terça-feira, 18 de junho de 2013

Copa do Mundo é o despertador que acorda o Brasil

     


         Logo o futebol, a paixão do povo brasileiro, fez a massa acordar do ópio que a impedia de ver a realidade do País. Os contrastes entre as despesas com os suntuosos estádios e a penúria dos hospitais, das escolas, dos salários de trabalhadores e aposentados.  Tudo conseqüência do abuso da classe política no estabelecimento dos seus próprios vencimentos infinitamente distantes da renda mensal dos que produzem a renda nacional.
Estádio do Maracanã. Imagem: 222Not1


         O abuso vai desde os municípios até as instâncias mais elevadas da federação. Nossas câmaras municipais e nossas prefeituras do interior ou das capitais mantêm suas movimentações financeiras como verdadeiras caixas pretas, em tempo de muita retórica sobre transparência. Ninguém sabe o valor das folhas de pagamento dessas instituições públicas, e qual o ganho de cada integrante dessas folhas.  Só se sabe que os funcionários burocráticos, contratados ou concursados ganham pouco. Mas os titulares dos cargos eletivos e os detentores de cargos de confiança, assessores diretos, secretários de qualquer pasta têm vencimentos e vantagens  incompatíveis com a utilidade de suas funções, e com a capacidade financeira da população para arcar com os elevados impostos destinados à manutenção dessas injustiças.

         O povo está nas ruas, em todo o Brasil, não por R$ 0,20 de passagem de ônibus. Isto foi a gota d’água. Há muita coisa de cima para baixo e de baixo para cima que vem angustiando a cada um durante muito tempo. O Congresso Nacional concedeu direitos justos aos empregados e às empregadas domésticas, enquanto os poderes legislativos e os executivos colocam contra a parede os que necessitam de seus serviços. Muita gente trabalha fora e recebe menos de dois salários mínimos.  Como poderá pagar o mínimo de carteira com os ônus patronais para quem precisa zelar pela sua casa e filhos na sua ausência que causa uma despesa superior ao ganho do “patrão”?
Viçosa. Imagem: Ricardo Lopes


         Os membros da classe política são indiferentes aos problemas da população, porque eles estabelecem seus próprios vencimentos e vantagens sem limites, muito distantes da renda per capita média. E estendem os privilégios para os financiadores de suas campanhas, todos pertencentes ao grupo dos 10% mais ricos da nação.
Desconsideram que todas as pessoas ativas um dia chegam à velhice e perderão suas condições físicas de cuidarem dos afazeres diários, quando passam a depender de algum ou alguma auxiliar.  Diante disto, os membros dos poderes do estado criam mecanismos legislativos que rebaixam os rendimentos dos idosos, exatamente na fase em que aumentam suas despesas com locomoção, tratamento médico e os cuidados especiais da idade.

O Estado perdulário esbanja com as luxuosas construções e reformas de estádios de futebol, com doações de verbas para empresas de transporte, com concessões lesivas a entidades privadas para administrar estradas de rodagem (pedágios), com terceirização de mão beijada de bens públicos construídos com recursos do Tesouro. Tudo à custa dos impostos cobrados do contribuinte: trabalhadores mal remunerados; pequenas e médias empresas que lutam para sobreviver com as próprias despesas, o fraco mercado interno e a insaciabilidade do Fisco.  O exemplo mais recente dessa bandalheira é a caríssima reforma do Estádio do Maracanã, paga com o dinheiro do povo, e, na hora de colher os frutos,  entregue à exploração privada do mega milionário Eike Batista, o privilegiado “amigo do Rei”, ou da “Rainha”.

O Tesouro Nacional, como os estaduais e municipais, tem sempre seus beneficiários. E o povo paga tudo.  Professores ganham mal, as escolas vivem sucateadas, como os hospitais e todos os serviços públicos destinados à população de baixa renda.  As moradias populares, apresentadas com muito alarde e forte ingrediente de demagogia, são construídas em série, com baixo custo, de espaços exíguos para abrigar móveis e moradores, totalmente padronizadas, o que tira do necessitado morador a condição de ter sua imagem refletida no gosto próprio da construção.  São tão semelhantes na formação do “conjunto habitacional” que, se um morador passar algum tempo fora, a trabalho ou a passeio, e chegar tonto de sono, de cansaço ou de bebida, está sujeito a entrar na casa do vizinho, por esquecer qual é a sua. 

Já foi dito e não custa repetir: nossos homens públicos, através de suas equipes econômicas e seus administradores sociais socializam a pobreza, e capitalizam a riqueza.  Os 10% mais ricos acumulam lucros e têm cada vez maior participação na apropriação do PIB – Produto Interno Bruto (Soma de todas as riquezas produzidas no país, nos estados e nos municípios).  Investem, especulam e concentram.  Enquanto os demais dividem com certo grau de igualdade os problemas de carência e luta para sobreviver. 

 Os grandes, usando do dinheiro público, criam escolas de especialização de mão de obra, com muita pompa e com pose de benfeitores.  Criam frentes de trabalho, como grandes empreendedores, para alcançarem produtividade e lucratividade.  Insinuam “melhores salários”.  Na verdade, quando muito, os trabalhadores “especializados” recebem um e meio a dois desse subsalário de R$ 678,00, equivalente a menos da quarta parte do salário de Lei, necessário à sobrevivência de uma família.

O povo vem passando por tudo isto, às vezes angustiado, às vezes “aliviado” diante da tela de televisão, ou nas arquibancadas de um estádio de futebol. 

O advento das Copas serviu para este povo cair na realidade.  O rotineiro surto de Dengue, com os hospitais lotados, algumas pessoas morrendo por falta de atendimento em situações diversas, o custo de vida baixando cada vez mais o valor real dos salários, o sufoco e, de repente, para ver o jogo no final do Torneio da Copa das Confederações, se quiser, o trabalhador terá que pagar R$ 418,00, mais da metade (62%) do salário!   Que isto? É só coisa para “gringo”!

As passagens de ônibus, que vêm se acumulando há anos com aumentos acima da inflação justificariam um movimento de protesto.  Como são centavos do individual para os donos dos milhões, controladores do coletivo (duplo sentido), ninguém percebia ou dava importância.  Virou ingrediente de explosão da panela de pressão com a válvula entupida. O nó estava na garganta, como a bucha de um estoque que faltava ser pressionada.  O grito de revolta ecoou no País inteiro.  Felizmente sem nenhuma bandeira ideológica ou partidária, e sem o incentivo da mídia, que mais tem feito destacar os excessos de uns poucos manifestantes, do que a violência da polícia, maior causadora de vítimas. Tudo isto é a verdadeira causa da sacudida que balança as estruturas da classe política e – quem sabe? – do próprio sistema.

Todos os personagens dessa Ópera Bufa, ou dessa tragicomédia, deverão pôr as barbas de molho.  O povo está cansado de vê-los falar em “reforma política” depois de cada eleição.  Em vez de reforma, vem sempre uma deformação de ética, de valores, de justiça: criminosos legislando, impostos aumentando, fraudes acontecendo.

A realidade paralela aos contrastes da vida do povo e as gastanças com as copas, veio à tona há poucos dias, com a revelação de que os brasileiros pagam os maiores impostos da América Latina para manter os políticos mais caros e mais inúteis do mundo.  Há motivo de sobra para as manifestações que trouxeram o povo às ruas.
Imagem: Alessandra Costa Gamero, por Margareth Ignacchitti


(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)



Pesquisa: 
ingressos que custarão entre R$ 28,5 (para jogos  da primeira fase) e R$ 418 (para a final do torneio) e serão divididos em seis categorias. Todas as vendas de ingressos  serão feitas via internet pelo site da Fifa. Brasil  , Espanha , Uruguai , Itália , Japão  , Taiti e México são as seleções confirmadas...% sobre o valor dos ingressos da categoria 4. Quantoaos ingressos das categorias 1 a 3, apenas idosos (acima de 60 anos)...

(ESP BRASIL)


(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário