terça-feira, 25 de junho de 2013

Manifestações de rua diminuíram sem uma conclusão

            

         As pesadas manifestações  que levaram milhões de brasileiros às ruas, dão uma trégua, embora sem terminar.

Os sindicalistas devem se reunir amanhã, quarta, 26, para reivindicar maior investimento em saúde; educação; aumento de salários; redução de jornadas de trabalho; apoio à reforma agrária; fim do fator previdenciário e transporte público de qualidade.

         E está marcada uma greve geral para o próximo dia 11 de julho considerado o “Dia de Luta”.

         Durante as manifestações de rua a massa revelou sua decepção com os quadros políticos.  Depois de ter passado por muitos governos corruptos e usurpadores dos direitos do trabalhador, as propostas do PT e Lula de uma política  transparente  fundamentada na ética e na gestão limpa da administração pública, encontraram eco no sentimento popular. 

         A eleição de Lula, em 2002, aconteceu sob a égide da esperança e de tempos promissores, quando o seu ideário repudiava as “velhas raposas” do enriquecimento ilícito e das cínicas práticas da corrupção, fosse no assalto aos cofres públicos, fosse na compra de votos para levar vantagem na troca de cargos privilegiados por apoio político.  E havia esperança de que se estancasse a idéia de flexibilização dos direitos dos trabalhadores sob a pressão da classe empresarial brasileira e estrangeira que  atua no país.

         Lula, que na oposição, condenava José Sarney e seu clã na apoderação perniciosa do estado do Maranhão;  combatia Paulo Maluf por sua corrupção pública e notória;  repudiava Fernando Henrique Cardoso pela compra de votos dos congressista para aprovar sua reeleição.   O PT teve a mais forte atuação pelo impedimento de Fernando Collor.    Paladinos da moral e da Ética na política.

         O povo se encontrava esgotado de todas as experiências anteriores.  E não teve dúvida em despejar toda a sua indignação como um desabafo na eleição de Lula.  Já que os letrados ignoravam os problemas do povo, era de se esperar que um ex-metalúrgico, de origem humilde fosse sensível à situação de seus iguais.

         Mas deu tudo ao contrário.  Os encantos do poder fizeram o presidente operário e seu partido encamparem os mesmos métodos dos representantes das elites, em todos os sentidos: corrupção, cooptação  daqueles que condenava pela prática da troca de cargos por apoio político.  E assim formou sua base aliada com a inclusão de todos aqueles que ele condenava quando estava na oposição. Manteve o famigerado fator previdenciário de FHC e que põe em queda o valor real das aposentadorias acima de um salário mínimo.  Avançou nas privatizações tanto ou mais do que Fernando Henrique.  No escândalo do mensalão viu envolvidos seus auxiliares diretos, como José Dirceu, embora afirmando que “não sabia de nada”.   Agora aparece envolvido em processo de improbidade administrativa que somente um jornal de Portugal noticiou, o Correio da Manhã:  “O Ministério Público Federal (MPF) de Brasília pediu à justiça o bloqueio dos bens do ex-presidente Lula da Silva, a quem acusa de improbidade administrativa por ter usado verba pública com claro intento de promoção pessoal.       

O jornal lusitano mostra o mais detalhes desta ação do MP:  “O bloqueio de bens tem como finalidade garantir a devolução aos cofres públicos de quatro milhões de euros que Lula, segundo o MPF, usou indevidamente.
A acção interposta pelo MPF refere-se ao gasto desses quatro milhões de euros com a impressão e o envio pelo correio de mais de dez milhões de cartas enviadas pela Segurança Social a reformados entre Outubro e Dezembro de 2004, segundo ano do primeiro mandato de Lula”.

A imprensa brasileira mostra-se omissa e conivente com esses fatos. 

Contudo isto, Lula ainda elegeu Dilma sua sucessora.  Seria a experiência com uma mulher na presidência, com mais uma tentativa popular de tentar o diferente.   E tudo se repetiu. 

O povo que já trazia a marca de mergulhado no ópio, na conformação de “pão e circo”, explodiu em uma indignação começada por um protesto por aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus, e que se contagiou rápido pelo país inteiro, como se fosse um estado de espírito movido pela desesperança e pelo esgotamento de tentativas infrutíferas.  As manifestações aconteceram em cidades de porte médio para cima.  Nas menores não há liberdade para os cidadãos exporem o descontentamento, no exercício democrático do uso da cidadania.

Nessas manifestações ocorreram excessos de minorias infiltradas entre os que protestavam pacificamente.  Essas minorias promoveram quebra-quebra, como se fossem inimigos do movimento que agiam com o intuito de jogar a opinião pública contra os atos legítimos de rebeldia. E alguns incidentes  aconteceram por falta de preparo e habilidade da polícia em lidar com as práticas democráticas do exercício de descontentamento contra os governantes.  São cacoetes da Ditadura.

Esse povo que balançou o Brasil, depois de tantas decepções, fez questão de repudiar a presença de qualquer partido político.  Era uma luta contra estados, governantes e os modelos convencionais de se chegar ao poder. A fala da presidente em rede nacional de rádio e televisão não alterou o estado de ânimo da nação em reboliço.

Agora estamos vivendo as sequelas de tudo aquilo que foi expresso nas ruas. A presidente Dilma tenta uma saída revelando reconhecer a legitimidade dos protestos.  Propõe reforma política. E até a instauração de uma Constituinte Exclusiva.  Se a reforma e a constituinte forem realizadas pelos mesmos atores em cena, nada mudará.  Podem colocar nomes diferentes em instituições políticas para virar letra morta.  O uso do cachimbo faz a boca torta.  Quem se habituou na lama, não saberá viver em água limpa.

A conivência da mídia convencional com tudo isto contribui criminosamente para nada se transformar. E o povo que demonstrou ter acordado, vai exigir uma revolução sem armas no modelo de construir partidos como instrumento de se chegar ao poder.  Já sabe que o começo está no fim do financiamento privado de campanha, que coloca os eleitos prisioneiros dos seus financiadores, e reféns do capitalismo opressor da valorização do trabalho

A presidente pode arrefecer os ânimos ao conceder audiência aos líderes sindicais e demais representantes  da sociedade.  Mas corre o risco de prometer e não cumprir.  O povo demonstrou a sua descrença nos canais e instituições de poder.  Se, mais uma vez sentir que foi enganado, há o risco de as manifestações voltarem com maior intensidade.  Uma coisa é certa:  esses partidos estão desacreditados. Não representam ninguém.  Os seus componentes muito menos.  Afinal, são eles que fazem os partidos.

Há um grande complicador no momento: depois que o povo tomou conhecimento de que temos os políticos mais caros do mundo, dificilmente vai aceitar quaisquer alterações feitas pela casta privilegiada

(Franklin – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)







Nenhum comentário:

Postar um comentário