humilde, de família sofrida do Nordeste.

         A população não sabia que candidato já havia sido cooptado, domesticado pelos manipuladores do capital e da mentes humanas desde o seu “nascimento político”, desde sua projeção nos pátios das montadoras de automóveis do ABC paulista, já havia passado por estágios nos meios sindicais dos Estados Unidos, e preparado para “roubar” o discurso do trabalhismo histórico, e dividir e enfraquecer a classe trabalhadora.  Essa população não tinha culpa de a mídia dominante forjar “heróis” e derrubá-los quando for conveniente para seus patrocinadores. 

         Agora chegamos a este ponto: Lula, FHC, Collor, Serra, Dilma, Sarney, Maluff e a corja de cada um são todos iguais.  Os seus frutos são flexibilização (destruição) das leis trabalhistas, redução do valor real dos salários e das aposentadorias, escolas sucateadas com ensino do faz-de-conta, desemprego e subemprego, aumento das favelas, fraudes na manipulação dos recursos públicos, improbidade administrativa, concentração de renda, desprezo pelos problemas do povo, mensalão, valerioduto, Operação Castelhana, paraísos fiscais, enriquecimento ilícito.  Os partidos políticos se nivelaram por baixo, cada qual trocando apoio parlamentar por ministérios, secretarias e cargos na administração.  Toma lá, dá cá.

         As massas nas ruas estão protestando contra tudo e contra todos os que fizeram da administração pública um cassino, onde quem sempre perde é o povo. A cada dia são maiores os movimentos. Nossos “templos” legislativos e executivos parecem a Corte de Luiz VI.  E ocupantes imitam os hábitos de Maria Antonieta.  O preocupante é que esse povão ocupando as ruas de maneira tão avassaladora faz lembrar a Revolução Francesa.

         Seria prudente os presidentes dos Três Poderes fazerem uma reunião urgente, usar o que ainda lhes resta de bom senso e dignidade, e convocarem uma assembléia nacional constituinte exclusiva.
 #OGiganteAcordou
Imagem: Internet

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
          






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