quinta-feira, 6 de junho de 2013

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - rops - junho 06 : COISAS DA PEQUENA POLÍTICA - A propósito .... O caráter aristocrático-escravista da sociedade brasileira







Clique para abrir Drops - junho 06 : COISAS DA PEQUENA POLÍTICA


                              COISAS DA PEQUENA POLÍTICA

Paulo Timm, 68 – Copyleft – Autorizada publicação todos meios

Torres/RS – 06 agosto 2013

“Durante algum tempo, o Brasil passou por uma fase de grande política. Se a gente lembrar, por exemplo, a campanha presidencial de 89, sobretudo o segundo turno, tinha duas alternativas claras de sociedade. Não sei se, caso o PT ganhasse, ia cumpri-la, mas, do ponto de vista do discurso, tinha uma alternativa democrático-popular e uma alternativa claramente neoliberal. Até certo momento, no Brasil, nós tivemos uma disputa que Gramsci chamaria de grande política. A partir, porém, sobretudo, da vitória eleitoral de Lula, eu acho que a redução da arena política acaba na pequena política, ou seja, que no fundo não põe em discussão nada estrutural. Eu diria que é a política tipo americana.”Carlos Nelson Coutinho – Entrevista : Caros Amigos de dezembro de 2009 -http://ousarlutar.blogspot.com/2010/02/democracia.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+blogspot%2FvhpL+%28Ousar+Lutar%21%21%21+Ousar+Vencer%21%21%21%29

 A morte do físico Bautista Vidal, há alguns dias, que foi meu colega no IPEA e com quem partilhei belas discussões ao tempo em que Cristovam Buarque era Reitor da Universidade de Brasília, me leva a pensar nos grandes temas que ele sempre levantava: Soberania, Defesa da Nação, Energia, Próximas Gerações, Espoliação Financeira Internacional, Monopólios , Política e políticos... Meu Deus, como ficamos pequenos nestes últimos tempos! A que está reduzida a Política no Brasil? Intrigas de corredor ou alcova (Rose-bud); parlamentares (de mentirinha) brigando (de mentirinha)  com o Supremo Tribunal Federal (de mentirinha...); acusações recíprocas de “petralhato” contra “tucanato elevadas à categoria de essência do fundamento, todas com livre curso nas redes,  como se a nação ou seu coalho político a isso se resumissem. Enquanto isso, quase metade dos Impostos arrecadados pela União destinam-se ao pagamento de juros da monstruosa dívida pública e ninguém sabe. Pior, inescrupulosos empresários paulistas ocupam a mídia e as redes com a diária informação do IMPOSTÔMETRO postado em Praça Pública, no qual se tenta convencer a opinião pública que o BRASIL É O PAÍS DOS IMPOSTOS. Pois não é bem assim. Tanto o tal Impostômetro como o discurso são fraudulentos. O Brasil é sim, o país em que uma minoria insignificante da população, não superior a dez mil pessoas, se apodera, via sistema financeiro,  dos pesados Impostos recolhidos pela União sobre os salários de todos os brasileiros para aumentar ainda mais sua riqueza e poder. Ontem mesmo, um amigo médico, velho e lúcido comunista, homem informado , em torno de seus 80 anos, me confessa que há apenas alguns dias disso tomou conhecimento. Mas Hitler foi à II Guerra, não porque fosse um louco, mas porque o Tratado de Versalhes, após a I Guerra Mundial,  impôs à Alemanha uma sangria impagável. Fala-se muito, também, em Classe Média, agora acrescida com mais de 20 milhões de consumidores, graças à elevação do salário mínimo, das transferências de renda e da conjuntura favorável de pleno emprego. Mas ninguém fala quantos milhões ainda permanecem na mais absoluta pobreza. É metade da população, quase cem milhões. Onde uma Revolução Cultural como a que acompanhou e impulsionou os Anos Dourados da década de 50? Onde os grandes debates do “Casa Grande” ou uma imprensa mundialmente inovadora como “O Pasquim”? Onde o florescimento do marxismo como filosofia crítica, tal como a que nos brindou Carlos Nelson Coutinho ao internalizar entre nós o debate sobre a Democracia como Valor Universal? Aí me dou conta de como o Bautista, sem ser político, nem de esquerda, nem marxista, era realmente grande nas suas reflexões, que ficam registradas nas conferências que pronunciou por todo o país, nas entrevistas que concedeu, nos 13 livros que estão publicados. Ele tratava da Grande Política, tal como Gramsci assim a entendia, ao pensar prospectivamente a nação entregando-se à ela com coragem. Coragem? Só se for como a própria inteligência, no dizer de Sérgio B.H., como ornamento e prenda, jamais pra valer... Foi Brizola, aliás, quem me chamou a atenção, certa vez, logo de seu retorno ao Brasil sobre isto, numa crítica velada ao escorregadio Pedro Simon: “Agora todo muito é < hábil> na Política Nacional. Não tem ninguém corajoso...?” Na verdade, a coragem saiu do dicionário dos nossos políticos, reservando-se, aqui e acolá, um ou outro momento histriônico, obra mais de destempero do que de civismo. Civismo...? Também sumiu. Acho que se perguntarmos a um menino do primário o que é isto, ele terá dificuldade em responder. Até mesmo as reuniões políticas atuais, antes fechadas a sete chaves nos recônditos das Ibiúnas da vida, hoje são escancaradas, regadas e bem servidas. Como já advertida Oswald de Andrade: “Eles ainda comerão destes biscoitos finos que fabrico”. Ou Alvaro Alvim: “Ah afogados!” Ou Mário de Andrade: “ Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague onde principia a seriedade. Nem eu sei.” Ou Roberto Gomes, autor de A Filosofia Tupiniquim - http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Roberto_Gomes_-_Critica_da_Razao_Tupiniquim.pdf, um dos mais instigantes textos que li nos últimos tempos : “ Entre-nós perdeu-se o contato com a realidade em torno.”  Enfim, como mostrou Sérgio Buarque de Holanda , citando Holanda Cavalcânti - "Nada há mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder".

Tinhas , pois, razão Bautista, quando, aos berros e pancadas fortes nas mesas onde sentavas como conferencista, denunciavas:

                     - “São uns canaaaaaaaaaaalhaaaaaaaass!!!!








A propósito ....   O caráter aristocrático-escravista da sociedade brasileira


ESCRITO POR WLADIMIR POMAR   



A dinastia feudal dos Bourbons parece haver se tornado referência de vários articulistas que examinam a atual conjuntura brasileira e, também, norte-americana e europeia. Os Bourbons ficaram famosos na história principalmente por nunca esquecerem nada do que faziam contra eles e do que eles faziam contra os demais.

Eram capazes de se lembrar dos mínimos detalhes, e de se vingarem numa desproporção inusitada. Paralelamente, ficaram ainda mais famosos por não aprenderem nada com as lições da vida. Eram incapazes de extrair ensinamentos dos acontecimentos em que se envolviam, o que acabou por levá-los ao inevitável declínio, não sem deixarem de cometerem estragos diversos.

Algo parecido ocorre com o tucanato nativo. Eles não esquecem, nem perdoam, a oposição do PT e das forças democráticas e populares às privatizações das estatais e à privataria desbragada que promoveram durante essas privatizações. Não esquecem a oposição à abertura e à desregulamentação da economia brasileira, mas acham que a ação desenvolta das capitais financeiras internacionais, a quebradeira do parque produtivo nacional e a monopolização da economia brasileira foram decorrência de um processo inevitável de destruição criativa.

Nessa mesma conta não esquecem que reduziram o Estado brasileiro ao mínimo possível, desmobilizando todo o setor de planejamento e de elaboração de projetos executivos, com a certeza de que isso tudo era coisa do passado. Como coisa do passado deveria ser a manutenção e reforma das estradas, portos, aeroportos, usinas elétricas, linhas de transmissão, universidades, escolas, hospitais, postos de saúde e outros serviços públicos, e a construção de novos. Ou a formação de mais professores, engenheiros, cientistas, médicos etc. etc..

Para que tudo isso, se o Brasil estava se inserindo, conforme pensavam, no mundo global das grandes potências pós-industriais? O que era preciso consistia em reformar o sistema de aposentadoria e pensões para reduzir seus custos, desregulamentar as leis trabalhistas e manter baixos os salários, estimulando cada pessoa a se tornar um empregador, já que o trabalho de tipo antigo não mais existiria com as revoluções do conhecimento. Eles não esquecem nada disso, mas não o relacionam com o desastre que promoveram no país.

Por isso, agora, através do novo presidente tucano, ex-governador de Minas, ex-administrador público inigualável, admirador de carteirinha de cada um dos estados brasileiros e possuidor de outros belos atributos que se esmera em jogar sobre si mesmo, o tucanato quer convencer os brasileiros que durante os 8 anos de reinado do Bourbon FHC eles fizeram tudo certo. Privatizaram direito, quebraram a indústria direito, controlaram a inflação direito, pagaram direitinho a montanha de dívidas externas e internas, sem que ela fosse reduzida, promoveram uma estagnação econômica de primeira classe e aumentaram o número de pobres e miseráveis sem gastar um tostão do dinheiro público.

E acusam o PT e a esquerda no atual governo de tentar fazer uma privatização meia-sola, ser incapaz de reverter a indústria, fazer a inflação retornar, não pagar direito a dívida pública, prometer um crescimento que não vai além de um pibinho, e só reduzir o número de pobres e miseráveis à custa do dinheiro público, que deveria ser melhor administrado.

O interessante é que essa ladainha parece estar convencendo parcela considerável da burguesia nativa, mesmo aquela que sofreu as dores da destruição criativa do neoliberalismo tucano. O que certamente faz lembrar que a família Bourbon não era exatamente uma família unida. Com a mesma facilidade que ela muitas vezes se dividia e travava batalhas de morte entre si, ela voltava a se unir, nem sempre guardando os rancores das lembranças do passado. O que nos faz supor que parte da burguesia brasileira certamente faz parte dos Bourbons. E que, talvez ao contrário do que se pensa, ela não só deixa de aprender com os acontecimentos, mas também nem sempre se lembra de tudo.

Nessas condições, a campanha eleitoral já em curso, apesar de todas as análises em contrário, promete reviver a polarização entre os Bourbons brasileiros, adeptos incondicionais do neoliberalismo, e a esquerda democrática e popular. Pode até ocorrer que parte dessa esquerda se deixe enganar e ache que os Bourbons têm alguma razão e merecem uma nova chance. Afinal, como no passado, nem sempre os Bourbons foram incompetentes nas disputas políticas. Conseguiram angariar aliados em seus opostos aparentes e, com a ajuda deles, causar derrotas a seus inimigos.

Por outro lado, é possível que parte da burguesia, além de se lembrar da destruição neoliberal, tenha aprendido que essa política só beneficia o 1% da plutocracia corporativa. Para esta, o resto dos mortais, que inclui parcela significativa da burguesia, não merece atenção. Relembrar e esclarecer essas lições do passado recente certamente terá que fazer parte do embate político, que cada vez mais tem como base o desempenho da economia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário