Enquanto a
massa popular, com predominância da juventude, sacode o Brasil, completam-se
nove anos da morte de um dos últimos estadistas que o país teve.
Leonel
Brizola, desde a prefeitura de Porto Alegre até o governo do Rio de Janeiro,
deu à Educação a prioridade que todo governante deveria dar. Construiu escolas em
todos os seus mandatos executivos como prefeito, como governador do seu estado, o Rio Grande do
Sul, e duas vezes o Rio de Janeiro, onde deixou a marca de uma tentativa
avançada de escolas de tempo integral, os CIEPs. Os Centros Integrados de Educação Pública foram construídos para
oferecer instrução, alimentação e lazer durante o dia todo, como método de
melhorar a qualidade do ensino e manter os estudantes fora do ambiente de
promiscuidade das ruas.
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Hoje vemos a juventude se manifestar em
todas as cidades de maior relevância, por causa de suas frustrações e as de
seus pais que ficaram praticamente sem escolas que melhorassem o preparo para a
vida.
Brizola afirmava e acreditava que uma
criança que passa o dia em uma escola, aprende a manejar o lápis e a caneta, ao
invés de um gatilho de revólver. Ele se
referia aos menores abandonados, alguns órfãos de pais vivos, que perambulam
pelas ruas e são seduzidos pelos elementos do crime organizado para praticarem
assaltos, vender e distribuir drogas, e ganharem status de poder e serem
temidos pela população. A impunidade do menor perante a Lei faz dele um
inocente útil para os seus exploradores.
Ele era convencido de que, com esse tipo de ensino, os índices de
criminalidade seriam drasticamente reduzidos.
Nós estamos vendo nas manifestações
populares que, no meio da massa que luta por reivindicações justas, aparecem os
provocadores de quebradeira em pequena minoria, que agem por conta própria para
jogar a opinião pública contra os manifestantes. Essa minoria, se tivesse passado por boas
escolas, certamente estaria entre os que exercem seu direito democrático
pacificamente.
Viçosa. Imagem: Ricardo Lopes
Na pauta das reivindicações há destaque
para a exigência de mais e melhores escolas.
Os próprios estudantes sabem que passam por algumas instituições de
ensino e saem despreparados diante das exigências da vida. Comparam a gastança
distorcida com obras faraônicas, como os estádios de futebol, e deixam em
situação precária o sistema de saúde e o da educação, muito prejudiciais aos
que não podem pagar consultas médicas e escolas particulares.
Vê-se que Brizola tinha razão ao
entender que tudo depende da educação. Teve em Darcy Ribeiro seu Secretário da
respectiva pasta, um humanista afinado com as preocupações sociais de Leonel
Brizola. Essas preocupações formavam um
arco completo de defesa da soberania nacional, para evitar que as riquezas do
país fossem exploradas e levadas para fora, ao invés de serem empregadas no bem
da população brasileira. Lutou pela
defesa das instituições, como para a posse do Vice-Presidente João Goulart,
após a renúncia do ex-presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961. Os militares quiseram impedir Jango de tomar
posse como presidente. Foi quando
Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, requisitou a Rádio Guaíba de
Porto Alegre. E dos porões do Palácio
Piratini formou a Cadeia da Legalidade, conclamando o povo a resistir ao
golpe. E o Governador de Goiás, Mauro
Borges, aderiu à resistência, instalando os estúdios da Rádio Brasil Central, da
capital do estado, Goiânia, na sede do governo, o Palácio das Esmeraldas.
Os governadores aliados estavam
preparados para distribuir armas à população a fim da resistência à tentativa
de golpe. O então General Machado Lopes, comandante do III Exército, contrariando
ordens superiores, comunicou ao governador gaúcho que a sua unidade militar se
aliava ao movimento legalista, diante de ameaças dos golpistas de bombardear o
Palácio Piratini, e vôos rasantes sobre o Palácio das Esmeraldas. Essas
emissoras, em ondas curtas, alcançavam o Brasil inteiro, e outras se juntaram
às transmissões. A resistência é lembrada também como Rede da Legalidade.
Negociações políticas, intermediadas por
Tancredo Neves, levaram os militares a aceitarem a posse do Vice, em sete de
setembro de 1961, sob regime parlamentarista, que foi derrubado por um
plebiscito em 06 de janeiro de 1963, quando o NÃO (ao Parlamentarismo) afastou
o fantasma do SIM(ao Parlamentarismo) com 10 milhões de votos a 2 milhões.
As manifestações de agora fazem lembrar
aquele período turbulento desde a renúncia de Jânio Quadros até a derrubada de
Jango (01 de abril de 1964).
Durante esse tempo, em plena Guerra
Fria, as forças conservadoras, donas de uma imprensa aliada aos Estados Unidos,
mantiveram combate feroz contra o Presidente.
Terminado o governo no Rio Grande do
Sul, Brizola muda-se para o então Estado da Guanabara (cidade do Rio de
Janeiro). Elege-se deputado federal, com
1/3 dos votos. Compra a Rádio Mayrink Veiga.
E por suas ondas prega a formação do Grupo dos Onze Companheiros, como
forma de preparação de resistência contra o golpe que continuava em marcha.
Os Estados Unidos criaram um
ressentimento contra Brizola, desde quando ele encampara as empresas
estadunidenses no seu estado ITT e Bond and Share. Assim, o Império do Norte alimentava
organizações contra do governo do seu cunhado (Jango, irmão de Neusa Brizola) e
contra a sua figura política.
Os governantes
que agora desprezam os interesses nacionais e as necessidades do povo, realizam
escandalosas privatizações desde o tempo de Fernando Henrique Cardoso(Vale do
Rio Doce), passando por Lula e chegando a Dilma(petróleo, pré-sal e tantos outros).
Reduzem direitos trabalhistas da ativa e de aposentados, com o famigerado Fator
Previdenciário, as desonerações nas folhas de pagamento, a flexibilização na
CLT.
Empresas
estatais brasileiras eficientes produzem resultados que poderiam ser investidos
na educação, saúde e demais bens a favor do nosso povo. Mas ficam nas mãos dos
grupos privados de fora, como uma das características denunciadas por Leonel
Brizola sob a expressão de “perdas internacionais”. O País produz. O dinheiro sai. Ficamos entre
os piores do mundo em Educação e distribuição de renda, embora sejamos Penta
Campões em futebol.
A juventude
percebe consciente ou inconscientemente a falta do que seus pais passaram e que
pode se repetir com ela. Não há perspectivas
de melhora. Os altos ganhos da classe política e o miserável subsalário de quem
trabalha ou é aposentado deixam transparecer a violenta concentração de
renda. Os privilegiados formam uma casta
composta pelos detentores de mandatos e pelos seus financiadores de campanha (10%
mais ricos). Os 90% da população têm que
manter os privilégios dessa minoria, arcando os impostos mais altos da América
Latina. O alto grau de corrupção,
escancarada em vários estilos inclui alianças partidárias sem qualquer afinidade
ideológica, para fazer maioria parlamentar que garanta aprovação de tudo o que
o executivo quiser, tira a credibilidade da classe política, na esfera federal,
nas estaduais e nas municipais. Cada
apoio custa a troca por ministérios, pastas e secretarias. Por isto, nas passeatas estão repudiando
qualquer bandeira de partido. Como as
exceções são raras, elas desaparecem na poeira dessa poluição de valores.
Nunca houve no
Brasil manifestações como estas, sem lideranças definidas, porque os políticos
de caráter, com porte de estadistas estão se extinguindo. O resultado está aí. Enquanto Brizola viveu, o partido por ele
criado, o PDT, era um dos poucos que tinham imagem respeitável. Com o
sepultamento do seu corpo, sepultaram-se também os seus ideais, a ideologia, o
exemplo e a figura do estadista. O PDT
se alia ao PT, ao PSDB, ao PMDB e a qualquer um que tenha cargo a oferecer. A propósito, o deputado Paulo Ramos disse que
o PDT se transformou em uma sigla de aluguel, um balcão de negócios....
Sem alguém que
enfrente a Rede Globo, os grupos econômicos internacionais, as classes
conservadoras, a Direita procura tirar proveito das manifestações populares. De
maneira simulada, tenta induzir a população a repudiar a violência dos pequenos
grupos que promovem quebra-quebra, com apelo às forças armadas. Já há palavra
de ordem com “Ditadura-Já”.
Alguns senadores,
como Cristovam Buarque, compreenderam
que o povo está descrente de partidos e das instituições. O repúdio dos manifestantes aos que se
identificaram com alguns partidos confirma isto. Cristovam prega o fim desses
partidos e seu formato. Fala em
convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva. Argumenta que somente assim poderá ser
atendida a vontade popular que, no fundo, exige uma revolução.
Nesses nove anos o Brasil perdeu Leonel Brizola e Jefferson
Perez. Antes já havia perdido Darcy Ribeiro. Outros desse quilate foram levados
com o tempo. Ficou o vazio. Não surgiram novatos que o preenchessem.
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