quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Morte cultural é instrumento de domínio

                  


      Na historia das colonizações, os invasores sempre usaram destruir a memória, a cultura, a língua, as tradições e todo o passado dos povos dominados, como a limparem qualquer sombra de sua identidade. E sempre deixar como única opção aos sobreviventes a aceitação incondicional da escravidão e a cultura do colonizador. Resistência à escravidão teve o preço do extermínio físico.  Assim desapareceram os Aztecas, os Incas, os Maias, a maioria das tribos indígenas e os negros dos quilombos.  Os remanescentes acaso existentes se contam nos dedos.
Imagem de civilização Azteca.  Códiog Diamante

         As cidades das terras conquistas vieram surgindo com história comum de chegada de aventureiros, bandeirantes no contato com os nativos que antes não foram alcançados pelos invasores. Os contatos nem sempre eram pacíficos, o que resultou na quase extinção dos verdadeiros donos destas terras.  Juntos, estavam os negros submissos à escravidão que acompanhavam os senhores nas aventuras da descoberta de outro, ou que eram beneficiados com as sesmarias onde estabeleciam suas fazendas, seus engenhos e praticavam a agricultura.
Sesmarias. Imagem: Geo Conceição

         O tempo fez as cidades do interior terem histórias em comum, a partir de uma capela, do surgimento dos povoados,  das vilas, das paróquias e das cidades.
Imagem: Fabinho Batista Soares


         Para algumas dessas localidades costumavam vir comunidades formadas por membros com graus de parentesco próximos, o que resultava em cultura comum.  Por isto, muitos desses lugares cresceram até certo ponto com características comuns no seu conjunto populacional, que resultou na expressão de harmonia de suas construções.
Rua do Divino. Imagem: Jefferson Colelho


         Dentro desse quadro, Visconde do Rio Branco adquiriu uma feição neoclássica expressa nas fachadas de seus prédios menores e nos seus sobrados.
Conjunto Neoclássico. Imagem: Mauro Afonso
Conjunto Neoclássico. Imagem: Clara Brito

Conjunto Neoclássico. Imagem: Danton Ferreira 



           O Neoclassicismo foi um movimento cultural nascido na Europa em meados do século XVIII, que teve larga influência na arte e cultura de todo o ocidente até meados do século XIX. Teve como base os ideais do Iluminismo e um renovado interesse pela cultura da Antiguidade clássica, advogando os princípios da moderação, equilíbrio e idealismo como uma reação contra os excessos decorativistas e dramáticos do Barroco e Rococó.(WikipédiA).

        As construções que deram à cidade um status neoclássico traziam em si mensagens implícitas do Iluminismo, como filosofia da razão sobre o obscurantismo e o absolutismo, e tiveram maior expressão no Brasil no movimento da Inconfidência Mineira, na luta pela liberdade e por uma sociedade justa.
Imagem: História Brasileira

        O tempo fez o município expressar nas suas construções a harmonia neoclássica, como se, em silêncio, a sociedade aspirasse esses ideais de justiça com predominância da razão.
Mansão dos Carone e conjunto neoclássico, antes de ser Conservatório, e antes da construção da Caixa Federal.  Imagem: Clara Brito


        O tempo passa e as gerações se sucedem.  Mas há algo em comum nos rio-branquenses que são levados a procurar meios de vida fora do município: o desejo de voltar a passeio ou de mudança e encontrar as feições da imagem de sua cidade, nem que seja naquele centro onde tudo começou ainda no tempo do Presídio: Praça 28 de Setembro.  Data de forte simbolismo porque é a mesma da Lei do Ventre Livre(1871) e do Sexagenário( 1885) .  Essas duas leis dispensariam o 13 de maio de 1888.  Negros nasciam livres depois de 1871; e seus pais se tornariam livres ao completarem 60 anos de idade.  Era só questão de tempo.  Então, aquele centro em torno da Praça ficou impregnado das expressões de liberdade e da razão na arquitetura de seus prédios, um sentimento que ultrapassou gerações, e que ganhou identidade.
Praça 28 de Setembro. Imagem: Danton Ferreira.
Praça 28 de Setembro. Imagem: Paulo Infante Vieira
Praça 28 de Setembro. Imagem: Clara Brito


Praça 28 de Setembro. Imagem:: Clara Brito


Praça 28 de Setembro. Imagem:: Danton Ferreira 

Praça 28 de Setembro. Imagem: Danton Ferreira 

Praça 28 de Setembro. Imagem: Danton Ferreira 

Praça 28 de Setembro. Imagem: Danton Ferreira 

Praça 28 de Setembro. Imagem: Danton Ferreira





        Mas o tempo também consumiu o entendimento dessa cultura. O estresse da luta pelo poder político, ao lado do frisson pela multiplicação rápida do poder econômico criou um clima de destruição de toda a expressão da liberdade sublime pela liberdade da força.  E os poderes constituídos que deveriam estabelecer um equilíbrio entre o desejo do crescimento econômico e a preservação dos valores da liberdade sublime, aliaram-se a um “neo-colonialismo” do massacre da razão pelo que se pode entender como escuridão.
Rua Floriano Peixoto. Local de prédios demolidos

Rua Floriano Peixoto. Local de prédios demolidos. Imagem: Roberto Paula
Rua Floriano Peixoto. Prédios demolidos. Imagem: Isah Baptista




        Tudo poderia coexistir em harmonia, houvesse uma disciplina derivada do planejamento, onde o ímpeto do progresso sensato se aliasse à preservação dos valores elevados do equilíbrio da razão sobre a emoção.

        É claro que há questões a ponderar: o direito de propriedade; a capacidade dos proprietários de imóveis antigos em conservá-los.  Entretanto, o poder público poderia e deveria estabelecer normas para as demolições inevitáveis e preservar o que fosse possível, encampando alguns, fazendo-lhes a manutenção, transformando-os em instituições públicas, como escolas, secretarias, salas de cultura e tanta coisa necessária que falta no município.  Essas normas deveriam determinar que no lugar dos imóveis demolidos pudessem ser erguidos novos, dentro de certos padrões que não agredissem a harmonia de conjunto. E, enquanto vazios, que fossem erguidos muros e fachadas com formas artísticas e alturas semelhantes aos prédios demolidos.  Isto teria que estar contido em um plano diretor, não de um prefeito, ou de uma administração, mas de uma sociedade, para ter perenidade por um tempo razoável que contribuísse para preservação daqueles valores que devem se perpetuar no tempo.  Afinal, o mundo, a vida, não são domínios de uma geração, ou um grupo de ocasião. A evolução sadia está na preservação do que vem de bom do passado, aliado ao útil do presente para ser melhor o futuro.
Praça 28 de Setembro. Imagem Iaci Cacilhas

Praça 28 de Stembro. CM 14/04/2013

Praça 28 de Stembro. CM 14/04/2013
Praça 28 de Setembro. Lote vazio ao lado do antigo prédio da família Ferreira. Imagem: Marcelo Pinto(Facebook)
Esquina de Rua Pres. Antônio Carlos com Praça 28 de Setembro. CM 14/04/2013

Esquina de Rua Pres. Antônio Carlos com Praça 28 de Setembro. CM 14/04/2013


        O neo-colonialismo de hoje não é o domínio de um povo sobre outro.  Seu sentido é metafórico. Na verdade, vem acontecendo o domínio de uma mentalidade eventual sobre uma cultura sedimentada, cristalizada.  “Uma morte cultural”, como disse a Professora Theresinha de Almeida Pinto, diretora de Museu Municipal. E foi quem impediu a transformação do Estádio da Boa Vista Joseph Lambert(o campo do Nacional A.C.) em condomínio fechado. Ela havia feito o seu tombamento e não cedeu às pressões para “destombar”.
Estádio da Boa Vista Joseph Lambert. Imagem: Romilda Aparecida Pereira


(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gemail.com)



         

Um comentário:

  1. Minha família viveu nesta cidade em um casarão na praça na esquina do lado da rua do Divino.O casarão aparece parcialmemte numa foto ao fundo com aparentememte uma menina no canto da janela no andar superior. Acho que era minha mãe. Gostaria de saber se existem mais fotos desse lado da praça. Sou sobrinho neto de Dona Pequita, muito conhecida e viveu nesta cidade até 1976.

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