(Compilação)
18/09/2013 INFORMA CUT
Se a pressão para entrar no pré-sal é
muita, que seja noutro campo, não no maior de todos, afirmou Guilherme Estrella
por: Sérgio Cruz
O
diretor de Exploração e Produção da Petrobrás no governo Lula e responsável
pela descoberta do pré-sal, Guilherme Estrella, afirmou, durante seminário
organizado pela Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, que a
realização do leilão do Campo de Libra, previsto para ocorrer em outubro
"é um erro estratégico". "Libra são 10 bilhões de barris de
petróleo já descobertos, é muito óleo. A nossa posição de reserva com o pré-sal
é muito confortável pelos próximos 20 anos. Por que vai abrir Libra para a
participação de empresas estrangeiras e interesses estrangeiros?", indagou
Estrella.
"As
empresas estrangeiras são empresas que representam os interesses de seus
países. Nós conhecemos a história do petróleo. Isso não está certo",
insistiu o ex-diretor da Petrobrás. "Abrir uma licitação para 10 bilhões
de barris já descobertos não está certo. A lei permite a contratação pelo
governo de sua empresa para produzir esse petróleo", lembrou. O artigo 12º
da nova lei do petróleo (lei nº 12.351/2010), que rege o pré-sal, determina que
a União, quando for o caso de "preservar o interesse nacional" (sic)
e atender aos "objetivos da política energética" (sic) deve contratar
a Petrobrás diretamente "para a exploração e produção de petróleo, de gás
natural e de outros hidrocarbonetos fluidos sob o regime de partilha de
produção". Em suma, em área "estratégica", definida pela mesma
lei como "região de interesse para o desenvolvimento nacional, (...)
caracterizada pelo baixo risco exploratório e elevado potencial de produção de
petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos", a Petrobrás
deverá ser contratada diretamente. Se Libra - maior reserva de petróleo do
mundo - não é estratégica, o que será uma área estratégica?
"Se
tinha que fazer uma nova licitação, até politicamente, faz de outra área nas
proximidades, aliás temos nas proximidades de Libra, Franco, que é da cessão
onerosa e vai ser produzido pela Petrobrás", prosseguiu Estrella.
"Para mim, essa decisão foi um erro estratégico. Nós estamos trazendo
interesses não brasileiros para produzir 10 bilhões de barris", completou
Guilherme Estrella.
"Quando
a gente fala em energia, estamos falando de um tema muito sensível sob o ponto
de vista da geopolítica mundial. Especialmente petróleo e gás natural, nós
temos um foco numa série de questões que tocam a soberania das nações, ao
conhecimento e o desenvolvimento do conhecimento científico e
tecnológico", frisou. "Além de serem absolutamente fundamentais na
vida das pessoas. Consumo de energia é parâmetro de qualidade de vida, mas, ao
mesmo tempo é fundamental na sustentação de hegemonias geopolíticas mundiais.
Isso é o que acontece no nosso dia a dia", destacou o debatedor.
"Nós,
cidadãos do século XXI, assistimos estarrecidos há uns dez anos a invasão de
países soberanos para apropriação de reservas petrolíferas. Monarquias
absolutamente medievais, autoritárias, opressoras são mantidas para sustentar
como fonte de energia, fonte de petróleo e gás natural as potências hegemônicas
mundiais", denunciou Estrella.
Aos
argumentos apresentados pelo ex-diretor da Petrobrás contra o leilão de Libra
vieram se somar as recentes denúncias veiculadas recentemente pela TV, de que a
Petrobrás foi espionada pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA).
Segundo os dados divulgados pelo ex-analista da agência, Edward Snowden -
atualmente exilado na Rússia - a estatal brasileira foi bisbilhotada pela
agência de espionagem norte-americana. Na opinião generalizada de
especialistas, e até da presidente Dilma Rousseff, essa espionagem visava obter
vantagens para as empresas dos EUA na disputa pelo controle do pré-sal. Este
fato gerou um amplo movimento dentro do país, envolvendo centrais sindicais,
personalidades, parlamentares e diversos movimentos sociais, exigindo o cancelamento
do leilão.
O
seminário - que fez parte do simpósio "Recursos Minerais no Brasil:
Problemas e Desafios" - foi conduzido pelo acadêmico Umberto Cordani. Além
de Guilherme Estrella, o simpósio teve ainda uma conferência ministrada pelo
acadêmico Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ). No papel de debatedores
estavam Aquilino Senra (INB), Colombo Tassinari (ABC/USP), Edison Milani
(Petrobrás), Gilmar Bueno (Petrobrás), John Forman (J. Forman Consultoria),
José Goldemberg (ABC/USP), José Israel Vargas (ABC/UFMG), Maurício Tolmasquim
(EPE), Paulo Heilbron (CNEN) e Roberto Villas-Bôas (Cetem). O seminário de
Estrella aconteceu no dia 14 de agosto passado e abriu as discussões na ACB
sobre recursos energéticos de origem mineral.
--
Samuel Gomes
Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul
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