Logo o futebol, a paixão do povo
brasileiro, fez a massa acordar do ópio que a impedia de ver a realidade do
País. Os contrastes entre as despesas com os suntuosos estádios e a penúria dos
hospitais, das escolas, dos salários de trabalhadores e aposentados. Tudo conseqüência do abuso da classe política
no estabelecimento dos seus próprios vencimentos infinitamente distantes da
renda mensal dos que produzem a renda nacional.
Estádio do Maracanã. Imagem: 222Not1
O abuso vai desde os municípios até as
instâncias mais elevadas da federação. Nossas câmaras municipais e nossas prefeituras
do interior ou das capitais mantêm suas movimentações financeiras como
verdadeiras caixas pretas, em tempo de muita retórica sobre transparência. Ninguém
sabe o valor das folhas de pagamento dessas instituições públicas, e qual o
ganho de cada integrante dessas folhas.
Só se sabe que os funcionários burocráticos, contratados ou concursados
ganham pouco. Mas os titulares dos cargos eletivos e os detentores de cargos de
confiança, assessores diretos, secretários de qualquer pasta têm vencimentos e
vantagens incompatíveis com a utilidade
de suas funções, e com a capacidade financeira da população para arcar com os
elevados impostos destinados à manutenção dessas injustiças.
O povo está nas ruas, em todo o Brasil,
não por R$ 0,20 de passagem de ônibus. Isto foi a gota d’água. Há muita coisa
de cima para baixo e de baixo para cima que vem angustiando a cada um durante
muito tempo. O Congresso Nacional concedeu direitos justos aos empregados e às
empregadas domésticas, enquanto os poderes legislativos e os executivos colocam
contra a parede os que necessitam de seus serviços. Muita gente trabalha fora e
recebe menos de dois salários mínimos.
Como poderá pagar o mínimo de carteira com os ônus patronais para quem
precisa zelar pela sua casa e filhos na sua ausência que causa uma despesa
superior ao ganho do “patrão”?
Viçosa. Imagem: Ricardo Lopes
Os membros da classe política são
indiferentes aos problemas da população, porque eles estabelecem seus próprios
vencimentos e vantagens sem limites, muito distantes da renda per capita média.
E estendem os privilégios para os financiadores de suas campanhas, todos
pertencentes ao grupo dos 10% mais ricos da nação.
Desconsideram
que todas as pessoas ativas um dia chegam à velhice e perderão suas condições
físicas de cuidarem dos afazeres diários, quando passam a depender de algum ou
alguma auxiliar. Diante disto, os
membros dos poderes do estado criam mecanismos legislativos que rebaixam os
rendimentos dos idosos, exatamente na fase em que aumentam suas despesas com
locomoção, tratamento médico e os cuidados especiais da idade.
O Estado perdulário esbanja com as luxuosas construções e
reformas de estádios de futebol, com doações de verbas para empresas de
transporte, com concessões lesivas a entidades privadas para administrar
estradas de rodagem (pedágios), com terceirização de mão beijada de bens
públicos construídos com recursos do Tesouro. Tudo à custa dos impostos
cobrados do contribuinte: trabalhadores mal remunerados; pequenas e médias
empresas que lutam para sobreviver com as próprias despesas, o fraco mercado
interno e a insaciabilidade do Fisco. O
exemplo mais recente dessa bandalheira é a caríssima reforma do Estádio do Maracanã,
paga com o dinheiro do povo, e, na hora de colher os frutos, entregue à exploração privada do mega
milionário Eike Batista, o privilegiado “amigo do Rei”, ou da “Rainha”.
O Tesouro Nacional, como os estaduais e municipais, tem
sempre seus beneficiários. E o povo paga tudo.
Professores ganham mal, as escolas vivem sucateadas, como os hospitais e
todos os serviços públicos destinados à população de baixa renda. As moradias populares, apresentadas com muito
alarde e forte ingrediente de demagogia, são construídas em série, com baixo
custo, de espaços exíguos para abrigar móveis e moradores, totalmente
padronizadas, o que tira do necessitado morador a condição de ter sua imagem
refletida no gosto próprio da construção.
São tão semelhantes na formação do “conjunto habitacional” que, se um
morador passar algum tempo fora, a trabalho ou a passeio, e chegar tonto de
sono, de cansaço ou de bebida, está sujeito a entrar na casa do vizinho, por esquecer qual é a
sua.
Já foi dito e não custa repetir: nossos homens públicos, através
de suas equipes econômicas e seus administradores sociais socializam a pobreza,
e capitalizam a riqueza. Os 10% mais
ricos acumulam lucros e têm cada vez maior participação na apropriação do PIB –
Produto Interno Bruto (Soma de todas as riquezas produzidas no país, nos
estados e nos municípios). Investem,
especulam e concentram. Enquanto os
demais dividem com certo grau de igualdade os problemas de carência e luta para
sobreviver.
Os grandes, usando do
dinheiro público, criam escolas de especialização de mão de obra, com muita
pompa e com pose de benfeitores. Criam
frentes de trabalho, como grandes empreendedores, para alcançarem produtividade
e lucratividade. Insinuam “melhores
salários”. Na verdade, quando muito, os
trabalhadores “especializados” recebem um e meio a dois desse subsalário de R$
678,00, equivalente a menos da quarta parte do salário de Lei, necessário à
sobrevivência de uma família.
O povo vem passando por tudo isto, às vezes angustiado, às
vezes “aliviado” diante da tela de televisão, ou nas arquibancadas de um
estádio de futebol.
O advento das Copas serviu para este povo cair na
realidade. O rotineiro surto de Dengue,
com os hospitais lotados, algumas pessoas morrendo por falta de atendimento em
situações diversas, o custo de vida baixando cada vez mais o valor real dos
salários, o sufoco e, de repente, para ver o jogo no final do Torneio da Copa
das Confederações, se quiser, o trabalhador terá que pagar R$ 418,00, mais da
metade (62%) do salário! Que isto? É só coisa para “gringo”!
As passagens de ônibus, que vêm se acumulando há anos com
aumentos acima da inflação justificariam um movimento de protesto. Como são centavos do individual para os donos
dos milhões, controladores do coletivo (duplo sentido), ninguém percebia ou
dava importância. Virou ingrediente de
explosão da panela de pressão com a válvula entupida. O nó estava na garganta,
como a bucha de um estoque que faltava ser pressionada. O grito de revolta ecoou no País inteiro. Felizmente sem nenhuma bandeira ideológica ou
partidária, e sem o incentivo da mídia, que mais tem feito destacar os excessos
de uns poucos manifestantes, do que a violência da polícia, maior causadora de
vítimas. Tudo isto é a verdadeira causa da sacudida que balança as estruturas da classe
política e – quem sabe? – do próprio sistema.
Todos os personagens dessa Ópera Bufa, ou dessa tragicomédia,
deverão pôr as barbas de molho. O povo
está cansado de vê-los falar em “reforma política” depois de cada eleição. Em vez de reforma, vem sempre uma deformação
de ética, de valores, de justiça: criminosos legislando, impostos aumentando,
fraudes acontecendo.
A realidade paralela aos contrastes da vida do povo e as
gastanças com as copas, veio à tona há poucos dias, com a revelação de que os
brasileiros pagam os maiores impostos da América Latina para manter os
políticos mais caros e mais inúteis do mundo.
Há motivo de sobra para as manifestações que trouxeram o povo às ruas.
Imagem: Alessandra Costa Gamero, por Margareth Ignacchitti
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
Pesquisa:
ingressos que custarão entre R$ 28,5 (para jogos
da primeira fase) e R$ 418 (para a final do torneio) e serão divididos em seis
categorias. Todas as vendas de ingressos serão feitas via internet pelo site da Fifa. Brasil
, Espanha , Uruguai , Itália , Japão
, Taiti e México são as seleções
confirmadas...% sobre o valor dos ingressos da categoria 4. Quantoaos ingressos das
categorias 1 a 3, apenas idosos (acima de 60 anos)...
(ESP
BRASIL)
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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