Apesar da violência policial, do
destaque dado pela mídia aos atos isolados de vandalismo, o povo livre está
indo às ruas em todo o Brasil. Os próprios manifestantes repudiam as
quebradeiras e querem mostrar sua indignação com palavras de ordem contra a
corrupção generalizada nos poderes, contra a impunidade, contra o desleixo com
o bem público por parte de quem tem o dever de zelar, de bem aproveitar, de bem
administrar.
O
povo nas ruas repudia pessoas condenadas por corrupção, nas orgias chamadas de
Mensalão, assumirem a função de legisladores, para inocentarem a eles mesmos em
manobra corporativista, que compromete todo o poder legislativo; repudia a
falta de investimento em saúde, educação, crescimento econômico, valorização do
trabalho e melhoria do mercado interno, para gastar nababescamente em luxuosos
estádios de futebol e toda a estrutura de ostentação para a Copa do Mundo e
demais eventos esportivos para somente agradar os milionários donos da FIFA,
que colhem os dividendos de suas rendas arrancadas do suor dos
brasileiros; repudia os altos
vencimentos e mordomias que os parlamentares concedem a eles mesmos e a seus apaniguados; repudia os baixos salários e vencimentos
impostos aos trabalhadores e aposentados;
repudia a maior carga tributária da América Latina; repudia as obras
públicas superfaturadas, resultantes de licitações fraudulentas; repudia as obras públicas deixadas ao
abandono, enquanto a população delas precisa;
repudia a falta de prestação das contas públicas e sua transparência
detalhada para conhecimento de todos; repudia as votações secretas nas casas
legislativas, desde o Congresso Nacional até as câmaras de vereadores; repudia
a privatização de eficientes empresas e serviços públicos .
O povo, até agora, sofria todos os
efeitos das más administrações, perdulárias nos gastos e insaciáveis na busca
de receita, com amargura fatalista, julgando que “política é assim mesmo”.
Acontece que o limite de tolerância
esgotou-se, quando se começou a perceber nos próprios municípios os desmandos e
desequilíbrio entre os sacrifícios impostos à população e os privilégios
vividos pelos administradores públicos. O contraste entre os 10% mais ricos e
os 90% restantes trouxe à tona o abuso de poder. Cada município revela-se como
miniatura do gigantesco desmando das instâncias estaduais e da federal.
As terceirizações de serviços públicos
nos municípios encarecem os encargos de cada cidadão, para atender à sede de
lucros das empresas privadas que exploram esses serviços. Isto desnuda a corrupção
das privatizações das estatais, construídas com dinheiro do povo, e entregues
ao capital particular para os fabulosos lucros dos favorecidos, financiadores
de campanhas eleitorais, e donos de fato dos mandatos eletivos.
O povo passa a ver o motivo de os
eleitos deixarem de lado os interesses e necessidades da população, e darem
prioridade à ganância dos mais ricos. Vê
também um deslavado nepotismo, com a administração pública a se transformar em
uma ação entre parentes, como se vivêssemos em regime monarquista, onde a
dinastia exercia o poder de geração em geração, como se fossem descendentes dos
deuses e tivessem direitos divinos, para permanecerem intocáveis nas suas castas,
com ostentação de luxo e riqueza oriundos do sacrifício, do trabalho e da
ignorância dos súditos.
As manifestações populares, do momento,
são autênticas. Partiram do próprio
povo. Não têm bandeira, nem
partidos.
As sujeiras da classe política foram
ficando debaixo do tapete até exalarem o mau cheiro da podridão, que se
espalhou pelos ares, sem controle e sem disfarces. O odor causou mal estar no organismo social,
que reagiu. Seguindo a direção do enjoo foi
fácil enxergar o corpo em decomposição:
a administração pública e seus elementos de formação.
Os protestos de ruas lotadas de gente
até há pouco indiferente transformam-se em meio de destruir a causa do incômodo,
que tem provocado tanto sacrifício, doença e morte. Estão botando para fora os
tumores, como forma de depuração do organismo. É um exorcismo daquele conjunto
de coisas e pessoas, cujo cinismo fazia transformar em banais todo procedimento
delituoso, errado, criminoso contra a economia, a justiça e a saúde popular.
Está circulando no Facebook a mensagem
que segue:
“Abaixo
Corrupção
Meus
caros conterrâneos, primeiramente gostaria de me desculpar pelo transtorno.
Venho informar a você, que a pedidos das autoridades riobranquenses a
manifestação terá que ser realizada AMANHÃ, QUINTA FEIRA. O ponto de encontro
será na antiga fábrica de ração (atual concentração do Bloco Jeguelétrico) a
partir das 16:30, e com previsão de marcha para Praça 28 de Setembro pela
Avenida São João Batista ás 17:30. Não haverá mudanças perante a isso, e será
divulgada nas rádios e em carros de som. Vamos juntos mostrar que o POVO é mais
forte que qualquer sistema, e partido!”
Neste caso, Visconde do Rio
Branco entra no rol das cidades que realizam o protesto. E, pelo proposto, as autoridades estão
cientes.
Costuma acontecer nesses movimentos
aparecerem pessoas com atos de vandalismo, muitas vezes como “paus mandados”
dos que são contra as manifestações populares.
Por outros informes, estamos sabendo que os organizadores previnem que
farão o ato em ordem, e que repudiam qualquer tipo de danos causados a
terceiros, inclusive ao patrimônio público.
A tática de se infiltrar em movimento
para tentar torná-lo condenável perante a opinião pública vem da Ditadura
Militar, que praticava atos terroristas para serem atribuídos aos adversários
do Regime, o que veio à tona com o “acidente de trabalho” dos membros do Exército
no Rio Centro, quando pretendiam explodir uma bomba durante a festa, e a mesma
estourou no colo de um dos soldados, matando os dois.
Os próprios participantes da passeata desta
quinta-feira deverão estar fiscalizando qualquer presença e ato suspeito.
Inimigos da democracia e das manifestações populares não faltam. Os privilegiados querem sempre o povo quieto e
acomodado no seu canto, indiferente aos desmandos dos governantes.
O país está vivendo dias de comoção
nacional. De mobilização popular como nunca houve em movimento de baixo para
cima, sem armas como Mahatma Gandhi, rompendo o silêncio dos bons, como queria
Martin Luther King. O povo resolveu
tirar a venda dos olhos, jogar longe a taça do ópio, e soltar o grito contido,
reprimido, engasgado durante todo esse tempo. Libertar-se dos resquícios do
colonialismo, da concentração de renda, da exploração de sua força de trabalho.
Em 2014 haverá eleições e Copa do
Mundo. Nada surpreenderá se o voto nulo
for o campeão dos sufrágios eleitorais; e se o público nos luxuosos estádios derem
mais importância ao protesto do que ao placar dos jogos.
(Franklin Netto –
viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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