quinta-feira, 6 de junho de 2013

Demolição do Banco Mineiro destrói mais um pedaço da história de Visconde do Rio Branco





Banco Mineiro. Inscrição na caçada

Banco Mineiro - fachada


O mês de junho começou com a demolição do prédio do antigo Banco Mineiro  S.A., na Praça da Estação(Praça Getúlio Vargas), fundado por Adriano Telles em 1928, conforme inscrição na calçada à sua porta. Tinha aquela instituição financeira a finalidade de financiar os produtores rurais de Café, conforme crônica de Edgard Amin, no Jornal A Imprensa, quando se refere ao livro do rio-branquense nato, Ruy do Brasil Leal, onde ele conta:

 - A Casa Teles foi fundada por Adriano Teles e Abílio Mesquita, o primeiro tio da mãe do Sr. Ruy e o segundo primo primeiro da sua avó, ambos portugueses.

Compravam todo o café, feijão, milho, etc da vasta Zona da Mata. Construíram na cidade três engenhos de café e fundaram o Banco Mineiro para financiar os lavradores da região.

Observamos que o sobrenome Telles, ora aparece com dupla letra l, ora com uma só. 

O Banco fora erguido nos terrenos da Casa Telles, que ocupava toda a área entre a Praça 28 de Setembro e a Praça Getúlio Vargas(Estação), entre o Hotel Braga e o sobrado da família Alvim Gomes. 
Praça 28 de Setembro - Imagem: Danton Ferreira

Praça 28 de Setembro - Imagem: Jacynto Batalha


Com a vitoriosa produção do café, resultante dos financiamentos, Adriano Telles voltou a Portugal e abriu A Brasileira.  A  WikipédiA registra:>

“A Brasileira é um dos mais emblemáticos cafés da cidade do Porto, em Portugal, localizado na Rua de Sá da Bandeira, em plena Baixa.
De acordo com um projecto do arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira, "A Brasileira" tem uma notável fachada, com o magnífico pára-sol de ferro e vidro, e um interior deslumbrante, em que sobressaem os cristais, os mármores e o mobiliário de couro gravado. A chamada "sala pequena" foi, nos últimos anos, separada e é hoje explorada pela multinacional Caffè di Roma. O restante espaço esteve encerrado durante vários anos e reabriu recentemente como restaurante.”
Café A Brasileira. Imagem: WikipédiA


        E acrescenta:

“Adriano Teles não se ficou pelo Porto, abrindo "A Brasileira" de Lisboa, no Chiado, em 1905 e "A Brasileira" de Braga em 1907 e "A Brasileira" de Coimbra em 1928.
A Brasileira - Lisboa, fotografada por Joshua Benoliel


 Estátua de Fernando Pessoa, no lado externo de A Brasileira. Imagem: WikipédiA.

Brasileira Braga.JPGA Brasileira de Braga. Imagem: WikipédiA.


        Por aí se observa o espírito empreendedor de Adriano Telles, ao fazer circular o capital produtivo, que gerava riqueza e abria frentes de trabalho desde a lavoura de nossa região até a metrópole lusitana. Tudo a partir de uma única agência bancária criada em pequena cidade do interior de Minas Gerais. Até nisto, Adriano e seus sócios foram pioneiros e com ampla visão de negócios.  Os demais fundadores de banco são formados por grandes e poderosos grupos econômicos com base nas capitais, e, na maioria das vezes, com saque do Tesouro Nacional, por meio de influências políticas perniciosas ao Erário.
         E o Banco Mineiro não só financiava a lavoura do café como também concedia empréstimos a cidadãos comuns para compra de terrenos e casas de morada na zona urbana, como uma forma de capitalismo sadio, sob juros e condições alcançáveis, e sem as humilhantes aparências de favor ou caridade.         O Banco Mineiro teve relevante papel na vida social urbana e rural do Município.  Em meados do Século passado, sob direções diferentes das originais, suas ações foram transferidas para grupos de fora e se transformou no Banco Mineiro do Oeste, como mostra a WikipédiA:


   “O Banco Mineiro do Oeste foi uma instituição financeira localizada em Belo Horizonte, Minas Gerais. Seu fundador foi João do Nascimento Pires. Surgiu como um estabelecimento bancário em Visconde do Rio Branco, Minas Gerais. Se instalou em Belo Horizonte em meados de 1965. Através de seu banco, também apoiou muitas produções de filmes brasileiros como A Hora e Vez de Augusto Matraga, A Vida Provisória, Garota de Ipanema, além filmes produzidos por Júlio Bressane, Paulo César Saraceni e outros. Quando o banco estava no auge de seu crescimento, uma política de concentração do sistema bancário brasileiro foi implantada por Delfim Neto, em 1969. Delfim era ligado aos interesses de bancos paulistas, e o Banco Mineiro do Oeste foi absorvido pelo Bradesco, em 1970.”

         Em um regionalismo piegas, poderíamos dizer que a Agência do Bradesco, em Visconde do Rio Branco, volta um pouco às suas origens. Na verdade, seria preferível um banquinho, um tamborete,  como foi o Banco Mineiro S.A., naquela pequena casa da Praça Getúlio Vargas, a cumprir função social com respeito à dignidade e à cidadania de seus clientes.

        A cidade tem sofrido profundos golpes no seu patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e na sua identidade, com a destruição de prédios que traziam nos seus detalhes de fachadas, nos portais e em várias pontos da construção, mensagens subliminares  em formas artesanais, marcantes do estilo neoclássico, na maioria das vezes expressões do iluminismo, inspirador de movimentos libertários e de pujança da razão.  

        O direito de propriedade vive momentos de superioridade, desvinculado dos valores sociais.  Há entre a Praça 28 de Setembro e a Praça da Estação um espaço vazio, cercado de arame com sentido de túmulo, onde jaz a imagem de dinamismo, de bem coletivo, de história exemplar.  Parece um livro sem letras, um orador sem platéia, um professor sem alunos, uma orquestra sem músicos.

Esquina da Praça 28 de Setembro com Rua Presidente Antônio Carlos. CM 14/04/2013




(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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