quarta-feira, 12 de junho de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - Drops junho 12 - GORENDER , LA NAVE VA



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TRIBUTO A GORENDER

Paulo Timm, copyleft – Torres 11 junho 2013

A morte, ontem, de Jacob Gorender, aos 90 anos, leva consigo, uma parte considerável da história do marxismo e do movimento comunista no Brasil, confundida até final dos anos 60 com a história do próprio Partido Comunista do Brasil /Brasileiro , do qual ele foi um dos principais dirigentes. A importância de Gorender se revela pelo teor da Nota emitida pela Presidente Dilma Roussef:

Nota de pesar da presidenta Dilma Rousseff pelo falecimento de Jacob Gorender


Foi com tristeza que recebi a notícia da morte do amigo e companheiro Jacob Gorender. Autor de duas obras clássicas da historiografia brasileira, O Escravismo Colonial e Combate nas Trevas, Gorender foi um pensador do Brasil. Não teve medo das polêmicas intelectuais, assim como não teve medo de defender suas ideias, mesmo pagando o pior dos preços.
Nós nos conhecemos presos no Dops, em São Paulo. Ele estava convalescente de torturas e foi conselheiro importante em um momento crucial na minha vida.

Aos familiares, amigos e admiradores, deixo as minhas condolências e homenagens a este grande brasileiro.

Dilma Rousseff
Presidenta da República  Federativa do Brasil

Gorender foi um grande brasileiro em vários sentidos: combatente  de guerra contra o nazi-fascismo, revolucionário interno infatigável, meticuloso intelectual, editor de várias gerações de periódicos comunistas e de  livros já clássicos. Homem extremamente simples, atento aos princípios do marxismo, desde jovem se dedicou à militância integral, num tempo em que ser comunista significava uma vida de privações e perigos inadvertidos. Ultrapassou tudo isso sempre granjeando respeitabilidade, mesmo quando discordava da Direção do PcB e do grande líderes Luiz Carlos Prestes, por quem não tinha a menor simpatia. Desde sua criação o Partidão , como era conhecida esta agremiação,   praticamente concentrava uma visão monolítica do que era o marxismo como doutrina e o que era o comunismo como militância, refletindo-se este monopólio na própria visão de Gorender sobre a Política: Defesa do Princípio do Internacionalismo Proletário, como defesa intransigente da antiga União Soviética e Política de Alianças com vistas ao fortalecimento da Democracia e do Capitalismo Nacional. O episódio de 1935, como assalto ao Poder,  é mais uma exceção do que uma regra na historio do comunismo brasileiro.  Nos anos 60 , porém,  com o conflito sino-soviético, este monolitismo cindiu-se, dando origem ao atual PcdoB, vindo a se abrir, com isto, novas fronteiras de interpretação dos caminhos da Revolução no Brasil. Depois do Golpe, final dos anos 60, assistimos ao “Grande Racha”, que levaria ao esfacelamento do Partidão e à abertura do marxismo brasileiro à formas de luta mais combativas contra a Ditadura. Gorender sai do Partido e com Mário Alves e Apolônio funda o PCBR.  Um pouco antes, passa um longo tempo no Rio Grande do Sul, onde teve um importante papel na formação de uma geração de comunistas que também romperiam com o Partidão, fundando o Partido Operário Comunista – POC. Com o extermínio dos combatentes da luta armada e do fracasso dos intentos de derrubada da ditadura, Gorender passa longos anos na obscuridade, como , de resto, toda a esquerda revolucionária. Seu retorno à cena política revelou um escritor atento ao seu tempo, disposto à algumas revisões tanto da doutrina , como das formas de luta. Filiou-se ao PT, ao lado de Florestan Fernandes, amigo e confidente, e , optou, devido à idade, pelo distanciamento da luta polítiva. Sempre foi, entretanto, como diz Dilma, um Conselheiro infatigável de grande sabedoria.

Na morte de Gorender, rendo-lhe meu tributo pessoal. Conheci-o , vagamente, nos idos de 64/66, em Porto Alegre, recém ingresso no Partidão, quando lhe ouvi algumas inteligentes preleções. Vez por outro recebi a incumbência de transportá-lo no meu pequeno e insuspeito carro INTERLAGOS, no qual ele entrava meio risonho e com alguma dificuldade. Nestas ocasiões, sempre tensas, ele falava pouco. Eu tremia. Aliás, foi uma boa experiência para afastar-me da opção revolucionária. Via que me faltavam muitas virtudes, que em homens como ele, abundavam: Coragem, desprendimento da vida pequeno-burguesa, compromisso absoluto com a Revolução.

Gorender, entretanto, não gostaria muito que, neste momento, falássemos dele ou de sua obra. Preferiria que se fizesse de sua morte uma reflexão sobre as causas que o moveram em toda a sua longa vida: o Marxismo e a Revolução. 

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