quarta-feira, 26 de junho de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS)- - Drops Inf.Diário - junho 26 - Mensagem dos Clubes Militares



 Drops Inf.Diário - junho 26


Navegar é preciso, pero cuide que no naufrague tu vivir
Paulo Timm – Torres – junho 26 - copyleft
Há algumas décadas, no dia  26 de junho de 1955, na odiosa Africa do Sul do apartheid, me lembra a amiga Beatriz Bissio:


“  mais de três mil delegados, em representação de todas as correntes políticas sul-africanas que lutavam pelo fim do apartheid, sob a liderança do Congresso Nacional Africano (CNA) e de Nelson Mandela, adotavam uma espécie de Constituição – a Carta da Liberdade (Freedom Charter) – demandando “um governo do povo e para o povo”, "terra para todos os sem-terra", "salários dignos”, “educação gratuita para todos, independentemente de cor ou raça” e “a redução na jornada de trabalho".
As forças repressivas do apartheid dissolveram a assembleia popular e reprimiram violentamente os presentes, mas a Carta perdurou como referência de um projeto para um novo país. Mandela só escapou porque conseguiu um disfarce; continuou a luta e acabou sendo preso em 1962, ficando no cárcere de Robben Island até 1990, junto com muitos outros militantes anti-apartheid. O CNA conquistou o governo em 1994 e Mandela se tornou o primeiro presidente de uma África do Sul livre. A nova Constituição sul-africana incorporou em seu texto muitas das demandas da Carta da Liberdade.

Nas ruas do Brasil inteiro ressoa também, hoje, o grito pela Reforma Política e muitos já se dão conta de que esta Reforma pode desembocar numa mudança da Constituição.  Não se trata de um clamor abafado, como foi o da Carta da Liberdade, de Mandela, sob o Apartheid. Os tempos são outros. O Brasil também é outro desde 1985. Nem tem o grito das ruas a clareza do que deva ser nossa  Vida Pública. Mas todos se preocupam com o desdobramento das ruas.
 A Presidente acelerou o passo, temendo o pior, e sinalizou em seu Pronunciamento do dia 24 passado (junho 2013) a possibilidade de uma Constituinte Específica para tratar do tema. Afinal, tanto o Presidente Lula já vinha falando neste sentido, como , outrora até o PSDB e Imprensa o admitiam como necessário. Mas, agora, as vozes se levantam em quase uníssono contra ela, deixando a Presidente  isolada. Abundam, contra a Constituinte da Reforma Política argumentos técnico-jurídicos, políticos e até “oportunísticos”. Estes, ligados aos interesses dos atuais detentores de mandato. São os mais radicais contra a proposta, em flagrante advocacia em causa própria. Os juristas, entretanto, apontam dificuldades para conter uma Constituinte dentro de limites pré-fixados, os quais, inclusive, não são claros. Aberta a caixinha de surpresas, o Poder Originário desta Constituinte poderia vir a atropelar a atual Constituição e se converter numa venenosa serpente contra seus avanços. Quem garante que isso não ocorreria ¿ E há, finalmente, argumentos propriamente Políticos: Não estamos diante de uma ruptura institucional e , sobretudo, devemos evitá-lo. Luiz Carlos Azenha sintetiza essas preocupações

Muitos jovens que estão nas ruas não conheceram crise econômica e nem, obviamente, a ditadura militar. Isso dá a eles uma enorme liberdade para sonhar e levar adiante a utopia. Uma coisa já conseguiram: deixar Brasília esperta quanto aos eternos conchavos de bastidores que sempre nos governaram. Como escrevi anteriormente, é a queda do nosso muro de Berlim, da separação entre casa e rua de que nos falou o antropólogo. Façamos de casa a rua e vice-versa. Porém, é bom alertar sobre a lei das consequências inesperadas. Um turbilhão desorganizado e desinformado pode muito bem aprofundar a crise da qual se pretende sair: se a economia brasileira afundar, por exemplo, o Estado terá menos recursos para bancar os hospitais, as creches e as escolas padrão FIFA de que tantos falam. Destruir a política que temos, da noite para o dia, pode levar a soluções autoritárias que suprimam a conquista do espaço público.

A  advertência faz sentido. Forças anti-democráticas, no Brasil, muitas delas ainda ligadas ao período militar, continuam em plena atividade e , se tiverem oportunidade, entrarão em cena com os piores propósitos. Ressalte-se que não conseguimos , depois de 30 anos de redemocratização criminalizar torturadores, como fez a Argentina, nem logramos democratizar a formação de quadros nas Forças de Segurança, sobretudo federais. Eles continuam pensando igualzinho a seus comandantes de ontem: celebram o 31 de Março como Revolução, questionam a Comissão da Verdade e detonam o Governo e a Esquerda em incessante campanha pelas redes sociais. Um atestado deste recalcitrante comportamento é o Manifesto  dos Clubes Militares datado do último dia 20 e  que ,mesmo sem fazer paralelos com o passado, afirma “ ficaremos sempre atentos”  :
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Reprodução da carta divulgada pela 
Comissão Interclubes Militares


Tudo indica, portanto, que a razão primeira da insatisfação popular, que é a falta de credibilidade nas instituições políticas, não será enfrentada com determinação. Ficaremos diante de uma discussão insossa para decidir se faremos um Referendo ou Plebiscito, e se isto deverá ocorrer antes ou depois de alguma proposta concreta. Enquanto isso, as manifestações se alastram. O Governo tenta reagir mas demonstra vacilação na resposta, fruto, talvez do inchaço  da imensa Base Aliada que criou em sua defesa e que, nestas horas, de pouco serve. Serve mesmo para expor o Governo à execração pelo fato de ostentar 39 Ministérios e mais de vinte mil cargos em Comissão só em Brasília.  Pior, emergem fissuras cada vez maiores no seio das forças de esquerda no país, evidenciando a fragilidade do PT em construir, a partir dela, uma hegemonia sobre o conjunto da sociedade. Mesmo figuras históricas do PT, como Olívio Dutra, acusa, em entrevista recente ( 23-01-2013) a Daniel Cassol , visível mal estar:

“ Estamos devendo muito, ao povo brasileiro. Não mexemos na estrutura deste Estado, que continua sendo uma cidadela dos grandes interesses econômicos e culturais


João Pedro Stedile, um dos quadros mais lúcidos e combativos dos Movimentos Sociais contemporâneos no Brasil, Líder do MST,  analisa também as Manifestações e dá seu veredito:

Há muitas avaliações de porque estão ocorrendo estas manifestações. Me somo à analise da professora Erminia Maricato, que é nossa maior especialista em temas urbanos e já atuou no Ministério das cidades na gestão Olivio Dutra. Ela defende a tese de que há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras provocadas por essa etapa do capitalismo financeiro. Houve uma enorme especulação imobiliária que elevou os preços dos alugueis e do terrenos em 150% nos últimos três anos. O capital financiou sem nenhum controle governamental, a venda de automóveis, para enviar dinheiro pro exterior e transformou nosso transito um caos. E nos últimos dez anos não houve investimento em transporte publico. O programa habitacional “Minha casa, minha vida” empurrou os pobres para as periferias, sem condições de infra-estrutura. Tudo isso gerou uma crise estrutural em que as pessoas estão vivendo num inferno, nas grandes cidades, perdendo, três quatro horas por dia no transito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais. Somado a isso, a péssima qualidade dos serviços públicos em especial na saúde e mesmo na educação, desde a escola fundamental, ensino médio, em que os estudantes saem sem saber fazer uma redação. E o ensino superior virou loja de vendas de diplomas a prestações, onde estão 70% dos estudantes universitários.
(...)
A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil. Mas o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. E portanto gerou na juventude uma ojeriza à forma dos partidos atuarem. E eles têm razão. A juventude não é apolítica, ao contrario, tanto é que levou a política para as ruas, mesmo sem ter consciência do seu significado.
(...)
Espero que o governo tenha a sensibilidade e a inteligência de aproveitar esse apoio, esse clamor que vem das ruas, que é apenas uma síntese de uma consciência difusa na sociedade, que é hora de mudar.
(...)
Tudo ainda é uma incógnita. Porque os jovens e as massas estão em disputa. Por isso que as forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas suas energias, para ir para a rua. Manifestar-se, colocar as bandeiras de luta de reformas que interessam ao povo. Porque a direita vai fazer a mesma coisa e colocar as suas bandeiras, conservadoras, atrasadas, de criminalização e estigmatização das idéias de mudanças sociais. Estamos em plena batalha ideológica, que ninguém sabe ainda qual será o resultado. Em cada cidade, cada manifestação, precisamos disputar corações e mentes. E quem ficar de fora, ficará de fora da história.

 Resta, aos torcedores do Governo, porque assim se comportam seus membros e defensores, a defensiva de evocar incansavelmente 1964 , no Brasil, e 1973, no Chile. Esquecem que, tanto as circunstâncias históricas eram completamente distintas como, nestes dois casos, a esquerda caiu em pé, com elevada moral e unida. O caso brasileiro atual fica cada vez mais parecido, sim, com o ocaso da Repúbica de Weimar (1919-1933) na Alemanhã, que acabou entregando o Poder para Hitler. Mas isso está muito longe da memória dos governistas.do Governo.Eles estão convencidos de que são “ A “ esquerda brasileira e refutam toda a tentativa de colaboração crítica  como associada ao pessimismo do Velho do Restelo. Tomara que sobrevivamos, todos,  ao desafio e que ainda possamos nos re-unir num futuro próximo.





                                            
                                            



COMISSÃO  INTERCLUBES  MILITARES




Mensagem dos Clubes Militares



Rio de Janeiro, 20 de junho de 2013.



A leitura que os Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica fazem das recentes manifestações populares é que elas expressam, majoritariamente, o grito daqueles que estão indignados com o descaso e, às vezes, com a conivência das autoridades governamentais, no que diz respeito às legítimas aspirações da sociedade, ressalvado o perigoso aproveitamento por segmentos radicais que buscam interesses inconfessáveis.
Quando o povo se convence de que antigos vícios e omissões se repetem, impunemente, percebe que é chegada a hora de se manifestar clamorosamente. Não mais aceita ser conduzido, resignadamente, como grupo ingênuo. Obriga-se a dar um basta à impostura e à impunidade.
Estaremos sempre atentos e acompanharemos a evolução dos fatos.
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.








V Alte Paulo Frederico Soriano Dobbin    Gen Ex Renato César Tibau da Costa       Ten Brig Ivan Moacyr da Frota
        Presidente do Clube Naval                         Presidente do Clube Militar                  Presidente do Clube de Aeronáutica

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