terça-feira, 18 de junho de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops - DEPOIS DE UM VERÁO GLORIOSO, UM INVERNO DE PERPLEXIDADES



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O RECADO DAS RUAS: ‘SAÍMOS DO FACEBOOK!”

Paulo Timm – Torres junho 18 - copyleft

Ontem, dia 18 de junho do ano da graça de 2013, sem lenço nem documento, muito menos aviso prévio e com absoluta ausência de Políticos e seus  Partidos, a juventude brasileira ocupou as ruas de várias cidades do país. Fato inédito que vai para a História.  Protestam CONTRA: Contra o aumento das passagens de ônibus, contra o caduco sistema de representação política ,  contra a corrupção, contra a tentativa do Congresso Nacional calar o Ministério Público, contra os péssimos serviços públicos. “Pela vida”, como disse uma manifestante a uma rádio. – “Desculpem o incômodo, estamos mudando o país”, dizia um cartaz pendurado num menino de cerca de 15 anos.  É a vitória da democracia direta, que vem das ruas , ecoa junto às famílias e reverbera nas paredes dos Poderes constituídos. E dá seu recado num outro cartaz : “Quando seu filho adoecer, leve-o ao Estádio”.

A maior reação da sociedade é de perplexidade. Como pode isto estar acontecendo? Afinal, o país vive um momento de estabilidade institucional, equilíbrio político entre várias forças , pleno emprego e inserção inédita de milhões de miseráveis no mercado. Esquece, quem assim pensa, que esta é apenas a superfície da sociedade brasileira, uma – senão a mais – injusta do mundo, com uma pequena vitrine de bilionários senhores, nada mais do 10 mil enfortunados rentistas, senhores , da totalidade dos ativos patrimoniais e  financeiros contra uma nação de 100 milhões  miseráveis que não ganham maio salário mínimo por mês, mal contidos por outro tanto de uma miscelânea social inaudita a que dão o nome de classe média. O país não tem infra-estrutura, não tem uma indústria competitiva , não tem educação e saúde, a ponto de querer importar médicos do exterior. Somos, na verdade um grande fazendão que não consegue gerar os recursos fiscais indispensáveis à modernização do país.

A Imprensa Internacional é a mais surpresa. Talvez porque jamais tenha entendido direito o Brasil.

O Governo Federal, ainda narcisicamente ferido pela vaia à Presidente Dilma na abertura dos jogos da Copa das Federações, vacila. Pior, revela profunda divisão que aponta para inevitáveis rachaduras no PT. Primeiro, tentou ver nas manifestações a contrariedade da classe média alta contra as Políticas Sociais. Depois, através de um  Ministro  Palaciano, Gilberto Carvalho,  revelou a incompreensão sobre os fatos, preferindo jogar as demandas à responsabilidade dos Prefeitos. Pobre moço!!!  Aí Lula e Dilma resolveram falar a favor dos manifestantes.  – “Estamos aí! Juntos!”, dizem em uníssono. E admitem que há uma nova forma de fazer política que se revela nas ruas. Nesse sentido, lembram o Presidente Figueiredo, no ocaso do regime militar, quando indagado o que achava do grande comício das Diretas Já, no Rio de Janeiro (1983), quando reuniu um milhão de pessoas: “Se eu estivesse lá, seria o um milhão e um...”, disse . Frases de efeito mas reveladoras do mal estar de quem está no comando.

Os políticos , nesta hora, sumiram. Nada dizem. Mas pensam. Alguns sibilam em off o óbvio: “O vento mudou. É uma onde de reprovação à Política, que não poupa ninguém. Nada será como antes”. O mais experiente no Congresso Nacional, José Sarney sempre fala nessas horas que tudo muda quando as manifestações cercam o Congresso. Portanto, do silêncio que grita, uma observação inevitável: Começou o declínio do PT levando à conseqüente erosão de sua Base Aliada e riscos crescentes à reeleição de Dilma em 2014.

E as tendências ideológicas, como reagem ?

Na esquerda estabelecida no poder – PT, PCdo B  e PDT , nenhuma nota oficial. As Direções acusam, entretanto, a presença de muitos de seus jovens nas manifestações em franco desafio ao marasmo reinante nas cúpulas. Algo muito parecido ocorreu nas históricas manifestações de 1968, quando o velho Partidão, inerte, viu sua “Dissidência”, eminentemente jovem,  acorrer maciçamente ao espasmo ant-autoritário que fluía pelas avenidas e praças do país. Nunca mais se recuperou ... Hoje o PPS, que lhe sucedeu, é uma pálida e desfigurada caricatura do foi o Glorioso Pessegueiro...Com a lacuna da esquerda dita oficial, de grande porte, crescem os nanicos : PSOL, PSTU e algum outro de menor expressão.

A direita foi tomada de surpresa. Prova-o a crônica desavisada do Arnaldo Jabor na primeira hora, condenando o movimento como irresponsável e inútil. 

Teve que apelar à autocrítica e mudar de tom. É o que está acontecendo com o conjunto das forças mais conservadores. Sabendo que não pode tirar partido direto da situação, sobre a qual mal disfarça um sorriso amarelo, procura apoiar de longe o movimento como técnica diversionista. Pelo menos, dizem, algo se mexe e cria uma esperança de mudança em 2014. 

Talvez reeditem, com isto, em 2014, o que o PFL fez em 1994: Concentrar suas forças num candidato que, mesmo sem ser plenamente confiável,  como (ainda) era FHC naquela época com seu pequeno PSDB, consiga desestabilizar o PT. A ultra-direita, cheia de viúvas saudosas da ditadura ficam açodadas e multiplicam seus manifestos delirantes na INTERNET. Náo é impossível que se infiltrem no Movimento como agents provocateurs...Mas, ainda assim, não há que fazer qualquer comparação do momento atual com o que aconteceu em 1964, falácia a que o os petistas , defensivamente, sempre cometem. Hoje , a direita está literalmente desarvorada, sem conexões externas. Está, enfim, por sua conta e risco, o que lhe limita enormemente os movimentos.

             Daqui em diante, portanto, o PT , como Governo e  como força até aqui hegemônica na esquerda deverá abrir seus olhos e predispor-se à mudanças, não só de estilo de Governo, responsabilidade de Dilma, como de avaliação da conjuntura.  Estamos na iminência de uma nova era na política nacional. Esgotou-se o modelo construído nos anos 70 e que deu oito anos ao PSDB e 10 ao PT. A democracia se consolidou, a tecnologia de informação mudou radicalmente, a sociedade amadureceu. Pior , tudo isso num mundo em alta rotação de mudanças estruturais na sua economia e na sua geopolítica. Nesta última o Brasil se enlaça, em seu INVERNO DE PERPLEXIDADES ao que foi a PRIMAVERA ÁRABE e o OUTONO TURCO. Há , neste novo cenário, um forte movimento da contestação à política tradicional e suas instituições, sobretudo o sistema representativo sob monopólio de Partidos.  O mundo não sabe o que quer, mas sabe o que não quer mais: não quer ser tutelado por concepções fundamentalistas de inspiração religiosa ou ideológica, ambas autoritárias. Até no Irã está havendo mudanças.

                 Aqui, pois, a primeira lição a ser aprendida pelo PT: Ele não tem o monopólio da esquerda brasileira pelo simples fato de ter nascido no meio operário e ter conseguido eleger um metalúrgico Presidente. Tem que lutar por isto, num projeto de refundação da esquerda atualmente esfacelada.  E compreender que não será jamais o centro de uma articulação política para a mudança no Brasil se não fizer, antes da aliança com Partidos obsoletos, com a inteligência, hoje desprezada. Um discurso como fez Dilma recentemente, que estigmatiza a crítica às Políticas Governamentais, associando a inteligência ao Velho do Restelo é simplesmente execrável, além do mau gosto e lamentável ignorância do personagem.

               Quanto à Dilma,  enfim, é tempo de compreender que não basta viver das glórias do passado, inequívocas no tocante à incorporação, embora muito por baixo, de 20 ou 30 milhões de brasileiros ao mercado. Ela tem que Governar. Governar com definições ideológicas claras, vez que, se é para administrar uma Política Neoliberal, com ênfase em privatizações, prioridade ao agrobusiness e abandono de áreas sociais, melhor deixá-la à gestão dos tucanos... Além disso,  Governar é definir estratégias e persegui-las com habilidade política, eis que no seu prepotente centralismo está um dos principais problemas atuais. Eis o que um jornalista (L.Nassif) , apoiador  do Governo, alinha como passos, embora mais administrativos do que políticos,  indispensáveis:

Passo 1 - reconstruir canais institucionais de participação externa. Assim como no CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e no Minha Casa, Minha Vida, há que se reabrir o espaço para que a sociedade civil. Há três canais obstruídos de participação: a Casa Civil, da Ministra Gleize Hoffmann, a articulação política, da senadora Ideli Salvatti, e o Ministério da Justiça, de José Eduardo Cardozo.
Passo 2 - uma mudança ministerial graúda, eliminando os apáticos e os que, há tempos, colocaram o governo em segundo plano para cuidar de suas pretensões políticas.
Passo 3 - Reestruturação organizacional no Ministério, colocando ministérios menores sob a coordenação de Ministérios maiores -, conferindo poder e autonomia aos coordenadores, além de sistemas para definir as prioridades, o acompanhamento dos trabalhos e a cobrança de resultados a posterior. Ao presidente cabe libertar-se das amarras do dia a dia para a correta avaliação política e estratégica. O lema desse segundo tempo deveria ser: "Definir, delegar e cobrar".
Passo 4 - ampliar as interlocuções informais para fora da macroeconomia. De Getúlio a Lula, todos os presidentes tinham olheiros, radares, pessoas de confiança junto ao meio empresarial e político para alimentá-los de informações de cocheira. Getúlio tinha Valentim Bouças,  Lula tinha (e ainda tem) Antonio Pallocci. Sem canais informais confiáveis, Dilma continuará desarmada.

De tudo o que estamos vivendo, portanto, há mais dúvidas do que certezas. Sequer a certeza de que este movimento se converta em instrumento táctil para as mudanças pretendidas. Movimentos equivalentes em outras partes do mundo, como Occupy Wall Street nos USA e Indignados, na Espanha, estão em franca fragmentação. Mas, de qualquer forma, deixam seu registro. Até pode não acontecer nada, mas se isto acontecer, desafiando a realidade que exige uma grande REFORMA POLÍTICA no país,  o movimento ficará represado e , mais dia menos dia, voltará à cena.



BRASIL - A REVOLTA DOS CENTAVOS - Coletanea org. P.TIMM

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