sexta-feira, 14 de junho de 2013

Gastança com estádios e carência com programas sociais faz o povo perder interesse pelo futebol



      O brasileiro perde o gosto pelo futebol.  Quem diria?  

         De paixão nacional, virou motivo de revolta e indignação devido ao contraste entre a gastança desmedida com os estádios, preparados para sediar a Copa das Confederações, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016.

         Os gastos são bilionários e perdulários com cada unidade desportiva, sem controle e transparência, com supostos superfaturamentos que, pelo perceptível, estão servindo para enriquecimento de pessoas privilegiadas que gozem da intimidade dos responsáveis pela distribuição das verbas. 
Imagem: Caio Mata - Além do futebol

 
Imagem: Análise F.C

         O povo está se manifestando nas redes sociais da Internet e nas conversas de rua, diante da falta de escolas de qualidade, de moradia digna, de saúde e todas as necessidades sociais.  O governo comprime a vida da população com os baixos ordenados, vencimentos e salários, no setor público, na iniciativa privada, nas aposentadorias e pensões – por um lado, e nos impostos, por outro.  A equipe econômica toma medidas drásticas de contenção de despesas sob argumento de combate à inflação.  No entanto, para as despesas com a estrutura e os preparativos da Copa e seus desdobramentos, não há limites.  E ainda acontece a crueldade de deslocamento de populações carentes, quando suas moradas se encontram da área idealizada pelos organizadores para obras do evento esportivo.

         Os amantes do futebol já estão prevendo que, pela ostentação das obras, e pela estrutura planejada, o luxo do espetáculo terá preços proibitivos para os comuns dos mortais.  É como se houvesse preocupação de satisfazer e dar conforto somente às privilegiadas delegações que vêm de fora e aos torcedores do Primeiro Mundo. É como se até no mundo dos esportes estivéssemos sob colonialismo, e os torcedores de campeonatos locais fossem peças descartáveis.

         Fica a impressão de que o governo e os organizadores do evento deixam para o encanto do futebol fazer os apaixonados pelo esporte  recorrerem aos empréstimos consignados, ou aos agiotas particulares para conseguirem empréstimo que lhes permita acompanhar os jogos, sem medirem consequências das dívidas.

         De abuso em abuso, desprezando a inteligência e o sentimento do povo, os governantes estão exagerando na tática do “pão e do circo”, quando este povo começa a perceber que os suntuosos estádios de futebol têm servido de circo, e que a platéia tupiniquim, nas arquibancadas, está bancando o palhaço desse mega espetáculo.  É uma inversão de posições, onde o picadeiro está nas quatro linhas, que se transformam em ribalta para as grandes estrelas correrem atrás de uma bola, enquanto os milhões de “carequinhas” vibram nas arquibancadas, nas praças públicas, nos bares e nas residências, nos barracos,  diante de telões ou de aparelhos cheios de chuvisco por esse Brasil a fora.  
 
Imagem: Professora Escola Dominical


         Miniaturas dessa forma de pão e circo acontecem também nos municípios.  E o pão tem sido pouco. A barriga ronca.  O povo paga caro e adiantado por essa farra.  Não só a farra dos circos, digo: estádios de futebol. Mas também a farra com os políticos mais caros do mundo, a custa dos impostos mais caros da América Latina.  

         De grau em grau, no desprezo ao povo, não causará surpresa se as classes dirigentes derem uma de Maria Antonieta: "Se o povo não tem pão, que coma brioches!"
Imagem: Luz de Esperança 

        Se gastam tanto e mal, com aquilo que não precisa; se são perdulários contumazes na indiferença às necessidades e possibilidades do povo – entende-se por que estejam decepcionados e desinteressados pelo futebol os seus maiores apaixonados: o torcedor brasileiro, a massa que faz parar o país em época de Copa, ou da decisão de qualquer campeonato estadual.

        O desinteresse, que se vinha manifestando isoladamente por alguns com tímidas expressões, temendo serem hostilizados pelos demais, vem tomando vulto, e muitos já se manifestam abertamente, com franca indignação, para tanto deixando escapar palavras consideradas de baixo calão.  Na verdade, nessas palavras vai o desabafo de quem não quer esconder nada.  E o alvo são os dirigentes das competições esportivas, algumas estrelas da arte, e a classe política.

        O sentimento se multiplica, e cresce o número de pessoas desinteressadas em ver noticiário esportivo. E muitos que não querem nem saber de Copa.

        2014 vai ter Copa e eleições. Ninguém se iluda e não se surpreenda se nos estádios ninguém estiver falando o português, nem xingando juiz de ladrão; e se nas urnas os votos nulos ganharem o pleito, sem muitos palavrões, porque o processo eletrônico só admite números.

        Há muito ingrediente do reinado de Luiz XVI e dos hábitos de Maria Antonieta. Mas a guilhotina poderá apenas ter o corte da indiferença.

(Franklin Netto -  viscondedoriobrancominasgerias@gmail.com)

       

         


   

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