sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Brasil, um balaio de gatos

     


                Um país onde tudo pode e nada é sério. Os poderes se constituem à base dos financiamentos privados de campanha eleitoral, o que resulta na formação de quadros, na composição do legislativo e do executivo, completamente mercantilizados, comprometidos a restituírem aos financiadores nada menos que o dobro do investimento feito. 

                   Desse modo, os partidos perderam a expressão ideológica e programática que faziam umas siglas diferentes das outras.  Há políticos que começam a angariar adesões com a explícita afirmação de que fidelidade partidária e ética “são conversa para boi dormir”.   Doadores expõem de imediato suas condições:  “entro com R$ 800.000,00 mas quero pelo menos R$ 1.600,00 de volta.”  Isto por baixo, no âmbito dos pequenos municípios, para os quadros de vereadores e de prefeito.  E nenhuma campanha se faz com apenas um doador.  Multipliquem-se esses valores por 10, por 100, por 1.000, para se ter uma ideia de quanto os pagadores de impostos terão que desembolsar para os ocupantes dos cargos e seus costas largas.  E quando se trata de eleições para a esfera estadual e para a federal, como as do ano que vem(2014), esses valores se tornam infinitos.

                   Esses costumes vêm se acumulando há algumas décadas.  Desde que se abriu o financiamento para empresas.  Se antes as pessoas físicas abusavam do poder econômico, com a adesão das jurídicas, o abuso extrapolou os limites pensáveis.  Resultou na privatização de todas as atividades públicas, direta ou indiretamente.

                  O poder do povo, pelo povo e para o povo virou ficção.  A governança, a partir dos municípios, gira em torno de interesses privados.  O estado de direito, a democracia plena funciona a partir dos R$ 10.000,00.  Quem se inclui nessa faixa de renda para cima tem os poderes agindo a seu favor.  Apenas, 0,03% da população brasileira têm renda média acima desse valor.  Quer dizer que 99,97 estão abaixo desse patamar.  Quase o total.  Onde está a democracia para o povo?

                   Os que têm renda familiar de R$ 291 a R$ 1.019,00 por pessoa são mais da metade da população. E são considerados ‘classe média’.  E os pobres, então, que formam a base da pirâmide social? 

                   Os critérios são falsos para estabelecer essa divisão de classes.  Quem tem renda de dois salários mínimos (R$ 1.350,00), neste caso, se enquadra na classe média.  E pensar que dois salários mínimos dão apenas para a metade das necessidades de uma família viver de acordo  com o mínimo necessário estipulado pela Constituição Federal!?

                   Esses privilegiados 0,03% da população (renda acima de R$ 10.000,00) têm a favor deles tudo: o direito de usar meios ilícitos para conquistar eleições e serem contemplados pela presunção da inocência e pelos “embargos infringentes”, como demonstrou o Supremo Tribunal Federal com a turma do Mensalão recentemente. Jogaram o novo julgamento para o primeiro semestre de 2014, talvez para rolar, rolar e rolar...  De uma só tacada, o Supremo livrou os condenados (ala liderada pelo PT) e os a serem julgados (ala liderada pelo PSDB).  As calendas gregas ficam de braços abertos para acolher essas procrastinações. 

                   Quando as elites dirigentes vivem nesse estado de impunidade e fazem o que querem das leis e do direito, não é de se estranhar que a massa esteja desnorteada, espelhada em maus exemplos dos crimes que provocam a falta de escolas, de saúde, de moradia e de vida digna.  Não se implanta a moralidade, locupletam-se todos, já filosofava o genial Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), nos anos 60.  O Crime Organizado, o Narcotráfico, os assaltos a casas lotéricas são a imitação da plebe do vandalismo das castas dominantes.

                   E chega tão perto, não mais como ficção de filme de terror, o conflito de grupos rivais, como o tiroteio de anteontem, quarta-feira, no Horto Florestal de Ubá, em plena multidão.  Apavorante, mas muito menor do que tudo o que está contido no processo do mensalão, ação 470, onde a Suprema Corte assegurou aos réus a máxima oportunidade de defesa que, na prática, resulta em nada.

                   A Plutocracia disfarça uma ditadura financeira e alimenta a farsa de que vivemos em regime de plenos direitos democráticos desde a promulgação da Constituição de 1988, 25 anos, a mais duradoura das nossas cartas magnas com presidentes ‘eleitos’ diretamente pelo povo.  O povo ‘elege’ entre os previamente escolhidos pelos donos do capital, que representam os mesmos interesses. 

                   Estamos vendo que com uns e outros a riqueza nacional vai sendo transferida para o domínio das multinacionais: Lá se foram a CSN, a Vale do Rio Doce, o monopólio da distribuição do petróleo, a exploração dos vários campos descobertos pela Petrobras, e agora o campo de Libra, o maior achado do mundo, que os governantes propõem entregar ao domínio estrangeiro, quando a legislação restante permite ficar diretamente com a estatal brasileira, sem depender de licitação.

                   Há tanta riqueza para distribuir para aqueles 0,03% da casta financeira, enquanto o trabalhador tem de se resignar com um quarto do que precisa para manter a família em suas necessidades básicas de sobrevivência. 

                   Quando apuramos a renda per capita do município e da união, constatamos que em um e em outro há possibilidade de a família receber a renda de que precisa e sobra mais da metade para manter a máquina pública.
Isto só não acontece, porque os governantes deixam de promover a justa distribuição da renda.  E fica essa casta corrupta com todos os benefícios do trabalho do povo e das nossas riquezas naturais.  Nessa “democracia” fica para os exploradores o filé, e para o povo as favas.

                   O clima de violência nada mais é do que conseqüência.  


(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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