O brasileiro perde o gosto pelo futebol. Quem diria?
De paixão nacional, virou motivo de
revolta e indignação devido ao contraste entre a gastança desmedida com os
estádios, preparados para sediar a Copa das Confederações, a Copa do Mundo em
2014 e as Olimpíadas em 2016.
Os gastos são bilionários e perdulários
com cada unidade desportiva, sem controle e transparência, com supostos
superfaturamentos que, pelo perceptível, estão servindo para enriquecimento de
pessoas privilegiadas que gozem da intimidade dos responsáveis pela
distribuição das verbas.
Imagem: Caio Mata - Além do futebol
Imagem: Análise F.C
O povo está se manifestando nas redes
sociais da Internet e nas conversas de rua, diante da falta de escolas de
qualidade, de moradia digna, de saúde e todas as necessidades sociais. O governo comprime a vida da população com os
baixos ordenados, vencimentos e salários, no setor público, na iniciativa privada,
nas aposentadorias e pensões – por um lado, e nos impostos, por outro. A equipe econômica toma medidas drásticas de
contenção de despesas sob argumento de combate à inflação. No entanto, para as despesas com a estrutura
e os preparativos da Copa e seus desdobramentos, não há limites. E ainda acontece a crueldade de deslocamento
de populações carentes, quando suas moradas se encontram da área idealizada
pelos organizadores para obras do evento esportivo.
Os amantes do futebol já estão prevendo
que, pela ostentação das obras, e pela estrutura planejada, o luxo do
espetáculo terá preços proibitivos para os comuns dos mortais. É como se houvesse preocupação de satisfazer e
dar conforto somente às privilegiadas delegações que vêm de fora e aos
torcedores do Primeiro Mundo. É como se até no mundo dos esportes estivéssemos
sob colonialismo, e os torcedores de campeonatos locais fossem peças
descartáveis.
Fica a impressão de que o governo e os
organizadores do evento deixam para o encanto do futebol fazer os apaixonados
pelo esporte recorrerem aos empréstimos
consignados, ou aos agiotas particulares para conseguirem empréstimo que lhes
permita acompanhar os jogos, sem medirem consequências das dívidas.
De abuso em abuso, desprezando a
inteligência e o sentimento do povo, os governantes estão exagerando na tática
do “pão e do circo”, quando este povo começa a perceber que os suntuosos
estádios de futebol têm servido de circo, e que a platéia tupiniquim, nas arquibancadas,
está bancando o palhaço desse mega espetáculo. É uma inversão de posições, onde o picadeiro
está nas quatro linhas, que se transformam em ribalta para as grandes estrelas
correrem atrás de uma bola, enquanto os milhões de “carequinhas” vibram nas
arquibancadas, nas praças públicas, nos bares e nas residências, nos barracos, diante de telões ou de aparelhos cheios de
chuvisco por esse Brasil a fora.
Imagem: Professora Escola Dominical
Miniaturas dessa forma de pão e circo acontecem
também nos municípios. E o pão tem sido
pouco. A barriga ronca. O povo paga caro
e adiantado por essa farra. Não só a
farra dos circos, digo: estádios de futebol. Mas também a farra com os
políticos mais caros do mundo, a custa dos impostos mais caros da América
Latina.
De grau em grau, no desprezo ao povo,
não causará surpresa se as classes dirigentes derem uma de Maria Antonieta: "Se o povo não tem pão, que coma
brioches!"
Imagem: Luz de Esperança
Se gastam tanto e mal, com aquilo que
não precisa; se são perdulários contumazes na indiferença às necessidades e
possibilidades do povo – entende-se por que estejam decepcionados e
desinteressados pelo futebol os seus maiores apaixonados: o torcedor
brasileiro, a massa que faz parar o país em época de Copa, ou da decisão de
qualquer campeonato estadual.
O desinteresse, que se vinha manifestando
isoladamente por alguns com tímidas expressões, temendo serem hostilizados
pelos demais, vem tomando vulto, e muitos já se manifestam abertamente, com
franca indignação, para tanto deixando escapar palavras consideradas de baixo
calão. Na verdade, nessas palavras vai o
desabafo de quem não quer esconder nada.
E o alvo são os dirigentes das competições esportivas, algumas estrelas
da arte, e a classe política.
O sentimento se multiplica, e cresce o
número de pessoas desinteressadas em ver noticiário esportivo. E muitos que não
querem nem saber de Copa.
2014 vai ter Copa e eleições. Ninguém se
iluda e não se surpreenda se nos estádios ninguém estiver falando o português,
nem xingando juiz de ladrão; e se nas urnas os votos nulos ganharem o pleito,
sem muitos palavrões, porque o processo eletrônico só admite números.
Há muito ingrediente do reinado de Luiz
XVI e dos hábitos de Maria Antonieta. Mas a guilhotina poderá apenas ter o
corte da indiferença.
(Franklin Netto - viscondedoriobrancominasgerias@gmail.com)
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