quinta-feira, 27 de junho de 2013

COLUNA DA MÁRCIA MARIN(Angl City-PR) - Eu fico com a pureza da resposta das crianças.



Caro(a) Leitor(a),

Em um reino muito antigo, havia um homem que devia muito dinheiro ao rei. O rei, por sua vez, quis fazer as contas com os seus súditos. E, começando a fazer os cálculos, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez milhões.

Não tendo ele como pagar, o rei mandou que o súdito, sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto possuíam, para que a dívida se lhe pagasse.

Então aquele súdito, prostrando-se, o reverenciava, dizendo:

— Oh! Grande rei! Seja generoso para comigo, e tudo te pagarei.

Então o rei, movido de profunda compaixão, soltou-o e perdoou-lhe toda a dívida.

Saindo, porém, o súdito, do palácio, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem moedas, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo:

— Paga-me o que me deves.

Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo:

— Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.

Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os outros conservos o que aconteceu,entristeceram-se muito, e foram declarar ao rei tudo o que se passara.

Então o rei, chamando-o à sua presença e disse-lhe:

— Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?

E, indignado, o rei o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia.

Esta história foi contada por Jesus no Novo Testamento. É interessante notar que ele inicia o capítulo, onde é contada esta parábola, depois que os discípulos perguntam “quem é o maior no reino dos céus?”. O Senhor fala, então, sobre a necessidade de adotar uma postura humilde diante da vida e migrar o coração e pensamentos em direção à prática da cordialidade e simplicidade das crianças. Elas são o modelo!

Não se trata de um olhar infantil e ingênuo para o mundo, mas sim, de aprender a se alegrar mesmo tendo pouco. Saber, por exemplo, olhar para uma lata jogada no lixo e fazer dela um carro ou barco imaginário. Elas tem muito a nos ensinar (ou relembrar) sobre quando olhar para o copo metade vazio ou metade cheio.

As crianças tem este poder gigantesco de superar dificuldades e conflitos. Qual de nós, quando pequenos, nunca encontrou um bom amigo depois de uma boa briga com direito a socos, chutes e palavrões com o, até então, inimigo?

As crianças são, assim, naturalmente generosas, abraçam-se e perdoam-se com muito mais facilidade que nós adultos.

Jesus vai construindo e provocando a resposta dada aos discípulos oferecendo, pelo menos, três atitudes necessárias para se tornar “o maior no Reino dos Céus”:

1- Quem quer, de fato, ser “o maior”, tem de se tornar, primeiro, o menor. Para ser “o maior” é preciso, obrigatoriamente, não desejar ser “o maior”. O crescimento do Reino é para dentro de nós e não para fora.

2- Quem é do Reino, não se alegra com a injustiça, mas promove sempre a reconciliação. Ainda que esta seja a reconciliação com aqueles dos quais, em tese, não precisamos, não gostamos ou sejam até mesmo os “menos importantes”. Deus cuida dos pequeninos, cuidem deles também, diz Jesus.

3- A parábola do credor que não quis perdoar uma dívida infinitamente menor que a sua própria, foi parte da resposta que Jesus deu a Pedro depois de perguntar ao Senhor quantas vezes se deve perdoar alguém. Esta é a terceira qualidade ou atitude a desenvolver quando se quer ser "o maior" no Reino: uma vez perdoado, precisamos oferecer perdão também.

Nas palavras de Jesus, oferecer perdão não se trata de uma simples escolha, é mandamento, é obrigação. A menos que não queiramos ser perdoados também.

“Entre, rapidamente, em acordo com o teu adversário!” diz o Senhor em outro texto, a fim de que não sejamos surpreendidos negando o perdão que já recebemos. Em “adversário” está incluso todo tipo de gente que nos aflige, provoca dores, medos e angústias. A questão não está centrada em quem está ou não com a razão, mas em ser ligeiro no acertar das arestas, independente de qual lado, certo ou errado, se esteja.

É preciso ser paciente para suportar algumas crises e demandas, eu sei, principalmente quando elas continuam provocando dores e traumas. Mas quem quer, de fato, ser chamado de “filho da luz” ou “grande” no Reino, não espera pela queda do inimigo, não se satisfaz na punição do erro alheio, mas se alegra em ver o perdão que nos alcançou se tornar verdade palpável na vida e existência do outro também.

Negar o perdão a quem quer que seja, é negar o perdão a si mesmo. Tertuliano, um dos primeiros apologetas cristãos, dizia: "quer ser feliz por um instante? Vingue-se! Quer ser feliz a vida toda? Perdoe!". 

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