quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sete de Setembro violento retrata descontentamento popular com a administração pública

         


        Foi preciso muito tempo de erros acumulados pela classe política para o povo se rebelar. 

No Sete de Setembro, quando as autoridades se davam ao respeito, o povo se aglomerava nas avenidas para assistir com orgulho ao desfile das forças armadas e das instituições de ensino. Era verdadeira festa cívica. A multidão ouvia com entusiasmo os discursos dos governantes nos palanques, cheios de membros da equipe de cada mandatário. E a gente comum fazia o possível para ver bem de perto os prefeitos, governadores e presidente da república, cada qual com seu grupo de assessores.  Chegava perto da idolatria aquele assédio popular, que se irradiava no semblante de cada um após presenciar toda a cerimônia.  Famílias se deslocavam de longe. As crianças se fascinavam com os Dragões da Independência, na Capital da República, e com o desfile das unidades militares nas capitais dos estados, e com os Tiros de Guerra, acompanhados dos educandários em cada município.  Trazer bandeirinhas do Brasil para casa simbolizava troféus que ficavam guardados com carinho entre os pertences dos jovens, para orgulho dos pais.

Dia da Pátria!  Quanto significado tinha essa data, principalmente no período entre 1930 e 1964, quando o Brasil viveu de fato um tempo de auto-afirmação, de soberania, de criação dos seus organismos de estado, de contestação e redução da dívida externa através de auditoria própria, de implantação da indústria nacional, quando saímos do “made in Ingland”, ou “made in USA” para a “indústria brasileira”; quando afirmamos a existência do petróleo e que pudemos bradar “O Petróleo é nosso!”; quando vieram a Cia. Siderúrgica Nacional, A Cia. Vale do Rio Doce, a Eletrobrás, a Petrobras, os institutos de aposentadorias e pensões, o voto feminino, o voto secreto, a legislação trabalhista.

A morte de Getúlio faz crescer esse sentimento cívico, prorrogado por mais dez anos. 


Depois de 1964, tudo se inverteu.  Pela força, o patriotismo foi taxado de xenofobia. Os patriotas viraram “comunistas”.  A grande imprensa vendida aos interesses de fora massificou a informação e a deformação de consciências.  Novas de lideranças vieram sendo abortadas pela introdução do tóxico no âmago da juventude, na sutileza dos corredores das escolas. E a política, sob a estratégia dos serviços de inteligência locais, em promiscuidade com os de fora(CIA), abriu espaço para militantes mercenários, que viessem  assumir a imagem dos expurgados pelo regime de força, para praticarem as ações de interesses alienígenas.
Imagem: Diário de Pernambuco


O fim dos Anos de Chumbo abriu esperança no povo e deu credibilidade aos vendilhões travestidos de defensores da moral, da ética e das causas dos trabalhadores.  Alguns desses “vendilhões” saíram dos próprios quadros antes expurgados pelo regime de exceção, como Fernando Henrique Cardoso e José Serra.  Outros foram forjados na bigorna do próprio regime, como Fernando Collor e Lula.

 
Imagem: Copeiros e Honrados.

Imagem: Wikipédia


A extrema direita poupou-se do desgaste ao criar o seu braço esquerdo naqueles que aceitaram usar a máscara de defesa das causas populares.  E nesse vendaval de falsidade do pós-64, tudo se fez contra os interesses nacionais, na venda do patrimônio público construído com sangue suor e lágrimas, como a entrega da Vale do Rio Doce, da CSN, do monopólio do petróleo e todas as riquezas que vêm sendo reveladas no dia a dia a passar para o controle de empresas estrangeiras.  Paralelamente, os trabalhadores, nesse período, ao invés de ganharem direitos, perdem, sofrem arrocho salarial, recebem um quarto de seus direitos e vão sofrendo defasagem nas aposentadorias. 

A educação perde qualidade. O acesso aos cursos superiores é caro.  A concentração de renda acentua a diferença de classes.  Foram necessárias algumas gerações conviverem com esses 49 anos de farsa democrática, para haver um despertar nacional expresso nos movimentos da juventude.
 Imagem: Kiau Notícias

A farsa revelou corrupção como meio de “fazer o governo do possível”, como forma de conquistar governabilidade, como meio de aliciar aliados, e como estratégia para atrair financiadores de campanha.  No jogo do “toma lá dá cá”, o preço é caro para o povo e, consequentemente para o país. O uso desses instrumentos como método de fazer política resultou nas piores estruturas de poder em todas as esferas.  Há mais jogo de negócios nos bastidores do que projetos e ações dos poderes convencionais. Mandatos que resultam em compromissos escusos formam  legislativos destituídos de ética e  executivos envolvidos com transações promíscuas, na mistura de uso de recursos públicos em benefício de interesses privados, fora dos rituais de retidão em licitações e em faturamento de obras.

O país tem renda por habitante que poderia proporcionar uma melhor distribuição em benefício dos trabalhadores, os artífices de toda renda que forma o Produto Interno Bruto. Mas a corrupção reinante concentra mais de três quartos da riqueza produzida nas mãos dos 10% mais ricos da pirâmide social.  Por isto o Brasil está entre os piores do mundo em distribuição de renda.  E detentores de mandatos, nos poderes da União certamente fazem parte desses 10% privilegiados.  Formam as castas inoperantes de costas para a nação que produz.

A explosão de descontentamento popular expressa pela juventude aconteceu quando os gastos perdulários e excessivos vieram à tona, entre tantos outros, com os estádios de futebol.  A comparação com o padrão de vida do povo revelou o tamanho do desmando, ou o mando somente a favor dos envolvidos em corrupção.

O estado de rebeldia está sedimentado, porque o estado brasileiro se encontra podre, desmoralizado, sem credibilidade.  Um poder executivo que executa mal; um legislativo que legisla em causa própria; e um judiciário que não faz justiça.  Nada se pode esperar de harmonioso dessa orquestra onde cada um toca pra si.  Os sons dessa furiosa fazem doer os ouvidos do povo.  E os jovens são mais sensíveis, porque estão cansados de ver seus pais e avós passarem as dificuldades que eles mesmos passarão no futuro se esses músicos e essas partituras não forem mudadas. 
 
Imagem: Outro Olhar Amargo 

A violência contra os manifestantes somente agrava o estado de ânimo.  E faz soar mais alto a desarmonia reinante.  A queda na popularidade da presidente de mais de 60% para próximo de 30% recai sobre todos os poderes. Ela é o expoente dos desmandos e imagem dos três poderes.  Tentativas de reformas agora, em vésperas de eleições, nada mudarão nessa imagem, que é fato consumado e cristalizado.  O Brasil vai precisar de novas lideranças, com valores positivos, para estabelecer outro elenco de regras político-administrativas.  Não bastará serem novas as lideranças: terão que vir de rosto limpo, sem máscaras, com olhos que se possam encarar, e imbuídas de compromissos claros, críveis, transparentes.  “Ninguém consegue enganar a todos por todo o tempo”( Abraham Lincoln)



Enquanto o quadro político for esse, com essas regras, com essas ligações promíscuas, não haverá um Sete de Setembro como antes.  Se os quadros governantes agem como se não houvesse Pátria, não tem como haver o “Dia da Pátria”.
Imagem: News Rondônia 



(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)         

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