sexta-feira, 21 de junho de 2013

Nove anos sem Brizola em momento de agitação nacional

      


       Enquanto a massa popular, com predominância da juventude, sacode o Brasil, completam-se nove anos da morte de um dos últimos estadistas que o país teve.

         Leonel Brizola, desde a prefeitura de Porto Alegre até o governo do Rio de Janeiro, deu à Educação a prioridade que todo governante deveria dar. Construiu escolas em todos os seus mandatos executivos como prefeito,  como governador do seu estado, o Rio Grande do Sul, e duas vezes o Rio de Janeiro, onde deixou a marca de uma tentativa avançada de escolas de tempo integral, os CIEPs.  Os Centros Integrados de Educação Pública  foram construídos para oferecer instrução, alimentação e lazer durante o dia todo, como método de melhorar a qualidade do ensino e manter os estudantes fora do ambiente de promiscuidade das ruas. 

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Nave de Kika 


 

        Hoje vemos a juventude se manifestar em todas as cidades de maior relevância, por causa de suas frustrações e as de seus pais que ficaram praticamente sem escolas que melhorassem o preparo para a vida.

 

        Brizola afirmava e acreditava que uma criança que passa o dia em uma escola, aprende a manejar o lápis e a caneta, ao invés de um gatilho de revólver.  Ele se referia aos menores abandonados, alguns órfãos de pais vivos, que perambulam pelas ruas e são seduzidos pelos elementos do crime organizado para praticarem assaltos, vender e distribuir drogas, e ganharem status de poder e serem temidos pela população. A impunidade do menor perante a Lei faz dele um inocente útil para os seus exploradores.  Ele era convencido de que, com esse tipo de ensino, os índices de criminalidade seriam drasticamente reduzidos. 

 

        Nós estamos vendo nas manifestações populares que, no meio da massa que luta por reivindicações justas, aparecem os provocadores de quebradeira em pequena minoria, que agem por conta própria para jogar a opinião pública contra os manifestantes.  Essa minoria, se tivesse passado por boas escolas, certamente estaria entre os que exercem seu direito democrático pacificamente.

Viçosa. Imagem: Ricardo Lopes

 

        Na pauta das reivindicações há destaque para a exigência de mais e melhores escolas.  Os próprios estudantes sabem que passam por algumas instituições de ensino e saem despreparados diante das exigências da vida. Comparam a gastança distorcida com obras faraônicas, como os estádios de futebol, e deixam em situação precária o sistema de saúde e o da educação, muito prejudiciais aos que não podem pagar consultas médicas e escolas particulares. 

 

        Vê-se que Brizola tinha razão ao entender que tudo depende da educação. Teve em Darcy Ribeiro seu Secretário da respectiva pasta, um humanista afinado com as preocupações sociais de Leonel Brizola.  Essas preocupações formavam um arco completo de defesa da soberania nacional, para evitar que as riquezas do país fossem exploradas e levadas para fora, ao invés de serem empregadas no bem da população brasileira.  Lutou pela defesa das instituições, como para a posse do Vice-Presidente João Goulart, após a renúncia do ex-presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961.  Os militares quiseram impedir Jango de tomar posse como presidente.  Foi quando Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, requisitou a Rádio Guaíba de Porto Alegre.  E dos porões do Palácio Piratini formou a Cadeia da Legalidade, conclamando o povo a resistir ao golpe.  E o Governador de Goiás, Mauro Borges, aderiu à resistência, instalando os estúdios da Rádio Brasil Central, da capital do estado, Goiânia,  na sede do governo, o Palácio das Esmeraldas.

 

        Os governadores aliados estavam preparados para distribuir armas à população a fim da resistência à tentativa de golpe. O então General Machado Lopes, comandante do III Exército, contrariando ordens superiores, comunicou ao governador gaúcho que a sua unidade militar se aliava ao movimento legalista, diante de ameaças dos golpistas de bombardear o Palácio Piratini, e vôos rasantes sobre o Palácio das Esmeraldas. Essas emissoras, em ondas curtas, alcançavam o Brasil inteiro, e outras se juntaram às transmissões. A resistência é lembrada também como Rede da Legalidade.

 

        Negociações políticas, intermediadas por Tancredo Neves, levaram os militares a aceitarem a posse do Vice, em sete de setembro de 1961, sob regime parlamentarista, que foi derrubado por um plebiscito em 06 de janeiro de 1963, quando o NÃO (ao Parlamentarismo) afastou o fantasma do SIM(ao Parlamentarismo) com 10 milhões de votos a 2 milhões.



 

        As manifestações de agora fazem lembrar aquele período turbulento desde a renúncia de Jânio Quadros até a derrubada de Jango (01 de abril de 1964). 


 

        Durante esse tempo, em plena Guerra Fria, as forças conservadoras, donas de uma imprensa aliada aos Estados Unidos, mantiveram combate feroz contra o Presidente.

 

        Terminado o governo no Rio Grande do Sul, Brizola muda-se para o então Estado da Guanabara (cidade do Rio de Janeiro).  Elege-se deputado federal, com 1/3 dos votos. Compra a Rádio Mayrink Veiga.  E por suas ondas prega a formação do Grupo dos Onze Companheiros, como forma de preparação de resistência contra o golpe que continuava em marcha.

 

        Os Estados Unidos criaram um ressentimento contra Brizola, desde quando ele encampara as empresas estadunidenses no seu estado  ITT e Bond and Share.  Assim, o Império do Norte alimentava organizações contra do governo do seu cunhado (Jango, irmão de Neusa Brizola) e contra a sua figura política.

 

        Os governantes que agora desprezam os interesses nacionais e as necessidades do povo, realizam escandalosas privatizações desde o tempo de Fernando Henrique Cardoso(Vale do Rio Doce), passando por Lula e chegando a Dilma(petróleo, pré-sal e tantos outros). Reduzem direitos trabalhistas da ativa e de aposentados, com o famigerado Fator Previdenciário, as desonerações nas folhas de pagamento, a flexibilização na CLT.  

 

          Empresas estatais brasileiras eficientes produzem resultados que poderiam ser investidos na educação, saúde e demais bens a favor do nosso povo. Mas ficam nas mãos dos grupos privados de fora, como uma das características denunciadas por Leonel Brizola sob a expressão de “perdas internacionais”.  O País produz. O dinheiro sai. Ficamos entre os piores do mundo em Educação e distribuição de renda, embora sejamos Penta Campões em futebol.

 

        A juventude percebe consciente ou inconscientemente a falta do que seus pais passaram e que pode se repetir com ela.  Não há perspectivas de melhora. Os altos ganhos da classe política e o miserável subsalário de quem trabalha ou é aposentado deixam transparecer a violenta concentração de renda.  Os privilegiados formam uma casta composta pelos detentores de mandatos e pelos seus financiadores de campanha (10% mais ricos).  Os 90% da população têm que manter os privilégios dessa minoria, arcando os impostos mais altos da América Latina.  O alto grau de corrupção, escancarada em vários estilos inclui alianças partidárias sem qualquer afinidade ideológica, para fazer maioria parlamentar que garanta aprovação de tudo o que o executivo quiser, tira a credibilidade da classe política, na esfera federal, nas estaduais e nas municipais.  Cada apoio custa a troca por ministérios, pastas e secretarias.  Por isto, nas passeatas estão repudiando qualquer bandeira de partido.  Como as exceções são raras, elas desaparecem na poeira dessa poluição de valores.

 

        Nunca houve no Brasil manifestações como estas, sem lideranças definidas, porque os políticos de caráter, com porte de estadistas estão se extinguindo.  O resultado está aí.  Enquanto Brizola viveu, o partido por ele criado, o PDT, era um dos poucos que tinham imagem respeitável. Com o sepultamento do seu corpo, sepultaram-se também os seus ideais, a ideologia, o exemplo e a figura do estadista.  O PDT se alia ao PT, ao PSDB, ao PMDB e a qualquer um que tenha cargo a oferecer.  A propósito, o deputado Paulo Ramos disse que o PDT se transformou em uma sigla de aluguel, um balcão de negócios....

 

        Sem alguém que enfrente a Rede Globo, os grupos econômicos internacionais, as classes conservadoras, a Direita procura tirar proveito das manifestações populares. De maneira simulada, tenta induzir a população a repudiar a violência dos pequenos grupos que promovem quebra-quebra, com apelo às forças armadas. Já há palavra de ordem com “Ditadura-Já”.

 

        Alguns senadores, como Cristovam Buarque,  compreenderam que o povo está descrente de partidos e das instituições.  O repúdio dos manifestantes aos que se identificaram com alguns partidos confirma isto. Cristovam prega o fim desses partidos e seu formato.  Fala em convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva.  Argumenta que somente assim poderá ser atendida a vontade popular que, no fundo, exige uma revolução.           

 

 

Nesses nove anos o Brasil perdeu Leonel Brizola e Jefferson Perez. Antes já havia perdido Darcy Ribeiro. Outros desse quilate foram levados com o tempo.   Ficou o vazio.  Não surgiram novatos que o preenchessem.

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        O povo, em manifestação, quer, embora muitos não saibam, aquilo que Brizola defendia.  O povo precisa de figuras públicas como foram Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Jefferson Perez, Alberto Pasqualini, Rui Barbosa e tantos outros que no passado enobreciam o exercício da política.

 

 

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

 

       

        

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