As pesadas manifestações que levaram milhões de brasileiros às ruas,
dão uma trégua, embora sem terminar.
Os sindicalistas
devem se reunir amanhã, quarta, 26, para reivindicar maior investimento em saúde; educação; aumento
de salários; redução de jornadas de trabalho; apoio à reforma agrária; fim do
fator previdenciário e transporte público de qualidade.
E está marcada uma greve geral para o próximo dia 11 de
julho considerado o “Dia de Luta”.
Durante as manifestações de rua a massa revelou sua decepção
com os quadros políticos. Depois de ter
passado por muitos governos corruptos e usurpadores dos direitos do
trabalhador, as propostas do PT e Lula de uma política transparente
fundamentada na ética e na gestão limpa da administração pública,
encontraram eco no sentimento popular.
A eleição de Lula, em 2002, aconteceu sob a égide da
esperança e de tempos promissores, quando o seu ideário repudiava as “velhas
raposas” do enriquecimento ilícito e das cínicas práticas da corrupção, fosse
no assalto aos cofres públicos, fosse na compra de votos para levar vantagem na
troca de cargos privilegiados por apoio político. E havia esperança de que se estancasse a
idéia de flexibilização dos direitos dos trabalhadores sob a pressão da classe
empresarial brasileira e estrangeira que
atua no país.
Lula, que na oposição, condenava José Sarney e seu clã na
apoderação perniciosa do estado do Maranhão;
combatia Paulo Maluf por sua corrupção pública e notória; repudiava Fernando Henrique Cardoso pela
compra de votos dos congressista para aprovar sua reeleição. O PT teve a mais forte atuação pelo impedimento
de Fernando Collor. Paladinos da moral
e da Ética na política.
O povo se encontrava esgotado de todas as experiências anteriores. E não teve dúvida em despejar toda a sua
indignação como um desabafo na eleição de Lula.
Já que os letrados ignoravam os problemas do povo, era de se esperar que
um ex-metalúrgico, de origem humilde fosse sensível à situação de seus iguais.
Mas deu tudo ao
contrário. Os encantos do poder fizeram
o presidente operário e seu partido encamparem os mesmos métodos dos
representantes das elites, em todos os sentidos: corrupção, cooptação daqueles que condenava pela prática da troca
de cargos por apoio político. E assim
formou sua base aliada com a inclusão de todos aqueles que ele condenava quando
estava na oposição. Manteve o famigerado fator previdenciário de FHC e que põe
em queda o valor real das aposentadorias acima de um salário mínimo. Avançou nas privatizações tanto ou mais do
que Fernando Henrique. No escândalo do
mensalão viu envolvidos seus auxiliares diretos, como José Dirceu, embora
afirmando que “não sabia de nada”.
Agora aparece envolvido em processo de improbidade administrativa que
somente um jornal de Portugal noticiou, o Correio da Manhã: “O Ministério
Público Federal (MPF) de Brasília pediu à justiça o bloqueio dos bens do
ex-presidente Lula da Silva, a quem acusa de improbidade administrativa por ter
usado verba pública com claro intento de promoção pessoal.”
O jornal lusitano mostra o mais detalhes desta ação do MP: “O bloqueio de bens tem como finalidade
garantir a devolução aos cofres públicos de quatro milhões de euros que Lula,
segundo o MPF, usou indevidamente.
A acção
interposta pelo MPF refere-se ao gasto desses quatro milhões de euros com a
impressão e o envio pelo correio de mais de dez milhões de cartas enviadas pela
Segurança Social a reformados entre Outubro e Dezembro de 2004, segundo ano do
primeiro mandato de Lula”.
A imprensa brasileira mostra-se omissa e conivente com esses
fatos.
Contudo isto, Lula ainda elegeu Dilma sua sucessora. Seria a experiência com uma mulher na
presidência, com mais uma tentativa popular de tentar o diferente. E tudo se repetiu.
O povo que já trazia a marca de mergulhado no ópio, na
conformação de “pão e circo”, explodiu em uma indignação começada por um
protesto por aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus, e que se contagiou
rápido pelo país inteiro, como se fosse um estado de espírito movido pela
desesperança e pelo esgotamento de tentativas infrutíferas. As manifestações aconteceram em cidades de
porte médio para cima. Nas menores não
há liberdade para os cidadãos exporem o descontentamento, no exercício democrático
do uso da cidadania.
Nessas manifestações ocorreram excessos de minorias
infiltradas entre os que protestavam pacificamente. Essas minorias promoveram quebra-quebra, como
se fossem inimigos do movimento que agiam com o intuito de jogar a opinião pública
contra os atos legítimos de rebeldia. E alguns incidentes aconteceram por falta de preparo e habilidade
da polícia em lidar com as práticas democráticas do exercício de
descontentamento contra os governantes.
São cacoetes da Ditadura.
Esse povo que balançou o Brasil, depois de tantas decepções,
fez questão de repudiar a presença de qualquer partido político. Era uma luta contra estados, governantes e os
modelos convencionais de se chegar ao poder. A fala da presidente em rede
nacional de rádio e televisão não alterou o estado de ânimo da nação em
reboliço.
Agora estamos vivendo as sequelas de tudo aquilo que foi
expresso nas ruas. A presidente Dilma tenta uma saída revelando reconhecer a
legitimidade dos protestos. Propõe
reforma política. E até a instauração de uma Constituinte Exclusiva. Se a reforma e a constituinte forem
realizadas pelos mesmos atores em cena, nada mudará. Podem colocar nomes diferentes em
instituições políticas para virar letra morta.
O uso do cachimbo faz a boca torta.
Quem se habituou na lama, não saberá viver em água limpa.
A conivência da mídia convencional com tudo isto contribui
criminosamente para nada se transformar. E o povo que demonstrou ter acordado,
vai exigir uma revolução sem armas no modelo de construir partidos como
instrumento de se chegar ao poder. Já
sabe que o começo está no fim do financiamento privado de campanha, que coloca
os eleitos prisioneiros dos seus financiadores, e reféns do capitalismo
opressor da valorização do trabalho
A presidente pode arrefecer os ânimos ao conceder audiência
aos líderes sindicais e demais representantes da sociedade.
Mas corre o risco de prometer e não cumprir. O povo demonstrou a sua descrença nos canais
e instituições de poder. Se, mais uma
vez sentir que foi enganado, há o risco de as manifestações voltarem com maior
intensidade. Uma coisa é certa: esses partidos estão desacreditados. Não
representam ninguém. Os seus componentes
muito menos. Afinal, são eles que fazem
os partidos.
Há um grande complicador no momento: depois que o povo tomou
conhecimento de que temos os políticos mais caros do mundo, dificilmente vai
aceitar quaisquer alterações feitas pela casta privilegiada
(Franklin – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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